O Oitavo mês do ano. Nos países latinos é o mês das desgraças e das infelicidades.

Agosto, desgosto. Pereira da Costa (Folclore Pernambucano, 116): "Agosto é um mês aziago, é um mês de desgostos; e é de mau agouro para casamentos, mudanças de casa e empreendimentos de qualquer negócio de importância".

Rafael Jijena Sanchez anota, nas tradições orais argentinas "No lavarse la cabeza en el mes de agosto porque se llama la muerte" (Las Supersticiones, 142, Buenos Aires, 1939).

Leonardo Mota (Violeiros do Norte, São Paulo, 1925, 221-222): "Agosto é o mês desmancha-prazeres da humanidade. A sua primeira segunda-feira é o famigerado dia aziago do ano inteiro. A maior hecatombe dos tempos modernos, essa pavorosa conflagração européia, que ainda convulsiona vários povos, rebentou precisamente a 1º de agosto de 1914, o que fez com que a musa traquinas dos Pingos e Respingos do Correio da Manhã, do Rio, divulgasse a canção que se popularizou na música da modinha Santos Dumont e começava:

Mês terrível, funesto mês de agosto
Mes de desgostos, mês trágico e fatal:
Soou pelo espaço o trom de guerra,
Corre na terra sangue em caudal!

Pobre mês dos lindos luares sugestivos! O Livro da Bruxa dá-lhe, não um, mas vinte e três dias encaiporados..."

O dia mais aziago do ano é 24 de agosto, dia de São Bartolomeu, quando o diabo se solta do inferno. Pereira da Costa (Folclore Pernambucano): "O diabo aparece furtivamente, iludindo a vigilância dos arcanjos, que o trazem sob as suas vistas, armados de flamejantes espadas; mas, no dia de São Bartolomeu, a 24 de agosto, solta-se licenciadamente, e fica em plena liberdade. Por isso é prudente a gente prevenir-se para não cair nas suas ciladas(...) Agosto é um mês aziago, é um mês de desgostos; e é de mau agouro para casamentos, mudança de casas e o empreendimento de qualquer negócio de importância."


A primeira sexta-feira de agosto é dia perigoso para negócio e viagem. João Alfredo de Freitas: "Há uns dias durante o ano, a que chamam aziagos, que trazem sempre um desastre para os bpobres viventes. É nesses dias que se soltam as almas. Elas, as prisioneiras que passam a vida tristonha e macambúzia, sentem o maior dos prazeres, em verem-se livres um momento. Um milhão de idéias invadem-lhe o crânio e, então, quantas pilhérias não imaginam fazer aos habitantes do nosso planeta, que as temem em excesso?".

"Em dia de São Bartolomeu tem o demo uma hora de seu." (Jaime Lopes Dias, Etnografia da Beira, v. III, 158, Lisboa, 1929).

Do poeta popular Leandro Gomes de Barros, contando a história do Boi Misterioso:

"A 24 de agosto,
Data esta receosa
Por ser a em que o diabo pode
Soltar-se e dar uma prosa,
Se deu o famoso parto
Da vaca misteriosa"

Leonardo Mota (Violeiros do Norte): "Escreveu o Barão de Studart, num rol de superstições cearenses: "Não se deve empreender viagem, dia de São Bartolomeu (24 de agosto) porque nesse dia o diabo anda solto". Pois bem: os irmãos Branesse, fugitivos da Penitenciária de Fortaleza e que, aliás, eram dados a superstições, porquanto os seus cadáveres foram encontrados com patuás, empreenderam nesse dia a viagem... da Eternidade, em fatal encontro com o destacamento do capitão Bezerra de Maria. Foi isso exatamente no dia 24 de agosto, isto é, sexta-feira da semana passada, o tal dia de São Bartolomeu, em que não se deve empreender viagem. Essa superstição sobre o 24 de agosto é comum em todo o nordeste."

(Baseado em CASCUDO, Luís da Câmara, Dicionário do folclore brasileiro e MOTA, Leonardo, Violeiros do norte) - Fonte: Site Jangada do Brasil