Namíbia e Brasil apostam na cooperação militar e comercial


Investimentos nas pescas e agricultura e reforço na formação da Marinha namibiana estiveram no centro das conversações durante a visita de Hifikepunye Pohamba a Brasília.

Alfredo Prado, Brasília, da revista África 21 *

Desenvolvimento de programas de formação e investimentos nos sectores das pescas e agricultura e o prosseguimento do apoio brasileiro à formação da Marinha nacional constituem os principais elos da cooperação entre os Governos da Namíbia e do Brasil, discutidos durante a visita a Brasília do Presidente namibiano Hifikepunye Pohamba, a 11 de Fevereiro.

Os dois países têm mantido estreitas relações, praticamente desde a independência namibiana. A posição geográfica da Namíbia, no Sul do continente, banhada pelo Atlântico Sul, a par de alguns minerais estratégicos em que o país é rico, como o urânio, e as «competências» tecnológicas brasileiras em várias áreas, desde a agricultura à construção naval, contribuem para o interesse mútuo em reforçar a cooperação.

Durante o almoço oferecido pelo Presidente brasileiro no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, Pohamba, além de realçar as relações de amizade entre Windhoek e Brasília, referiu a crise financeira e económica mundial. Na ocasião, o Presidente Hifikepunye Pohamba pediu «a remoção dos subsídios agrícolas que tornam o comércio injusto» e afirmou que a queda da disponibilidade de investimentos, assim como da procura por produtos dos países em desenvolvimento, em função da crise, é um «desafio» para todos.

A crise financeira e económica mundial foi o cenário das conversações. Na avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva, apenas uma reforma no comércio mundial não será suficiente para solucionar a crise. «Não basta reformar a regras do comércio internacional. Precisamos buscar um sistema de governança global mais democrático. Os processos decisórios não podem ficar concentrados nas mãos de poucos, ignorando-se as aspirações dos países em desenvolvimento e das grandes economias emergentes», afirmou. Foi também uma oportunidade para o Presidente brasileiro destacar que o seu Governo elegeu a África como prioridade e que, desde o seu primeiro mandato, visitou vinte países em nove viagens ao continente.

Segundo declarações à imprensa do embaixador da Namíbia no Brasil, Hopelong Ipinge, o seu país quer ampliar os laços económicos, comerciais e culturais com o Governo brasileiro. «A cooperação entre o Brasil e a Namíbia está crescendo. Queremos desenvolver possibilidades económicas, comerciais e de investimentos em turismo», disse o diplomata. O embaixador destacou também as áreas de cooperação cultural e militar como tendo grande potencial.

O estreitamento das relações bilaterais esteve no centro das conversações entre Hifikepunye Pohamba e Lula da Silva, quando o líder namibiano visitou Brasília, em meados de Fevereiro, acompanhado, entre outros, dos ministros das Relações Exteriores, da Defesa e da Indústria e Comércio.

Desde 2003, os dois países têm procurado intensificar o relacionamento comercial e político. O Presidente Lula visitou Windhoek em 2003; o então presidente da Namíbia, Sam Nujoma, esteve no Brasil em 2004; e o vice-presidente José Alencar chefiou a delegação brasileira às cerimónias de posse do Presidente Hifikepunye Pohamba, em Março de 2005.

A visita ao Brasil de Hifikepunye Pohamba decorreu cerca de um mês depois da cerimónia oficial de entrega à Marinha namibiana da corveta Brendan Simbwaye, baptizada em homenagem a um dos combatentes da luta de libertação nacional na Namíbia, e que foi construída nos estaleiros da Inace, empresa privada brasileira, no estado do Ceará.

Além da corveta, cuja construção se prolongou por cerca de quatro anos, por exigência de faseamento do orçamento namibiano, o Inace vai construir duas lanchas, que deverão ser entregues em 2010, com um investimento total da Namíbia em torno de 24 milhões de dólares (18,6 milhões de euros). A cooperação militar entre os dois países começou em 1994 e já formou 466 efectivos namibianos. Em 2001, foi assinado um acordo de cooperação naval entre os dois países, prevendo a orientação brasileira na organização de um serviço de patrulha marítima, o fornecimento de embarcações e o desenvolvimento de infra-estrutura marítima para atracação naquele país africano. Está prevista também a criação de um grupo de apoio dos Fuzileiros Navais brasileiros para formar o primeiro Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais da Namíbia.

* Artigo publicado na edição de Março da revista África 21.


Brendan Simbwaye parte para a Namíbia

Segurança & Defesa

O Navio-Patrulha Brendan Simbwaye (P-11) partiu hoje, às 16h, do estaleiro INACE, em Fortaleza-CE, com destino ao Porto de Walvis Bay, na Namíbia, após ser aprovado pela Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento, composta por Oficiais da Marinha do Brasil. Acompanhado por um Navio brasileiro, a Corveta “CABOCLO”, o P-11 atravessará o Oceano Atlântico em sua primeira viagem, fazendo escalas no Arquipélago de Fernando de Noronha, Ilha de Ascenção e Ilha de Santa Helena, antes de chegar ao Porto de Walvis Bay na Namíbia, no dia 21 de abril.

O navio foi incorporado a Marinha da Namíbia no dia 16 de janeiro de 2009, em cerimônia, no estaleiro INACE, onde foi construído, com a presença de altas autoridades de ambos os países, estreitando ainda mais as relações entre os Governos do Brasil e da Namíbia. Essa iniciativa de sucesso, além de gerar empregos, fomentar a cadeia produtiva e desenvolver a tecnologia militar-naval no Brasil, abre perspectivas para a exportação de outros navios de guerra, o que contribuirá para a expansão da indústria de defesa no País.

O Navio exportado é armado com canhão e metralhadoras, possui comprimento de 46,5 metros e desenvolve velocidade de 27 nós, e será empregado na vigilância e defesa da costa namibiana. O projeto foi gerenciado pela EMGEPRON, empresa pública vinculada à Marinha do Brasil, que responsabilizou-se também pela garantia da qualidade da embarcação, pela instalação do armamento e pelo apoio logístico à Marinha da Namíbia.

A intensa participação de Oficiais e Praças da MB nos Programas de Adestramento, no porto e no mar, contribuíram sobremaneira para aprimorar, agora na prática, os conhecimentos ensinados aos namibianos, durante os cursos de formação também realizados pela Marinha do Brasil.