Na sua sede de Albuquerque, o DOE (Departamento de Energia norte-americano) armazena 6500 rolos de filme cujo visionamento foi negado durante décadas à opinião pública dos Estados Unidos e que tiveram de esperar até meados da década de 1990 para que perdessem o seu caráter de matéria reservada.
Que tem de especial esta documentação para que tenhamos fixado a nossa atenção nela? Muita coisa. Em princípio, não se trata de nada remotamente parecido com aquelas filmagens propagandísticas da guerra fria, em que instavam os cidadãos norte-americanos a ver o átomo como um amigo e o armamento nuclear como a garantia das liberdades democráticas frente à horda vermelha que chegava do outro lado do oceano. Pelo contrário, estas imagens mostram a realidade nua e crua dos testes atômicos. Mostram paisagens e situações nas quais o adjetivo “apocalíptico” deixa de ser uma expressão literária gratuita para recuperar o seu verdadeiro sentido.
Episódios lamentáveis passam, uns atrás dos outros, como a existência de ensaios nucleares na catástrofe - ecológica e humana - provocada pelas detonações levadas a cabo no atol de Bikini, cujas consequências ainda tardaram muitos anos em ser disfarçadas e que causaram a evacuação de praticamente toda a população das ilhas Marshall.

A bomba batizada de Bravo foi a maior bomba de hidrogenio já detonada no planeta. 1.000 vezes mais poderosa que as explosões atômicas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki, no Japão, foi lançada em 1º de março de 1954 e abriu esta cratera no atol de Bikini. Poucas paisagens são tão bonitas quanto a do Atol de Bikini


“Somos uns filhos da puta”. Foram estas as históricas e pouco solenes palavras pronunciadas a 16 de Julho de 1945, às 5 horas, 29 minutos e 45 segundos, pelo doutor Kenneth Bainbridge. Acabava de ser testemunha da primeira explosão nuclear no campo de tiro de Alamogordo (Novo México), concretamente num lugar que tinha o nome adequado de “Jornada do Morto”. Ali, a humanidade entrou na denominada “era atômica”. Com aquela explosão culminava o Projeto Manhattan, a maior operação militar secreta de todos os tempos. A maior parte do mérito daquele êxito pertencia ao doutor J. Robert Oppenheimer, que tinha conseguido levar a bom porto a empresa de que se tinha encarregado em 1942: fabricar uma bomba atômica antes dos alemães.
Apenas um mês depois deste teste, 200 mil pessoas pereciam queimadas nas cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui. Foram elas as vítimas imoladas em prol de uma “boa causa” para encurtar a guerra, e que passaram oficialmente à história como as primeiras vítimas do armamento nuclear. No entanto, os primeiros seres humanos que sofreram na carne a dentada da radiação de uma bomba atômica foram na realidade norte-americanos.

 Atol de Bikini.


Não havia precedentes, assim teve de se improvisar, o que fez com que em Alamogordo se cometessem os primeiros, embora nem por isso menos graves, ensaios nucleares norte-americanos. Por exemplo, a auto-estrada nacional 380, que passava apenas a 15 quilômetros do local da explosão, foi atingida por uma considerável dose de radiação. Uma dose semelhante de radiação abateu-se sobre as propriedades de duas famílias na cidade vizinha de Bingham, as quais não foram nem alertadas nem evacuadas pelas autoridades militares. Até em locais mais distantes se puderam apreciar efeitos da detonação sobre o gado de algumas quintas dos arredores, já que muitos destes animais apresentavam graves queimaduras produzidas pela radiação beta.
Apesar de todo este acumular de irresponsabilidades, em 1975, o lugar mereceu a designação de monumento histórico nacional, e uma equipa de trabalhadores (que receberam uma gratificação extraordinária por trabalharem ali) ergueram um obelisco comemorativo no local exato em que teve lugar a explosão. 
EXPULSOS DO PARAÍSO 
Não se tinha passado um ano desde Hiroxima e Nagasáqui quando a marinha de guerra norte-americana começou a interrogar-se até que ponto a nova arma também lhes poderia ser útil. Para dar resposta a essa pergunta, planejou-se a denominada Operação Crossroads.
A data fixada para este novo teste foi o dia 1 de Julho de 1946. A Operação Crossroads consistia basicamente em comprovar os efeitos que teria uma detonação nuclear sobre uma frota naval. O lugar escolhido para a quarta explosão nuclear da História foi o atol de Bikini, no arquipélago das ilhas Marshall, cenário de uma das mais sangrentas batalhas da guerra do Pacífico. Em Fevereiro de 1946, o comodoro Ben H. Wyatt, governador militar das ilhas, comunicou oficialmente aos seus habitantes que deveriam abandonar temporariamente as suas casas, já que o Governo dos Estados Unidos tinha previsto efetuar ali uma prova nuclear.



