Atuais bases militares americanas na America Latina

Embaixador americano propôs complexo na fronteira com a Venezuela

Bogotá

AFP E REUTERS Via Estado de São Paulo

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, admitiu ontem a possibilidade de que os EUA instalem uma base militar no país, embora tenha negado que haja planos nesse sentido ou que a base seria instalada na fronteira com a Venezuela. “Faremos tudo o que pudermos para fortalecer a ajuda dos EUA para derrotar o narcotráfico”, disse Uribe, em entrevista à rádio RCN. “Não falamos sobre uma base militar, mas de buscar fortalecer essa cooperação.”

Na semana passada, o embaixador americano na Colômbia, William Brownfield, sugeriu a possibilidade de que a base militar dos EUA na região, atualmente na costa do Equador, fosse transferida para o departamento colombiano de La Guajira, na fronteira com a Venezuela. A sugestão foi duramente criticada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Uribe negou a informação de que a base seria instalada na fronteira com a Venezuela. “A Colômbia, em suas decisões sobre cooperação internacional, sempre foi cuidadosa e nunca assumiu posições que desafiassem outros países. Nada que a Colômbia faça, com apoio dos EUA, para derrotar o terrorismo desafiará nossos vizinhos.”

Washington vem enfrentando dificuldades em manter sua base em Manta, no Equador, por causa de desentendimentos com o presidente Rafael Correa - que já disse que a concessão não será renovada. Militares afirmaram à Reuters que há a possibilidade de a base ser transferida para Tumaco, o segundo maior porto da Colômbia no Pacífico. A mudança facilitaria o combate ao tráfico de cocaína, que vem do sul do país.

Os EUA são o principal aliado da Colômbia na luta contra o narcotráfico e os grupos armados ilegais, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que usam o tráfico de drogas para financiar suas ações. Em 2000, o Congresso dos EUA aprovou o Plano Colômbia - tratado bilateral para combater o narcotráfico. Desde então, Washington forneceu mais de US$ 5 bilhões em treinamento militar e assistência técnica para a Colômbia.

Autoridades colombianas buscam os responsáveis pelo desaparecimento de computadores de 14 ex-chefes paramilitares, extraditados no dia 13 para os EUA sob acusação de narcotráfico. Segundo Bogotá, 12 computadores já foram encontrados. Faltam os de Salvatore Mancuso, chefe das Autodefesas Unidas da Colômbia, e Ramiro Vanoy. Os computadores foram retirados das prisões em que eles estavam detidos para ser consertados, mas sumiram.

ACORDO


Na Cidade do Panamá, representantes militares de Colômbia e Equador concordaram em reativar uma cartilha que estabelece procedimentos de segurança fronteiriça. O objetivo é reduzir a tensão e evitar incursões além-fronteira, com vistas a um reatamento diplomático. As relações diplomáticas bilaterais foram rompidas em março, após um ataque colombiano a um acampamento das Farc no Equador.

Colômbia rejeita órgão de defesa para América do Sul

da Folha de S.Paulo, em Caracas

Às vésperas de ir a Brasília para participar da cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), o presidente colombiano, Álvaro Uribe, disse ontem que seu país não aderirá à proposta brasileira para a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa. O anúncio contradiz o ministro Nelson Jobim (Defesa), para quem já havia consenso sobre o tema.

"A Colômbia tem de deixar seus pontos de vista claros, e não é o momento para que a Colômbia participe desse escritório de segurança", disse Uribe pela manhã à rádio "RCN".

O colombiano alegou que a região já conta com a OEA (Organização dos Estados Americanos) e aludiu às divergências com países vizinhos, entre os quais o Brasil e a Venezuela, em torno da classificação de grupos armados ilegais como "terroristas", principalmente as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

"Temos esse problema do terrorismo, que nos faz ser muito cuidadosos na tomada dessas decisões", afirmou.

