As forças do regime sírio de Bashar al-Assad iniciaram neste sábado uma ofensiva contra os rebeldes na cidade de Aleppo (norte), onde nos últimos dias chegaram reforços militares para recuperar os bairros sob domínio dos opositores do governo.

"Podemos dizer que a ofensiva começou", declarou Rami Abdel Rahman, presidente do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). "Os combates mais violentos desde o início da rebelião acontecem em vários bairros", completou.
Em Aleppo, o ativista Hisham al-Halabi disse que as tropas governamentais usam aviação militar, caças Mig 21 de fabricação russa e tanques contra os distritos de Salaheddiin, Seif al-Daula e Al-Sukari.
Os tanques tentaram entrar nos bairros controlados pelos rebeldes apoiados por bombardeios aéreos, o que desencadeou violentos combates entre os dois lados. Halabi afirmou que os choques se desenvolvem principalmente em Salah ad-Din, Al-Sahur, Hanano, Al-Shaar, Al-Fardus e Al-Furqan. Ao fim do dia, de acordo com o OSDH, o governo começou a recuar com a ofensiva terrestre.

Segundo o OSDH, um grande movimento de fuga acontece atualmente no bairro de Al-Sukari (sul), após a queda de uma bomba e de violentos confrontos em Hamdaniyeh (oeste).
Apesar da chegada de reforços militares do regime e do armamento mais leve com o qual contam os rebeldes, o ativista disse que a insurgência não está em desvantagem. "O Exército Livre Sírio (ELS) está bem equipado e situado estrategicamente em Aleppo, enquanto os reforços governamentais que chegaram à cidade foram danificados pelo caminho pelos rebeldes", relatou o ativista da Comissão Geral da Revolução.
 
 Em sua página no Facebook, os rebeldes informaram sobre os enfrentamentos e bombardeios, assim como a destruição de pelo menos oito tanques do regime em operação que batizaram de "a mãe das batalhas".
Comunidade internacional
A luta pelo controle de Aleppo - a segunda maior cidade e o centro econômico da Síria - despertou o temor na comunidade internacional de que ocorra um novo massacre no país, abalado por mais de 16 meses de violência provocada pela repressão contra um inédito movimento de revolta contra o regime. Segundo o OSDH, mais de 19 mil morreram desde o início da revolta, em março de 2011.
 
Vários países ocidentais manifestaram preocupação ante a perspectiva de um ataque contra os rebeldes. O governo dos EUA advertiu sobre o perigo de um "massacre" e condenou a "odiosa agressão das forças de Assad contra esse centro de população civil".

Em comunicado, a Liga Árabe expressou "produnda insatisfação com os atos de opressão do regime sírio", particularmente no uso de armamento pesado contra seu próprio povo. O grupo pediu que a Síria "parasse com o ciclo de matança e violência e suspendesse o ataque aos bairros".
Por outro lado, o chanceler russo Sergei Lavrov caracterizou o ataque deste sábado como uma "tragédia", mas questionou o que mais o governo sírio poderia fazer contra a rebelião. A Rússia, ao lado da China, é um dos principais aliados da Síria.
"Agora a cidade de Aleppo está ocupada pela oposição armada. Outra tragédia é iminente lá", disse Lavrov. "Como podemos esperar que, em tal situação, o governo simplesmente diga: 'Ok, eu não estava certo, me derrube, mude o regime' - é simplesmente irrealista."
O presidente francês, François Hollande, pediu uma intervenção rápida do Conselho de Segurança, e chamou Moscou e Pequim para que levem em consideração que a Síria poderá mergulhar em um caos caso Assad não seja impedido.
Violência
Na sexta-feira, a cidade já estava sitiada pelos tanques do regime de Bashar al-Assad enquanto chegavam mais reforços militares, segundo o "número dois" do ELS, Malek Kurdi. "Tenho certeza de que lançarão uma grande ofensiva", afirmou o alto comando rebelde desde Aleppo.
A ofensiva teve início mais de uma semana depois da abertura da nova frente em 20 de julho, depois que o Exército recuperou o centro de Damasco, onde também foram registrados violentos combates nos bairros hostis a Assad.
Segundo informações obtidas por um correspondente da AFP, os rebeldes não executaram nenhuma operação importante nos últimos dois dias, economizando as escassas munições antitanque. Muitos habitantes deixaram a cidade e os que permaneceram têm grandes dificuldades de obter material de primeira necessidade.
Segundo analistas, a batalha é extremamente importante para as duas partes. De um lado, o regime espera que seus aliados, os ricos comerciantes de Aleppo, financiem parte do esforço bélico. Os rebeldes aspiram criar uma zona de proteção, como os insurgentes líbios fizeram em Benghazi.

Fonte: IG