Na cúpula em Chicago, Otan vai declarar escudo antimísseis como
provisoriamente operacional. O sistema deve ser ampliado nos próximos
anos para interceptar projéteis lançados pelo Irã.
A central do sistema de defesa antimísseis, localizada na cidade de Ramstein, no sudoeste da Alemanha, é composta atualmente de alguns poucos soldados e mesas de computadores. Ela é um apêndice do sistema de defesa aérea da Otan, que, com cerca de 100 soldados, é responsável pela defesa do espaço aéreo em grande parte da Europa.
A central do sistema de defesa antimísseis, localizada na cidade de Ramstein, no sudoeste da Alemanha, é composta atualmente de alguns poucos soldados e mesas de computadores. Ela é um apêndice do sistema de defesa aérea da Otan, que, com cerca de 100 soldados, é responsável pela defesa do espaço aéreo em grande parte da Europa.
É também em Ramstein que as informações sobre eventuais lançamentos
de foguetes inimigos são registradas e avaliadas. Mas a decisão de
acionar o sistema de defesa antimísseis não é tomada lá. Atualmente, o
nosso sistema se limita a detectar se, a partir de uma determinada
região, um míssil será lançado contra o território da Otan", diz o
general Wilhelm Ploeger, vice-comandante do sistema de defesa aérea da
Otan, à Deutsche Welle. Na prática, isso quer dizer que no momento o
sistema só funciona parcialmente.
Defesa contra mísseis iranianos
O "sistema do sistema", composto de satélites, equipamentos de
radar, sistemas de interceptação em navios e em terra, deverá ser
desenvolvido até 2020 em três fases adicionais. Os mísseis interceptores
do tipo SM-3 vêm dos Estados Unidos e ficarão estacionados em navios no
Mediterrâneo, assim como na Romênia e na Polônia. Eles deverão
interceptar mísseis de médio e de longo alcance que venham a ser
disparados do Irã. Mísseis de curto alcance deverão ser combatidos por
mísseis Patriot, conhecidos desde o tempo da Guerra do Golfo, dos quais a
Alemanha também possui duas dúzias de sistemas.
Em Ramstein, são feitos os preparativos para a operação: a defesa
contra o ataque de mísseis deverá ser feita, em grande parte, de forma
automática. O trabalho humano se dá basicamente no planejamento e na
implementação do sistema de defesa, ressalta o general Friedrich Wilhelm
Ploeger. "O fator tempo é fator decisivo no combate a mísseis
balísticos, comenta o militar. Dependendo do alcance dos mísseis,
dispomos de no máximo 20 minutos para realizar a avaliação completa de
um míssil. Dentro desses 20 minutos, temos apenas uma janela muito
pequena, uma fração do tempo de voo, para iniciar uma tentativa de
interceptação bem-sucedida".
Boa parte ainda é só teoria
Os especialistas avaliam de formas diversas as chances de que o
sistema de defesa antimísseis europeu venha realmente a funcionar, após
décadas de planejamento. O especialista em segurança Joachim Krause,
professor da Universidade de Kiel, observa que os sistemas de mísseis
previstos já estão sendo usados pelas forças armadas norte-americanas.
"Este programa é baseado em componentes existentes e deve estar pronto
para ser ativado rapidamente, pelo menos em parte. Não se trata de
Guerra nas Estrelas, mas algo passível de se tornar realidade nos
próximos anos."
Oliver Meier, do Instituto de Pesquisa sobre Paz e Política de
Segurança, sediado em Hamburgo, tem opinião diferente. "Os sistemas, em
grande parte, ainda não existem. A fase crítica começa quando for
introduzido, a partir de 2018, uma nova arma contra mísseis de longo
alcance. E ainda é totalmente incerto se ela funcionará, diz Meier em
entrevista à Deutsche Welle. A Otan quer defender toda a população da
Europa contra um ataque nuclear do Irã. Portanto, deve haver um alto
grau de segurança operacional. E isso é provavelmente impossível de se
garantir em sistemas tão complexos como o de defesa de mísseis. Porque,
em relação à ameaça nuclear, basta que uma única ogiva consiga furar o
sistema que tudo vai por água abaixo".
