O dia 26 de junho foi consagrado como o Dia da Busca e Resgate para lembrar de uma épica missão que encontrou cinco sobreviventes depois de um acidente com a aeronave FAB 2068. Entretanto, a primeira missão da história desse gênero que se tem notícia ocorreu no ano de 1947, sem que houvesse um sistema integrado, que passaria a se consolidar a partir daquele momento.

Militares constataram que uma aeronave que fazia uma linha do Correio Aéreo Nacional estaria desaparecida entre Belém e Santarém. Uma aeronave CA-10 Catalina foi acionada para decolar e buscar o avião.
Um dos homens que participou do controle da missão foi Aloysio Accioly de Senna. “Foi inesquecível porque era a primeira de todas as missões. Infelizmente, não havia sobreviventes, mas diante daquela realidade era urgente formar um grupo para essa finalidade”.

O Tenente Coronel Senna é controlador de tráfego aéreo e tem hoje 87 anos. Ele lembra da conversa entre os pilotos que descobriram quase por intuição a localização da aeronave. “Em um momento, o comandante decidiu desviar 10 graus da rota. Não sabemos explicar, mas o fato é que o avião foi encontrado. Teve, sim, um elemento de sexto sentido ”, relembra. A partir daquele momento, foram feitas as ações para que fosse formado na cidade de Belém o Primeiro Centro de Coordenação de Busca e Salvamento no Brasil.

“Foi, sem dúvida, o fato que propiciou que a FAB alocasse uma aeronave para essa finalidade, a busca e resgate”, garante. A primeira aeronave para busca e resgate seria um Catalina, já pintado com as cores que celebrariam o SAR. “Nas bordas da asa, a pintura laranja e uma faixa retangular com a inscrição SAR-Belém. Lembro-me da inscrição e da matrícula da primeira aeronave, era um PBY 5A 6516. As autoridades, na época, entenderam que era a chance de formar um grupo exclusivo para isso”.

O esquadrão exclusivo para salvamento seria formado na década seguinte, o 2º/10º GAV, o Pelicano. Entretanto, todos os esquadrões da Força Aérea podem ser alocados para a missão, porque contam com profissionais especializados. Salvamento é vocabulário corrente no dia-a-dia de militares da Força Aérea Brasileira. Todas as unidades aéreas podem ser empregadas para participar de alguma forma de missões desse tipo, como ocorre, por exemplo, em trabalhos de grande vulto como as buscas a aeronaves desaparecidas.

O Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação (2º/10º GAV), conhecido como Pelicano, é o que particularmente tem a missão de realizar buscas e resgate, tanto sobre o mar quanto sobre a terra, e levando, também, apoio às vítimas de calamidades públicas. O esquadrão adotou a sigla internacional SAR (Search and Rescue), comum aos esquadrões dos diversos países que se dedicam à mesma missão.

Durante 53 anos de existência, os Pelicanos já realizaram mais de mil missões para buscar e resgatar pessoas em todo o território nacional. Dentre as missões, algumas são históricas, como o auxílio às vítimas do terremoto do Peru em 1970, a ajuda nas enchentes do Sul do país no início da década de 70 e a busca do Boeing 737-200 da VARIG em 1989 na Floresta Amazônica. O símbolo do esquadrão, o Pelicano, faz referência à ave que representa a abnegação de seus integrantes. Os militares baseiam-se na ideia de que os pelicanos quando não encontram alimento para seus filhotes, rasgam o próprio peito e oferecem sua carne e seu sangue para eles se alimentarem.
O SEGREDO DO VÔO 2068 (Fotos: 1- Avião C-47 da FAB semelhante ao 2068 que caiu na selva. 2- O mapa do estado do Pará, com destaque para a Serra do Cachimbo, na cor marron.)
40 anos antes da queda do Boeing da Gol, outro desastre aéreo comovia a nação com o drama do resgate dos sobreviventes - todos militares - na selva. O que só agora se descobriu é que eles estavam em missão secreta para capturar Che Guevara.
Em junho de 1967, enquanto o Brasil vivia sob a ditadura militar da direita, o guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara (foto) fomentava a revolução socialista em algum pedaço (então) ignorado do continente. No dia daquele mês, a base de apoio à navegação aérea de Cachimbo, Pará, foi invadida por cerca de 100 índios. Os oficiais e os funcionários, assustados, pensaram que aquilo poderia significar um ataque. Na tentativa de explicar a visita inesperada, a Força Aérea criou uma teoria conspiratória que desencadeou equívocos rocambolescos e uma das maiores tragédias da aviação brasileira - ocorida numa área próxima a Cachimbo onde o vôo 1907 da Gol com 154 pessoas. Se a presença dos índios era um ataque, o alvo deveria ser o regime militar. Assim, a mente por trás de tudo estaria a serviço do comunismo - eis porque o Che divide a frase de abertura deste parágrafo com os militares brasileiros.
Logo após avistar os índios, o comandante de outro avião que sobrevoava a pista deu um rasante, obrigando todos a sair em disparada.
O acidente - Ao ser avisado do problema enfrentado por essa outra aeronave, o quartel-general da 1ª Zona Aérea, em Belém do Pará, convocou uma tropa armada de 23 militares, além de um índio aculturado. O grupo tinha a missão de chegar ao local o mais rápido possível. Embarcou no avião C-47 2068, enviado às pressas, à noite e com um instrumento de orientação quebrado. Apesar do evidente perigo, o comando ordenou que o avião 2068 prosseguisse viagem à noite, no meio do nada e com o sistema de orientação comprometido. A nave acabou se perdendo sobre a floresta e caiu (foto). O saldo da expedição foi a morte de 20 pessoas e o resgate dramático dos cinco sobreviventes.


