Dois grandes grupos, um brasileiro e outro francês, estão juntando forças para atuar na área de defesa e segurança, um mercado bilionário que exige experiência em gestão de grandes projetos e capacitação tecnológica. A parceria é formada pela Andrade Gutierrez, construtora que diversificou investimentos e fatura cerca de R$ 20 bilhões por ano, e pela Thales, que mantém negócios nas áreas de defesa, segurança, aeroespacial e de transportes e que, no ano fiscal de 2010, faturou € 13,1 bilhões.

Os dois grupos decidiram criar uma joint venture, ainda sem nome definido, que deverá estar constituída no primeiro trimestre de 2012. Os acionistas serão a Andrade Gutierrez Defesa e Segurança, com 60%, e o grupo Thales, com 40%. A nova empresa, com sede no Rio, terá foco de atuação em áreas como segurança urbana e vigilância e monitoramento de fronteiras. O acordo soma a experiência da Andrade na gestão de grandes projetos e a capacitação tecnológica da Thales nessas áreas a partir do uso ferramentas como radares, câmaras de visão noturna, redes de comunicação e equipamentos de vigilância.

Giovanni Foragi, presidente da Andrade Gutierrez Defesa e Segurança, disse que a escolha da Thales para formar a parceria se relaciona com a disposição do grupo francês de transferir tecnologia para criar uma indústria nacional com competência tecnológica. A Thales, que tem participação de 27% do governo francês e de 25,9% da Dassault Aviation, tem uma série de soluções e produtos voltados para as áreas de segurança e defesa. A Andrade Defesa e Segurança foi criada em 2011 como subsidiária do grupo brasileiro.

A Thales é responsável pelo desenvolvimento do UAV Watchkeeper, um derivado do Hermes 450, que é utilizado no Reino Unido.

Foragi afirmou que a joint venture está alinhada com o conceito da Empresa Estratégica de Defesa (EED), prevista na medida provisória 544, de setembro, que estabelece normas especiais para as compras, contratações de produtos, de sistemas e do desenvolvimento de produtos e sistemas de defesa. A parceria entre Andrade e Thales precisará passar por qualificação do Ministério da Defesa para constituir-se como EED.

Um dos focos potenciais de negócios da joint venture é o Sistema de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), do Exército, com custo de implantação estimado em R$ 10 bilhões. O primeiro alvo da joint venture é disputar o projeto-piloto do Sisfron, disse Foragi. O executivo afirmou, porém, que todos os projetos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que demandem soluções e sistemas estarão no escopo da parceria com a Thales. A sociedade também poderá fazer aquisições de empresas que atuem, por exemplo, na área de análise de imagens (visão noturna) ou outros segmentos. “A joint venture poderá adquirir uma tecnologia existente e aprimorá-la”, disse Foragi.

O radar do caça francês Rafale também é desenvolvido pela Thales.

Laurent Mourre, diretor-geral da Thales no Brasil, disse que a transferência de tecnologia passa por processo de autorização do governo francês. Mas reconheceu que hoje é mais fácil transferir tecnologia para o Brasil em função da parceria estratégica acertada pelos dois países em dezembro de 2008. Um dos pontos do plano é a cooperação na área de defesa. Laurent disse que os princípios gerais da joint venture foram fixados. A sociedade não informa previsões sobre receita.

Mourre disse que há expectativa de capacitar fornecedores brasileiros e, entre as áreas potenciais de transferência de tecnologia, estão sensores (radares e câmeras), satélites de observação, veículo aéreo não tripulado (Vant) e sistemas de comunicação, entre outros.

O anúncio da parceria entre Andrade e Thales coincidiu com a visita ao Brasil, na semana passada, do primeiro-ministro da França, François Fillon. O presidente da Thales International, Blaise Jaeger, disse que a parceria estratégica entre os dois países é importante para a empresa e permitiu a associação com a Andrade na área de defesa e segurança. Ele afirmou que o acordo com a construtora brasileira representa a primeira joint venture estratégica para a Thales no mercado brasileiro, onde o grupo francês controla a Omnisys, empresa com sede em São Bernardo do Campo (SP).

Fonte: Valor Econômico – Francisco Góes, via CAVOK