Americano critica os conterrâneos que controlam aeroporto

Fonte: Vicente Seda (iG) - Foto: AFP - Aviation News

As críticas, desta vez, são de um americano. Os Estados Unidos controlam o aeroporto do Haiti, com uma capacidade muito aquém da necessidade para receber o número de aeronaves com suporte, medicamentos, aparatos e todo o tipo de ajuda para os atingidos pelo terremoto que arrasou Porto Príncipe na última terça-feira.

Doug Copp, americano que chegou à base brasileira com credenciais da equipe do governo peruano, estava revoltado. Com uma grávida em sua caminhonete, clamando por uma ajuda que demorou a chegar por conta da recusa dos conterrâneos que controlam o aeroporto em receber o avião com toneladas de medicamentos do Peru, ele disparou contra o próprio país.

Doug Copp contou ser sobrevivente do atentado terrorista em Nova York, em 11 de setembro de 2001. Disse ter atuado em resgate em mais de 100 situações de desastre, considerando a pior o episódio em El Salvador em 1991, com as enchentes em função do furacão Ida.

"Eram remédios para impedir as pessoas de morrerem. Circularam por quatro horas e tiveram de voltar para Santo Domingo, na República Dominicana. Nos mandaram de volta alegando que estava lotado e não tinha como estacionar e descarregar o avião. Mas metade das baias estavam vagas. Tiramos fotos, eles mentiram. A ONU estava lá e os militares americanos os chutaram. Não houve transição. Estamos dirigindo com quatro pessoas que resgatamos, incluindo uma grávida.

Fomos em quatro hospitais e nenhum deles tinha os remédios, porque os americanos mandaram o avião de volta", explicou, mostrando as credenciais concedidas pelo governo peruano.

"Fui uma das quatro pessoas que desceu quatro vezes às galerias subterrâneas alagadas do World Trade Center e fui para o Canadá para ficar vivo. Recebi alguns milhares de dólares para tratamento e agora eles impedem um avião de medicamentos de pousar? Tivemos de voltar e, em vez de toneladas, conseguimos trazer 150 quilos em um ônibus.

Alguém ferrou tudo, não houve transição. Você não para um avião com medicamentos", contou, acrescentando que a grávida foi encontrada por um membro da equipe, sem se recordar aonde.

Copp participa de diversas equipes de resgate pelo mundo. Em uma de suas últimas missões, Doug ajudou a formar uma equipe para buscar o estudante brasileiro Gabriel Buchmann, que se perdeu em uma montanha africana.

"Consegui membros de equipes para ir lá atrás dele, a família me contactou. Eu não podia ir de avião", afirmou Copp (o corpo do estudante foi encontrado 19 dias após ele ter desaparecido em julho de 2009). Copp, que hoje mora no Canadá, afirma não poder andar de avião devido a um edema cerebral e aos efeitos do enxofre e outra substâncias em seu organsmi após as missões que enfrentou.

"A minha mulher não queria que eu viesse, mas compreendeu. Agora, para fazerem isso? É a quarta vez que os americanos fazem isso em um desastre. Em 1989, em São Francisco, onde também houve um terremoto, eles tiraram todo mundo que estava trabalhando no resgate porque o presidente estava vindo. E deixaram as pessoas lá. Qualquer um que impeça um resgate deveria ir para a prisão", disse Doug.

Doug participa de diversas equipes de resgate pelo mundo e o trabalho pode ser acompanhado no site: http://www.amerrescue.org/.