A presidente Dilma Rousseff vai discutir com o seu colega americano, Barack Obama, o alto déficit comercial do Brasil com os Estados Unidos, em visita oficial à Casa Branca no começo de abril. A suspensão da compra de aviões Super Tucano da Embraer pela Força aérea americana é outro tema comercial espinhoso que promete ofuscar a agenda positiva que diplomatas dos dois países tentam construir para o encontro.

"O Brasil passou a ter um déficit comercial muito alto com os Estados Unidos nos últimos anos", disse ontem o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira. "O comércio está em desequilíbrio, e esse será um tema entre os presidentes", disse, em um evento do Instituto Brasil, do Wilson Center, um centro de estudos de Washington, que juntou representantes do Tesouro, Casa Branca, Departamento de Estado, empresários e acadêmicos interessados em Brasil.

Em 2011, o déficit do Brasil com os Estados chegou a US$ 8,159 bilhões. Embora ele dê alguns sinais tênues de ceder neste ano, o resultado negativo representa uma virada significativa em relação ao superávit de US$ 9,867 bilhões que o Brasil exibiu em 2007, que muitos atribuem à agressiva política monetária dos Estados Unidos.

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) promoveu dois programas de expansão quantitativa nos últimos anos, oficialmente para reanimar a demanda interna, mas que levou à desvalorização do dólar em várias partes do mundo, incluindo o Brasil.


"Não vou comentar detalhes da política monetária", disse no evento Leonardo Martinez-Diaz, responsável no Tesouro americano pelas relações com a América Latina. "Uma economia americana forte é, sem dúvida, uma importante contribuição para a economia global."

Ele ponderou que os Estados Unidos mantêm equilíbrio qualitativo nas trocas com o Brasil, comprando não apenas produtos básicos, mas também bens industrializados, como aviões. Foi uma referência às relações comerciais do Brasil com a China, que são baseadas na exportação de minérios, alimentos e outros produtos básicos.

Outro tema recorrente no evento foi a suspensão, pela Força aérea americana, de um contrato para a compra de até US$ 1 bilhão em aviões da Embraer, alegando problemas na documentação. "Quando a Força aérea faz um contrato e depois suspende, sem maiores explicações, os Estados Unidos não soam como um parceiro crível e confiável", disse num painel o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Harkim.

Questionada se a questão será resolvida antes da visita da presidente Dilma, a funcionária do Departamento de Estado que cuida da América Latina, Roberta Jacobson, disse que não há como estimar prazos, porque o assunto é "puramente interno e administrativo" e vai levar o tempo que for necessário porque "não é determinado por prazos políticos".

No lado simbólico da visita, alguns viram um sinal de desprestígio ao Brasil o fato de Dilma ter sido convidada apenas para uma visita oficial, em vez de visita de Estado. As visitas de Estado são mais cerimoniosas e incluem trocas de presentes e jantares de gala, indicando o prestígio do convidado. "Dado que vários países emergentes, como México, China e Índia, tiveram visitas de Estado, é óbvio que o presidente Obama deveria ter oferecido esse reconhecimento à presidente Rousseff", disse Carl Meachan, assessor do líder republicano no Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, Richard Lugar.

"Nunca pedimos uma visita de Estado", disse Vieira, o embaixador brasileiro. O funcionário da Casa Branca que cuida das relações com a América Latina, Dan Restrepo, disse que o tema não preocupa porque Obama e Dilma são ambos "focados em substância, não em forma".



Fonte: Valor Econômico