A QUEDA E A SITUAÇÃO DOS SOBREVIVENTES DO FAB 2068

E os possantes motores do C-47, após 7 horas e 55 minutos de perfeito funcionamento, começaram a falhar. Era aquilo que todos a bordo esperavam ouvir a qualquer momento, embora torcendo para que jamais ocorresse. O precioso líquido estava finalmente se esgotando. Enquanto isso, o manipulador do Sargento Godinho emitia continuamente o seu sinal. Era impossível saber, naquele momento angustiante, onde estavam descendo.

Voando muito próximo ao topo da floresta, a aeronave começa a perder altura e a curvar-se lentamente. Em seguida, ouve-se um leve roçar dos galhos sob a aeronave e depois o toque brusco sobre as grandes árvores, finalizando com a inevitável colisão das asas contra os troncos maiores. Rapidamente a aeronave guinou de vez e mergulhou na floresta em plena madrugada de sexta-feira.

O médico perdeu os sentidos e, quando acordou, percebeu que havia fogo entre os destroços da aeronave, mas não conseguia andar. Com sua perna esquerda e bacia fraturadas, fez enorme esforço para rastejar de costas e sair do avião. Ao notar que o fogo se alastrava, gritou por socorro. O Sargento Botelho, também com a perna esquerda fraturada, tentou ajudá-lo, mas nada pode fazer. Apesar das fraturas, o Capitão Paulo afastou-se da aeronave e adormeceu.

Em seguida, o Sargento Botelho, que se encontrava preso entre a lateral da aeronave e as ferragens retorcidas, consegue também com grande esforço e dor afastar-se do fogo. Na fuga, cruza com o Sargento Barbosa que, completamente paralisado, contemplava as chamas. Percebendo que havia grande possibilidade de explosões, fogem rapidamente. No deslocamento apressado, o mecânico tropeça em alguém que se encontrava deitado: era o Tenente Velly, queixando-se de fortes dores na bacia.

E lá estavam eles: o Capitão Paulo, o Tenente Velly e os Sargentos Botelho e Barbosa, todos feridos. Três encostados num tronco e o Tenente Velly, deitado, mais próximo aos destroços. Instantes depois se ouvem gritos de alguém delirando no meio da mata. Em resposta, os sobreviventes pediram que ele continuasse a gritar a fim de ser localizado, apesar da escuridão: era o Cabo Barros. Guiado pelos gritos, junta-se também ao grupo o Soldado Brito, que se encontrava ainda entre os destroços. Nesse primeiro momento, havia um total de seis sobreviventes.

Aquela noite havia sido longa demais, apesar de pouco tempo depois o dia começar a clarear. Assim que os primeiros raios solares penetraram na densa floresta, os sobreviventes começam a fazer o reconhecimento do local. E descobrem, entre os destroços da aeronave, mais um sobrevivente, o Cabo Calderaro, que estava muito ferido e sem condições de ser removido. Pelo seu estado, perceberam que havia pouca possibilidade de sobrevivência para ele. Mesmo assim, agora eles eram em sete.

Por volta das 07:00 horas, o Capitão Paulo verificou a situação dos sobreviventes: o Tenente Velly estava com fratura de bacia; os Sargentos Botelho e Barbosa estavam ambos com a perna esquerda fraturada, mas sem desvio ósseo; o Cabo Calderaro estava com amputação traumática de uma perna, na altura do joelho, e com forte hemorragia; o Cabo Barros e o Soldado Brito, embora sem nenhuma fratura aparente, apresentavam queimaduras e graves ferimentos com perda de tecido e massa muscular. O próprio médico encontrava-se com fratura exposta na perna esquerda, fratura-luxação do quadril direito e traumatismo no ombro direito.

A sede já começava a tomar conta de todos, mas não havia água. Por sorte, uma poça de água barrenta que havia se formado nas proximidades do local onde se encontrava deitado o Tenente Velly veio amenizar a sede dos sobreviventes naqueles primeiros instantes.

Nessa situação os sobreviventes passaram o resto da sexta-feira com dores, dificuldade de deslocamento e sem qualquer possibilidade de se alimentar e beber água potável. Todos se perguntavam “como tudo aquilo foi acontecer” e “como seria dali para frente”. Porém, a noite chegou e aquele dia 16 de junho, uma sexta-feira fatídica, foi longa demais e sem a menor idéia do que viria a ocorrer nos dias seguintes.

Nesse dia, o Coordenador do SALVAERO Belém, Major Cardoso, instalou-se com sua equipe em Manaus, oficialmente a partir das 18:30 horas, considerando que, antes da queda da aeronave, todas as providências relativas àquela emergência já haviam sido tomadas pelo Subcentro de Coordenação do SALVAERO de Manaus, para que algumas aeronaves sobrevoassem a capital amazonense com faróis acesos e poderem ser vistas pelo FAB 2068.

Fonte: reservaer