[atol+de+bikini.jpg]O seu sacrifício contaria com a gratidão de toda a humanidade, já que esta prova seria uma peça fundamental no futuro desenvolvimento tecnológico e no fim definitivo de todas as guerras. Assim, em Março de 1946, começou o penoso êxodo dos 167 habitantes de Bikini, com o seu rei à cabeça, que foram deportados para outro atol a 200 quilômetros de distância, Rongerik, um lugar muito menor, com escassos recursos de água e alimentos. Para cúmulo das humilhações, Rongerik era tradicionalmente considerado como um lugar maldito pelos habitantes de Bikini. Tudo isto contribuiu para que os nativos se arrependessem de ter acatado tão docilmente a decisão dos Estados Unidos. Mas já era demasiado tarde.




O certo é que Bikini era o lugar perfeito para aquele objetivo; isolado, deserto (uma vez deportada a população aborígene, claro) e afastado das rotas marítimas habituais. Durante dias espalhou-se pela área circundante uma sinistra frota de barcos fantasma, formada por embarcações de todos os tipos e tamanhos, que se encontravam prestes a serem desmanteladas e que serviam de “alvo”, levando a bordo uma tripulação formada por 5400 porcos, ratos, cabras e ovelhas que substituiriam os marinheiros e permitiriam estudar os efeitos da radiação sobre os organismos afetados pela detonação.
O principal resultado daquela experiência foi que os habitantes de Bikini jamais regressaram à sua ilha, convertendo-se no primeiro povo da História a ter sofrido um êxodo nuclear. Hoje em dia, levam uma vida errante, dependendo da hospitalidade de outros povos e sonhando em regressar um dia a um paraíso que já não existe. 




O ARSENAL ATÔMICO 
O ano de 1951 foi quando os Estados Unidos conceberam um arsenal nuclear tal como o entendemos na atualidade, o qual foi testado ao longo de uma série de ensaios coletivamente conhecidos como Buster/Jangle e que decorreram num campo de testes instalado no deserto de Nevada para tal efeito.
Yucca Flat, um antigo território de garimpeiros situado a menos de cem quilômetros a norte de Las Vegas, foi o local escolhido para as sete detonações nucleares que foram executadas enquanto durou o projeto. Nessa altura, cientistas e militares tinham interesses diferentes e os testes tiveram de ser planejados para satisfazer as expectativas de ambos. Os cientistas necessitavam de afinar os aspectos tecnológicos, como o aperfeiçoamento de dispositivos de descarga mais confiáveis, ou encontrar formas de obter uma energia maior com a mesma quantidade de material físsil. Pelo seu lado, os generais precisavam desenvolver a tática da guerra nuclear, um estilo de combate inédito que necessitaria de procedimentos próprios. Para desenvolver estas táticas, efetuaram-se uma série de manobras militares que coincidiam com os testes e em que centenas de soldados foram expostos à radiação das explosões atômicas. A primeira destas desafortunadas unidades foi o 354th Engineer Combat Group, que foi a encarregada de preparar o campo para as primeiras manobras atômicas da História.
 
