A ameaça de calote em certos países da União Europeia (UE) e o impasse político sobre a dívida pública dos Estados Unidos levaram alguns comentaristas a estabelecer paralelos entre as duas crises.

Gideon Rachman, editor-chefe do serviço internacional do jornal britânico "Financial Times" expôs os dados do problema. Segundo ele, os EUA e a UE se desenvolveram seguindo padrões históricos distintos.

De um lado, haveria o modelo europeu baseado no intervencionismo governamental e no Estado de bem-estar social (Welfare State), ou seja, nas garantias da saúde e do ensino público e de uma legislação protetora dos assalariados. De outro lado, o modelo americano, fundado na iniciativa privada, na livre empresa e na flexibilidade do mercado de trabalho.


Contudo, defende Rachman, os dois modelos enfrentam atualmente os mesmos entraves : "O problema básico é o mesmo. Os Estados Unidos e a União Europeia têm suas finanças públicas fora de controle e possuem sistemas políticos que não conseguem resolver o problema. A América e a Europa estão afundando no mesmo barco".


Prolongando a discussão, o editorial do jornal parisiense "Le Monde" situou a reflexão numa perspectiva histórica : "Os filósofos terão que estudar um dia esta características das democracias ocidentais deste começo do século 21: elas estão todas gravemente endividadas. Além do mais, essencialmente, este endividamento público precede a crise financeira de 2008-2009".


Um dos colunistas da revista "Economist" (que assina sempre com suas iniciais, M.S.), retomou o assunto no contexto global. Frente à crise econômica das democracias ocidentais, observa M.S., o crescimento da China enfraquece o argumento de que a democracia é uma condição necessária para o progresso econômico.

No final das contas, os desdobramentos da crise econômica e governamental na UE e nos EUA trazem de novo à ordem do dia as interrogações sobre a eficácia dos regimes políticos ocidentais e sobre os valores intrínsecos da democracia.


Para além do caso da China, tais dúvidas dão de novo destaque às vias políticas e econômicas seguidas pelos diferentes países emergentes. Neste contexto, a consolidação do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), segundo a formulação elaborada pela economista Jim O’Neill, (o qual desconsidera a inclusão da Africa do Sul no grupo, visto que o país possui apenas 50 milhões de habitantes), oferece à democracia brasileira todo a sua singularidade.


De fato, o Brasil é o único país dos Brics que se apresenta como uma plena democracia (ao contrário da Rússia e da China) e que não tem graves clivagens étnicas ou ameaça de conflito atômico com seus vizinhos (caso da Índia).

Do UOL - Por Luiz Felipe de Alencastro - Colunista do UOL Notícias - Via: Terror do Nordeste