A União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, aprovou uma resolução, durante convenção que acontece em Leipzig, exortando o governo a estabelecer normas na Europa que permitam que um país deixe voluntariamente a zona do euro sem sair da União Europeia.

A resolução afirma que, "se um membro (da zona do euro) for incapaz ou não quiser obedecer permanentemente às normas relacionadas à moeda comum, ele poderá voluntariamente - segundo as normas do Tratado de Lisboa para deixar a União Europeia - deixar a zona do euro sem sair da União Europeia. Ele deverá receber o mesmo status dos países-membros que não têm o euro".

De acordo com a Bloomberg, agora a resolução precisa ser aceita pelos três partidos que formam a base de apoio do governo de Merkel. Caso isso aconteça, a Alemanha teria então que convencer os outros países da União Europeia a aprovar essas mudanças na forma de organização do bloco.

Durante a convenção do partido, a chanceler refutou as acusações de que abandonou as posições conservadoras de longa data do partido em questões importantes - de política social a energia nuclear e, agora, do novo salário mínimo a pacotes para a zona do euro. "Vivemos um tempo de mudança épica", disse Merkel. "Nosso compasso político não mudou. Mas o contexto está mudando constantemente."

Merkel, por sua vez, disse ao partido que políticas de 30 anos atrás não podem dar a resposta adequada aos "mais difíceis momentos da Europa desde a Segunda Guerra". Ela insistiu que o partido precisa se adaptar aos novos tempos.

Crise e oportunidade

Em discurso de uma hora na convenção de dois dias que foi convocada sob o lema "Pela Europa, pela Alemanha", Merkel abordou os temas que têm sido reiterados em suas mensagens diárias em Berlim sobre a crise da dívida da zona do euro: que os problemas levarão anos para serem superados e que a crise oferece a oportunidade de se recriar o projeto europeu.

"Precisamos enviar um sinal claro", disse Merkel aos delegados. "Nós não lamentamos, não nos queixamos. Em vez disso, nós sabemos que temos um trabalho a fazer", acrescentou.

Recentemente, Merkel começou a apresentar a crise da zona do euro como a oportunidade de sua geração para dar um enorme passo adiante no projeto europeu. Em Leipzig, ela tocou novamente no tema, afirmando que a Europa precisa ter a coragem de mudar o tratado que criou a união monetária europeia e permitir sanções automáticas e duras às violações do tratado. Em meio à crise, a Europa está se aproximando e os europeus estão descobrindo que as decisões tomadas em um país podem ter um enorme impacto no restante da Europa, ela disse.

O ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, reforçou o apelo de Merkel. "Nós precisamos agora construir a união política na Europa que nunca conseguirmos construir nos anos 1990", disse.

Alguns delegados discordaram da intenção de Merkel de assumir os encargos de outros países europeus. Klaus-Peter Willsch, membro do Parlamento, acusou o governo de Merkel de quebrar a promessa de não salvar transgressores do euro.

"Nós prometemos aos alemães quando abandonamos o marco alemão para adotar o euro que não pagaríamos pelas dívidas de outras nações. Esta promessa foi quebrada, estamos fazendo exatamente o contrário", disse.

Merkel descartou qualquer introdução dos eurobônus que resultariam em tornar a comunidade europeia como um todo responsável pelas dívidas de outros países. E ela insistiu em que a Europa e outras regiões do mundo precisam colocar suas finanças numa base sustentável.

"Para todo lugar que olhamos vemos comportamentos que não podem prosseguir", disse Merkel. "Em todos os lugares, as pessoas estão vivendo como se não houvesse amanhã."

Enquanto muitos delegados mostraram reservas sobre os recursos que a Alemanha deverá destinar ao combate da crise do euro, muitos também apoiam a estratégia de Merkel.

"Merkel reconheceu que a Europa está numa situação difícil, mas, ao mesmo tempo, claramente e com competência traçou o papel do CDU para liderar a Alemanha ao longo da crise europeia", disse Erika Stahl, membro do CDU.

Fonte: Estadão