COBAIAS HUMANAS
No outono de 1950, a guerra da Coreia encontrava-se no seu apogeu e os Estados Unidos tinham perdido o monopólio nuclear ao ter sido detonado com êxito o primeiro artefato atômico soviético. A guerra fria era um fato e o fantasma de um apocalipse radioativo abatia-se sobre o mundo. A única maneira viável para que o arsenal termonuclear não fosse uma ameaça inútil era conseguir que a sua utilização não fosse um sinônimo do fim do mundo, quebrando a doutrina da destruição “mútua assegurada” que mantinha o precário equilíbrio entre as superpotências. Tratava-se de desenvolver armas menores que fossem suscetíveis de ser utilizadas de modo “seguro” numa batalha real. No entanto, os cientistas não se encontravam ali para testar uma arma, mas sim uma teoria. Concretamente estavam muito mais interessados nos efeitos da radiação sobre os organismos vivos, algo que já tinha começado a ser estudado no atol de Bikini. Desta vez, a novidade era que as centenas de animais que deram as suas vidas pelo progresso atômico foram piedosamente anestesiados, antes de serem expostos aos efeitos da explosão e mais tarde dissecados. Claro que, se na verdade queriam conhecer os efeitos da radiação sobre o corpo humano, podiam ter recorrido aos 75 mil doentes de cancro da tiróide devido, segundo o Instituto Nacional do Cancro, às provas nucleares de Nevada ou às vítimas do aumento de 40% dos casos de leucemia infantil que aconteceram no vizinho Estado de Utah entre 1951 e 1958. 
A fase seguinte de testes nucleares foi executada sob o nome de código de Tumbler/Snapper, e passará à História como a experiência nuclear em que mais seres humanos se viram envolvidos como cobaias. Sob o patrocínio da recém-criada Comissão de Energia Atômica, centenas de seres humanos foram expostos, agora mais diretamente que nunca, à ação das detonações atômicas. Houve abusos de todo o tipo e até se deram casos em que foi ordenado aos pilotos que atravessassem o cogumelo radioativo para recolherem amostras da atmosfera. O objetivo desta atitude aparentemente inexplicável era efetuar um minucioso estudo psicológico acerca do comportamento das tropas num campo de batalha atômico. Em caso de guerra era preciso contar com operacionais eficazes que apoiassem de imediato a contundente ação dos bombardeiros nucleares e, ao serem treinados velhos cavalos de batalha com o disparo de armas de fogo perto deles para que, chegado o momento, não se assustassem, chegou-se à conclusão de que com seres humanos se podia fazer o mesmo. Assim teve início uma autêntica loucura em que a cada teste os soldados eram colocados cada vez mais próximos do núcleo da explosão: “Antes destes homens serem designados para a operação”, disse em tom enfático o narrador do documentário, “tinham um monte de preconceitos em relação à bomba e aos seus efeitos. Tal como tantas outras pessoas na sua situação, muitos deles estavam assustados. Nunca tinham dedicado tempo ou esforço a aprender os fatos, bem como aquilo que teriam de fazer no que se referia ao armamento atômico. Estes homens foram doutrinados acerca do que sucederá e do que devem fazer se a bomba cair”.
No entanto, apesar do entusiasmo do narrador, os resultados não puderam ser mais desanimadores. Segundo os psicólogos, os soldados sofriam um enorme stress emocional quando presenciavam uma explosão nuclear e isso tornava-os imprevisíveis em situação de combate. É compreensível que estivessem assustados.
Durante os anos que se seguiram os membros deste coletivo desenvolveram todo o gênero de cancros, enfermidades sanguíneas, degenerativas e psíquicas. Isto sem contar com os danos genéticos que transmitiram aos seus filhos e netos, e que fazem com que os afetados recordem amargamente como os seus instrutores ridicularizavam os seus medos no que se referia ao impacto da radiação sobre a sua capacidade reprodutora. O pior de tudo é que não obtiveram qualquer auxílio ou indenização já que, dada a condição de elevada confidencialidade daquelas experiências, não existia maneira de demonstrar perante um tribunal a relação entre os seus males e os testes nucleares nos quais participaram.
Logicamente, a opinião pública mantinha-se alheia a tudo isto, apesar do programa de testes nem sequer ser um segredo, e meios da comunicação social como a revista Life mantinham os norte-americanos informados do que estava a suceder no Estado de Nevada, publicando até fotografias das nuvens nucleares - encontrávamo-nos no apogeu de uma campanha propagandística a todos os níveis para que os norte-americanos vissem aquilo que dizia respeito à energia nuclear com absoluta naturalidade.
Durante o programa Tumbler/Snapper testaram-se vários tipos de bomba atômica com potências que oscilavam entre 1 e 30 quilotoneladas. Foi construída uma cidade com edifícios e árvores junto à zona de ensaios para reproduzir com a maior fidelidade possível os efeitos de uma explosão atômica num núcleo urbano. Pouco a pouco, o campo de Yucca Flat foi-se cobrindo de crateras de diferentes tamanhos e profundidades, dependendo da intensidade de cada explosão e das condições geológicas do terreno. A Comissão de Energia Atômica nunca parecia satisfeita, e solicitava sempre “mais um teste” para verificação de uma ou outra teoria no terreno. 
A BOMBA H 
A perda do monopólio nuclear por parte dos Estados Unidos tinha colocado as superpotências num equilíbrio incômodo. O desenvolver da bomba de hidrogênio era o projeto em que os norte-americanos tinham posto todas as suas esperanças, de modo a fazerem com que a balança voltasse a pender para o seu lado. Sobre o estirador do projeto, a construção do novo artefato atômico não se revestia de especial dificuldade. Mas não bastava fabricá-lo: também era necessário comprovar no terreno o seu potencial destruidor, pelo que se voltaram para o Pacífico, onde tiveram lugar os ensaios a que se deu o nome de código Operação Ivy. Desta vez, o cenário do teste seria o atol de Enewetak, mais uma vez nas já castigadas ilhas Marshall, onde se montaria e se faria rebentar a Mike, a primeira bomba de hidrogênio da História, cujo nome foi escolhido pelo “M” de megatonelada.
Ninguém sabia com toda a certeza o que poderia acontecer, já que até àquele momento a “bomba H” tinha sido apenas uma mera concepção teórica.
Mike era assim uma verdadeira incógnita, e estimativas como as distâncias de segurança estabeleceram-se praticamente a olho. As 10,4 megatoneladas do artefato outorgavam-lhe uma potência 650 vezes superior à da bomba de Hiroxima, e isso despertou uma certa inquietação entre os responsáveis pela experiência, a chamada “Comissão Panda” encabeçada por J. Carson Mark, no laboratório de Los Alamos. Mas a tentação de ir mais além do que alguém tinha alguma vez sonhado, desencadeando uma energia apenas comparável com aquela que vibra no coração do sol, era grande. Tratava-se de executar a maior demonstração de poder que jamais se tinha realizado na História humana. Mas a natureza tinha uma surpresa reservada para os cientistas e militares responsáveis pelo projeto.
Mike foi um êxito para lá das expectativas dos que a projetaram e ainda hoje é a quarta maior explosão nuclear da História dos Estados Unidos. Com o passar do tempo foram muitos os militares que confessaram terem-se sentido horrorizados ao comprovar que tinham nas mãos o instrumento para exterminar para sempre da face da Terra enormes núcleos populacionais.
Mas, como sempre, a Comissão de Energia Atômica não estava satisfeita e começou a fabricar King - neste caso, o “K” era de quilotoneladas -, um segundo protótipo completamente operacional e projetado para ser lançado por um bombardeiro B-36 sobre a ilha Kwajalein, também no arquipélago das Marshall. King chegou quase a superar o seu irmão apesar de ter um tamanho consideravelmente menor. Esta única detonação libertou mais poder destrutivo do que todo aquele que tinha sido utilizado durante a Segunda Guerra Mundial. King foi o modelo utilizado no desenvolvimento da Mk-18, uma arma nuclear, da qual os Estados Unidos construíram dezenas de unidades durante os anos que se seguiram. 
REGRESSO A BIKINI 
No meio deste clima tornou-se necessária uma nova bateria de testes nucleares que, sob o nome de Operação Castle, se realizaram num cenário que já se tinha convertido num clássico das experiências atômicas: o atol de Bikini. O objetivo principal nesta ocasião consistia em testar artefatos nucleares baratos e de pouco peso que pudessem ser produzidos em massa e eficazmente utilizados como arma de bombardeamento. Podemos fazer uma ideia das intenções que animavam o projeto através das palavras do general Clarkson, a mando da Junta da Força Operativa 7, encarregada da execução do projeto: “Castle foi, sem dúvida, a mais completa e significativa operação na curta mas impressionante História dos testes militares e, na minha opinião, absolutamente vital para a segurança nacional e para o resto do mundo livre.”
A ilha de Perry foi a escolhida como o lugar onde se montariam as bombas e Enyu seria o sítio de onde se dispararia o primeiro artefato, conhecido com o nome de código de Bravo. A tecnologia nuclear já não era algo de novo e, assim, nesta ocasião respirava-se confiança entre os participantes na missão; no entanto, neste caso a confiança foi inevitavelmente a antecâmara do erro. A quantidade de radiação emitida foi sensivelmente maior que a esperada e, se as provas anteriores já tinham afetado a ilha, a Operação Castle converteu-a num verdadeiro cemitério nuclear em que foram registradas leituras que ultrapassavam os 100 rad por hora.



