Poucas pessoas conhecem o ambiente de segurança do Extremo Norte como o deputado estónio Tarmo Kouts. Jovem oficial na Marinha Mercante soviética, nos anos 1970, ele transportava madeira através do mar de Kara e do mar de Barents para a Europa. Depois de a Estónia se ter tornado independente, Kouts ajudou a construir as suas Forças Armadas, alcançando a patente de vice-almirante, antes de entrar para a política. Em 2007, acompanhou atentamente relatórios de um submarino russo que sinalizou titânio no fundo do mar, por baixo do Pólo Norte.

Uma amostra do que está para vir? Um finlandês ataca um urso. Gravura de Pye, 1798-1799
À medida que o mundo se torna maior e a corrida aos recursos submersos pelo Ártico se intensifica, os países mais a Norte da Europa estabelecem uma causa comum..

"Essa operação foi um sinal dos russos e dzia: 'Estamos cá. Somos os primeiros e isto pertence-nos.' Estamos a falar do Oceano Ártico e eles têm uma capacidade naval muito significativa em Murmansk e em muitos outros pontos das águas árticas.”

Apesar de não ser de um dos chamados países nórdicos – Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia –, Kouts apoia uma iniciativa tomada por esses cinco Estados, de união em resposta ao derretimento das calotes polares e à corrida que se prepara aos novos recursos minerais e às rotas de comércio.

O pacto nórdico foi debatido pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros, numa reunião havida em novembro em Reiquiavique, e deve ser de novo discutida em Helsínquia, em abril.

O seu modelo é o Relatório Stoltenberg, uma lista de propostas elaborada em 2009 por Thorvald Stoltenberg, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da Noruega e pai do atual primeiro-ministro. O relatório sugere, entre outras medidas, a criação de um grupo de trabalho civil e militar para regiões instáveis; uma unidade anfíbia comum; uma unidade de resposta a catástrofes; uma força de resposta marítima ao nível da guarda costeira; sistemas comuns de ciberdefesa; fiscalização conjunta aérea, marítima e por satélite; cooperação na administração do Ártico; e uma unidade de investigação de crimes de guerra.

Propõe igualmente uma associação dos serviços consulares em lugares onde os cinco países não têm missões e acrescenta, fazendo eco do artigo 5º da NATO de um por todos e todos por um, que: " Os países poderão esclarecer em termos vinculativos como responderiam se um país nórdico for sujeito a um ataque externo ou a pressões indevidas”.

Cooperar para evitar degradação dos nossos sistemas de defesa

Stoltenberg diz que o seu plano é uma reação a mudanças geopolíticas de grandes proporções. "Hoje, não podemos enfrentar sozinhos as necessidades de busca e salvamento no Ártico. Na frente militar, o preço da alta tecnologia sobe tão rapidamente que, ou cooperamos, ou assistimos à degradação dos nossos sistemas de defesa. Se não cooperarmos, dentro de 20 anos talvez tenhamos apenas quatro países na Europa com sistemas de defesa dignos de crédito – Rússia, Alemanha, França e Grã-Bretanha."

Para ele, uma aliança nórdica é "natural": "É uma questão de geografia, cultura, valores. Falamos a mesma língua. Sentimo-nos mais próximos uns dos outros que a maioria dos outros povos. Existe já uma cooperação muito boa entre serviços de segurança nos países nórdicos”. Stoltenberg salienta que, apesar de a Finlândia e a Suécia não serem membros da NATO, existe uma solidariedade desse tipo entre os cinco países, a nível tácito.

O plano de Stoltenberg espelha igualmente os desenvolvimentos que ocorrem a nível da União Europeia. Desde que foi lançado, em 1 de dezembro, o Serviço Europeu para a Ação Externa tenta coordenar melhor a política externa da UE. A Comissão Europeia, num relatório a publicar em 2011, intitulado “Relatório de Cidadania", sublinha que os consulados de Estados-membros têm o dever de ajudar cidadãos da UE cujo país não tenha nenhuma missão no local, e apela a uma “partilha do fardo” consular em situações de crise. A Polónia pretende, na sua presidência da UE, em 2011, acionar uma cláusula do Tratado de Lisboa sobre cooperação de defesa. Em 19 de janeiro, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, vai ser o anfitrião de uma reunião dos líderes dos Estados bálticos e nórdicos, com vista a debater questões relativas ao Extremo Norte.

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Alexander Stubb, acredita que um projeto do tipo do de Stoltenberg poderia abrir caminho a novas estruturas de defesa na UE. Acrescenta que não há nenhuma "corrida ao ouro” no Ártico “neste momento" e que não existe total consonância nórdica: "Em relação às questões políticas da UE, as nossas prioridades variam, como se vê diariamente em Bruxelas. Não existe um bloco nórdico na UE… Trocamos ideias e informações, mas não pensamos necessariamente sempre do mesmo modo”.

Este artigo apareceu pela primeira vez na revista eletrónica do Conselho Nórdico/Conselho Nórdico de Ministros, Analys Norden. - Via: Press Europ