Ploeger, entretanto, está confiante de que o sistema funcionará como
prometido. Mas no caso da interceptação de mísseis com ogivas
múltiplas, seria necessário um sistema muito mais amplo, segundo o
general. "A possibilidade de mísseis com ogivas múltiplas ainda não têm
foi intensamente considerada em nosso planejamento", admite.
Mais flexível e barato
A implementação do sistema europeu de defesa antimísseis foi
decidida na última cúpula da Otan em Novembro de 2010 em Lisboa. O
presidente dos EUA, Barack Obama, já havia apresentado em 2009 uma nova
estratégia simplificada para a defesa de mísseis. O sistema deveria ser,
segundo esta estratégia, mais flexível e menos oneroso. "Nossa nova
arquitetura de defesa antimísseis na Europa proporcionará uma defesa
mais rápida e inteligente, para proteger nossas tropas e nossos
aliados", prometeu Obama na época. Com isso, ele colocava fim a uma fase
de planejamento e desenvolvimento que se estendia por décadas, na qual,
sob os presidentes Bush e Clinton, já haviam sido investidos muitos
bilhões de dólares.
Tudo começou em março de 1983, com o famoso discurso do presidente
Ronald Reagan, no qual ele anunciou a Iniciativa Estratégica de Defesa,
programa que ficou conhecido como Guerra nas Estrelas. Com ele, Reagan
queria transferir a Guerra Fria para o espaço. Essa corrida armamentista
com a União Soviética tinha por meta subjugar os comunistas. Quando o
Muro de Berlim caiu, seis anos mais tarde, e a União Soviética se
desfez, o programa se tornou supérfluo.
Rússia se vê ameaçada
Mas a ideia de um escudo antimísseis continuou viva, assim como o
conflito entre os dois blocos. Até hoje, a Rússia insiste que a defesa
regional europeia antimísseis também é uma ameaça para o país. Os
especialistas em segurança Joachim Krause e Oliver Meier veem o assunto
de forma diferente. Para Oliver Meier, as primeiras fases do sistema de
defesa de mísseis da Otan são, do ponto de vista militar, completamente
desinteressantes para os russos. "Temos que admitir que a preocupação
russa é exagerada, pois no momento a Rússia ainda tem milhares de
mísseis nucleares. A ideia de que um escudo de defesa poderia
interceptar essa quantidade de mísseis é uma ilusão", avalia Maier.
O professor Joachim Krause, da Universidade de Kiel, diz compreender
a preocupação russa. "Se os norte-americanos obtiverem sucesso na
defesa regional na Europa, então pode ser que eles venham a usar o
sistema contra os russos. Isso poderia significar que, a partir de uma
perspectiva russa, o potencial estratégico de ameaça contra os Estados
Unidos pode vir a ser enfraquecido lentamente."
Otan convida russos
A Otan tem tentado há anos dissipar estes receios, até agora sem
sucesso. O secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, ofereceu
uma cooperação ao ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, na última
reunião de ministros do Exterior da Otan, em abril último. "A melhor
garantia poderia começar na participação da Rússia em uma cooperação
direta no sistema de defesa de mísseis. Sugerimos construir uma ou duas
centrais comuns, onde dados e conhecimentos seriam compartilhados e
exercícios preparados conjuntamente ", disse Rasmussen, acrescentando
que através da cooperação, Moscou poderia ver com eus próprios olhos que
o sistema da Otan não é dirigido contra a Rússia.
Apesar de toda a retórica a nível político, há bastante cooperação
na prática militar entre a Otan e a Rússia. Ambas fizeram um exercício
conjunto há alguns meses: um treinamento de defesa contra mísseis de
curto alcance em que todos os cenários foram simulados.
Fonte: Jornal O Povo
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