A 1º de Março de 1954, e devido a um inexplicável erro de cálculo, as 3 megatoneladas previstas converteram-se em 1512. A bomba explodiu com muitíssimo mais potência do que o previsto, espalhando-se rapidamente uma chuva de radiação que se expandiu a 300 quilômetros em redor, cobrindo uma área de oito mil quilômetros quadrados. A ofuscante bola de fogo produziu um cogumelo de 25 quilômetros de altura que aspirou com uma força irresistível milhões de toneladas de areia, água, corais, plantas e fauna marinha, que foram pulverizados, radioativamente carregados e espargidos por todo o arquipélago. A explosão gerou um furacão artificial que arrancou pela raiz todas as árvores de Bikini. Toda a população das Marshall ficou afetada e houve até quem tivesse ficado queimado pelas cinzas radioativas. O povo exilado de Bikini tinha agora de sofrer na pele o mesmo que a sua terra natal já tinha experimentado. Os militares norte-americanos tão-pouco se libertaram dos efeitos da radiação.
NAÇÕES UNIDAS
O mais triste de toda a situação é que tudo isto ocorria com a cumplicidade das Nações Unidas que, em 1947, tinha qualificado a zona como de interesse estratégico, colocando-a sob a administração dos Estados Unidos, uma medida estranha que não tinha precedentes e que nunca mais voltou a ser tomada. Para além de outorgar autorização aos norte-americanos para fazer e desfazer a seu gosto o arquipélago, a resolução da ONU também impunha certas obrigações aos administradores, como “promover o desenvolvimento econômico e a auto-suficiência dos habitantes” e “proteger os habitantes contra a possível perda das suas terras e recursos”.




