O FBI (polícia federal dos EUA) prendeu ontem Pedro Leonardo Mascheroni, de 75 anos, físico argentino naturalizado americano, e sua mulher, Marjorie Roxby Mascheroni, de 67 anos. O casal é acusado de tentar vender informações nucleares secretas para a Venezuela. Nos anos 80, ambos trabalharam para o Laboratório Nacional de Los Alamos, berço do programa atômico americano e tinham acesso a segredos nucleares do país.

Mascheroni e a mulher foram indiciados por 22 crimes, entre eles o de passar informações sobre o desenvolvimento de armas nucleares para um suposto emissário do governo venezuelano que, na verdade, era um agente do FBI disfarçado. O físico será ouvido pela Justiça na segunda-feira. Sua mulher foi liberada, mas sob estritas condições. Se condenados, ambos podem ser sentenciados a prisão perpétua.

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Físico nuclear Pedro Leonardo Mascheroni em Los Alamos 2009. AP Photo/Heather Clark - Um Agente do FBI se faz passar por funcionário venezuelano interessado em comprar segredos atômicos dos EUA e prende em flagrante físicos do Laboratório Nacional de Los Alamos, uma das instalações de desenvolvimento de armas mais sensíveis do país

Segundo os investigadores, Mascheroni disse ao agente disfarçado que poderia ajudar a Venezuela a conseguir uma bomba nuclear em dez anos. De acordo com seu programa atômico, os venezuelanos desenvolveriam uma reator subterrâneo secreto para enriquecer plutônio e outro, na superfície, para produzir energia nuclear. O Departamento de Justiça dos EUA, no entanto, disse que não há nenhuma ligação da Venezuela ou de qualquer pessoa trabalhando para Caracas com o episódio.

Segundo o FBI, em março de 2008, Mascheroni entrou em contato com um policial, que se apresentou como enviado do presidente Hugo Chávez. Os dois começaram a se corresponder por e-mail e o físico adotou o pseudônimo "Luke" - o nome do agente não foi divulgado.

Mascheroni é acusado de ter deixado, em novembro de 2008, um relatório de 132 páginas com o esboço de um programa nuclear para a Venezuela. O físico teria pedido cidadania venezuelana e dito que as informações valiam "milhões de dólares", mas que cobraria a bagatela de US$ 793 mil pelo documento.

Em junho do ano passado, o agente do FBI lhe entregou uma lista com supostas perguntas do governo venezuelano e US$ 20 mil, que seriam um adiantamento. Mascheroni entregou as resposta no mês seguinte em um documento de 39 páginas. Ele teria escrito que as informações eram secretas e fundamentadas no conhecimento adquirido por ele nos anos em que trabalhou em Los Alamos.

Em outubro, com toda essa documentação em mãos, o FBI obteve um mandado de busca e apreensão e confiscou documentos, computadores, cartas, fotografias e celulares na casa do físico. Os agentes interrogaram o casal, que teria dado declarações contraditórias. À imprensa, Mascheroni negou que tenha tentado vender sigilos nucleares. "Nada do que disse a ele (o agente do FBI) é secreto", afirmou. "Todas as informações podem ser encontradas no Google."

Fonte: Estadão