Menos um patrulha nos mares e atraso de três anos na entrega de novos patrulhas oceânicos

Madeira à espera de ver navios

Fonte: Jornal da Madeira
A Marinha de Guerra Portuguesa conta agora com os últimos três navios-patrulha da classe "Cacine". Depois da o "NRP Save" ter sido abatido ao efectivo da Armada, restam o "NRP Zaire", o "NRP Cuanza" e o "NRP Cacine". Curiosamente, o primeiro dos dez dessa classe construídos na sua maioria nos anos 70. De resto, a Madeira continua à espera da renovação da frota, já atrasada três anos. Enquanto as missões se cumprem com muito esforço.
A entrada ao serviço das duas novas fragatas da denominada classe "Bartolomeu Dias" - uma este ano e outra em 2010 - constitui um momento importante no programa de equipamento da esquadra para a continuidade da missão da Marinha.
Apesar de ter sido entregue simbolicamente na passada sexta-feira na Holanda, com o hastear da Bandeira Nacional, a primeira das duas fragatas só chega às nossas águas no próximo mês de Maio, por altura das comemorações do Dia da Marinha, que se assinala a 20 desse mês.

Pompa e circunstância à parte, o que é um facto é que a frota actual continua a envelhecer e desde já estão ao serviço apenas três navios da classe Cacine, curiosamente o mais antigo, que chegou na passada semana ao Funchal para mais uma comissão, o "NRP Zaire", que esteve nas nossas águas durante os últimos dois meses e meio e o "NRP Cuanza", que tem feito, com os outros dois, as missões na Madeira.

Se é verdade que a última vez que o "NRP Save" esteve na Zona Económica Exclusiva da Madeira foi entre Agosto e Outubro de 2006, também não é menos verdade que nesse ano as comissões também se faziam com o balizador “Schultz Xavier”, estando cinco navios a fazer o apoio a este Comando de Zona Marítima e ainda apoiados, durante o Verão, por uma lancha costeira, o que aconteceu pela última vez em 2006.

O balizador está agora a desempenhar funções no apoio aos mergulhadores da Armada.

Por seu lado, apesar de não vir para a Madeira, o "NRP Save" esteve a desempenhar as suas missões na Zona Marítima do Norte, o que deixou de acontecer agora, significando que o patrulhamento e missões de busca e salvamento das duas Zonas ficam atribuídas a três navios.
O que se espera, agora, é que nada aconteça a nenhum deles, até porque o que sucedeu a todos os outros navios vai, invariavelmente ser realidade para estes, mais cedo ou mais tarde.
Enquanto isso, no outro lado da balança, está projectado um dispositivo naval capaz de fazer inveja a muitas Armadas, mas que até agora pouco tem passado do papel.


Navios no papel são obras em curso

Por um lado, a novela dos Navios Patrulhas Oceânicos parece não ter fim e oito dos dez projectados novos navios da Armada ainda não passaram da fase de projecto. Não obstante, o estaleiro assume que se na página electrónica aparecem todos como estando "em curso" é porque pode estar na fase de projecto. Só que, neste momento, a entrega dos dois primeiros navios, que chegou a estar marcada para 2006, continua sem data marcada.
Os mesmos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, que estiveram envolvidos no processo de construção do "ferry boat" Lobo Marinho e que até agora mantêm um diferendo judicial com a Porto Santo Line por incumprimentos relativos à construção do navio, parecem os menos preocupados em todo este processo. O contrato, assinado em Outubro de 2002 pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, previa a entrada ao serviço dos primeiros NPOs há três anos, mas o silêncio tanto dos estaleiros, como do Ministério da Defesa, só se quebra com uma frase tornada pública na última semana pela agência Lusa: "os ENVC e a Marinha estão a reajustar o planeamento da calendarização da entrega dos NPO", sem avançar quaisquer datas ou pormenores adicionais, quebrados que estão os prazos de finais de 2008 e inícios de 2009 já anunciados anteriormente.


Na água há três anos

O Ministério da Defesa e os ENVC escusaram-se a revelar as causas deste atraso, mas uma fonte da empresa apontou "alguma dificuldade" de adaptação à construção naval militar e as "exigências" da Marinha, com "várias alterações" ao projecto.
Entretanto, a estrutura base de ambos os navios está já construída e passou os últimos três anos na água, à espera de luz verde para conclusão dos trabalhos, para entrega à Marinha.
Com outros contratos entretanto assinados, os Estaleiros têm na sua carteira de encomendas dez NPO, entre eles dois especialmente preparados para o combate à poluição.
A Marinha encomendou também cinco lanchas de fiscalização costeira, para substituir os navios-patrulha da classe "Cacine", mas até agora tudo tem sido atrasado sem que se vejam os cascos na água tão cedo.
Até que isso aconteça, as corvetas, que também estão a envelhecer, vão continuar a fazer umas "milhas" nas águas territoriais da Madeira, de vez em quando, como aconteceu neste último fim-de-semana com a vinda ao Funchal da "João Roby".
Este exemplo será seguido por outros navios com as mesmas características, sempre que a Armada possa cumprir a sua missão de "show the flag", ou seja, mostrar aos navios em trânsito que temos meios de vigiar as nossas águas. Até quando, porém, é uma pergunta que fica sem resposta.