Nota: Até hoje os EUA não ratificaram o tratado sobre a proibição de testes nucleares, o que tornou esse acordo sem validade. Mas essa não é a única razão pela qual o escarcéu feito na mídia norte-americana – e em suas filais de outros países – sobre o recente teste nuclear coreano rescende a mero cinismo e hipocrisia. Merece que seja lembrado o que foram os testes nucleares dos EUA. Ao contrário da Coreia, os EUA não eram um país cercado, bloqueado e constantemente ameaçado por uma força muito superior à sua. Pelo contrário, os EUA são o único país do mundo que promoveu um bombardeio nuclear sobre outra nação – aliás, sobre os civis desta nação, em Hiroxima e Nagasáqui. Não admira, portanto, que até o “Diário de Notícias”, de Lisboa, jornal mais longe da esquerda que Salazar de Dom Sebastião, haja recordado, em reportagem editorial, o que foram os testes nucleares norte-americanos. É uma síntese desta reportagem que hoje reproduzimos. A maior parte dos dados já foram publicados por nós há alguns anos, com exceção dos que se referem aos acontecimentos no atol de Bikini. Mesmo assim, a matéria dos jornalistas lusitanos é muito interessante, e muito bem escrita – por isso, mantivemos integralmente a prosódia do português falado naquele país