O Brasil historicamente não mantém uma lista de organizações terroristas e resiste às pressões da Colômbia para classificar as Farc como tal. Já Hugo Chávez tem defendido dar um status de "beligerância" à guerrilha de esquerda. O colombiano disse ainda que já havia informado a Jobim que não entraria no conselho durante a visita do brasileiro a Bogotá, em abril. Segundo ele, a mesma negativa foi expressada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula de Lima, na semana passada.

No entanto, Jobim afirmou, na segunda-feira, na Bolívia, que havia "uniformidade sobre a criação" do conselho durante a cúpula da Unasul, marcada para amanhã. O ministro, que nas últimas semanas visitou todos os países da região em busca de apoio, admitiu apenas que "uns [países] estão mais entusiasmados e outros, menos".

A resistência de Uribe esvazia a proposta de Lula, lançada em meio à crise diplomática de Bogotá com Quito e Caracas depois que um bombardeio colombiano em território equatoriano matou o então número dois das Farc, Raúl Reyes, em março. A idéia é que o conselho melhore a cooperação na área de defesa, mas sem estrutura operacional, como é a Otan.

Segundo a Folha apurou, Lula não gostou da desistência de Uribe, mas disse a assessores que a ausência de só um país não inviabilizará a iniciativa.

Horas depois da entrevista de Uribe, Hugo Chávez acusou o colega colombiano de ser "lacaio do império". "Uribe diz que prefere a OEA, mas já sabemos o porquê, mas respeitamos o seu direito. (...) Lá estão os que querem continuar sendo lacaios indignos do império americano. Nós estamos dispostos a ser livres, soberanos e dignos", disse, em cadeia nacional obrigatória de rádio e TV.

As relações entre Chávez e Uribe pioraram na semana passada, quando relatório da Interpol (polícia internacional) descartou adulterações em documentos encontrados nos computadores de Reyes segundo os quais há forte colaboração da Venezuela com as Farc.

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Sobre a Base Americana no Paraguai:

Base Militar dos EUA no Paraguai

A foto nos mostra a pista do Aeroporto de Estigarríbia, no meio do deserto Paraguaio. Construída por técnicos dos EUA, com 3.800 metros de comprimento e 80 de largura — o dobro da pista de Assunção — e em perfeitas condições de uso. Os especialistas asseguram que é tão sólida e ampla que pode receber aviões de grande envergadura , como bombardeiros e de transporte de tropas e material militar de grande peso (B-52, C-130 Hércules, C-5 Galaxy y KC 135, entre outros). Mas é totalmente superdimensionada para as necessidades da Força Aérea paraguaia, que opera com apenas 8 aviões Xavante e Pillán de médio porte, e oito avionetas Cessna de treinamento. Esta base conta com um enorme radar — hoje inativo — para controle do tráfego aéreo, sistemas de aterrissagem noturna, bombas de reabastecimento de combustível e amplos hangares. As suspeitas de que os EUA estariam para instalar aí uma base militar se acenderam quando o Congresso paraguaio aprovou uma lei (26/05/2005) que concedia imunidade a tropas dos EUA em território paraguaio, além de autorizar a entrada de 400 soldados norte-americanos para "exercícios de treinamento e doutrinamento em temas de segurança e defesa". E esta autorização nunca foi tão extensa - por 18 meses, prorrogáveis.

Esta pista descomunal no meio deserto está a 200 km da fronteira com a Bolívia e outro tanto da Tríplice Fronteira, além de se assentar sobre o Aqüífero Guarani. Opinião de Horacio Galeano Perrone, ex-ministro e assessor da Defesa: Estigarríbia é ideal porque é operacional o ano inteiro, mas não creio que EUA queira estabelecer agora uma base. Necessitam de seus soldados em outras zonas do mundo. Aqui, lhes bastaría usar a infraestrutura paraguaia e creio ser apenas esse seu interesse. Mas estou convencido de que a presença estadounidense se ampliará".