De muitas formas, o presidente Barack Obama tem sido uma decepção em energia e meio ambiente. Ele está completamente desaparecido no debate a respeito da mudança climática. Sua decisão de impedir sua própria Agência de Proteção Ambiental (EPA) de estabelecer novas regras para redução dos níveis de poluição foi desapontadora. E, apesar de acreditar no uso do balancete do governo americano para estimular a pesquisa de tecnologia limpa e novas empresas, a Solyndra foi um caso de excesso embaraçoso –precisamente o que acontece quando alguém depende demais do governo e não do consumidor, devido às sinalizações de preço e regulatórias.
Mas, para mim, tudo está perdoado –porque Obama saiu-se realmente bem no mês passado.
Ele apoiou sua ótima administradora da EPA, Lisa Jackson, e o secretário dos Transportes, Ray LaHood, na produção de um acordo com todos os grandes fabricantes de automóveis baseados nos Estados Unidos, que entrará em vigor em 2017, exigindo melhorias anuais de desempenho no consumo de combustível de 5% para carros, e um pouco menos para caminhões leves e utilitários esportivos, até 2025 –quando os fabricantes de automóveis americanos terão que atingir uma média total da frota de 23,1 quilômetros por litro. A média atual é de 11,7 quilômetros por litro.
Esse acordo ajudará os carros e caminhões americanos a se aproximarem dos níveis de consumo da Europa e do Japão, promovendo inovação em sistemas de transmissão, aerodinâmica, baterias, carros elétricos, aço e alumínio que tornarão os carros mais leves e mais seguros.
A EPA e o Departamento dos Transportes estimam que essas inovações gradualmente acrescentarão US$ 2 mil ao custo médio de um veículo até 2025 e economizarão mais de US$ 6 mil em compra de gasolina ao longo da vida do carro –economias que irão para o restante da economia. E tudo isso presume que os preços da gasolina aumentarão apenas moderadamente e que não haverá nenhuma inovação inesperada além das previstas. Se os preços da gasolina subirem mais e a inovação ocorrer mais rapidamente –ambos altamente prováveis– a economia seria ainda maior.
Os novos veículos vendidos durante o tempo de vida do programa –incluindo sua primeira fase, entre 2012 e 2016– deverão economizar um total de 4 bilhões de barris de petróleo e evitar a emissão de 2 bilhões de toneladas de poluição de gases do efeito estufa.
Esse é um grande acordo –um legado de Obama que fará uma contribuição significativa, de longo prazo, para as agendas de energia, meio ambiente, saúde e segurança nacional dos Estados Unidos.
O acordo foi acertado entre a EPA e o Departamento dos Transportes com a General Motors, Ford, Chrysler, Toyota, Honda, Nissan, BMW e seis outras grandes fabricantes de automóveis. Ele foi anunciado em 16 de novembro e ocorreu em grande parte porque assim que a Suprema Corte determinou que o dióxido de carbono é um poluente –e assim que a Califórnia deixou claro que ela e outros Estados imporiam seus próprios padrões mais duros para emissões de automóveis, se o governo federal não o fizesse– os grandes fabricantes de automóveis viram que não teriam escapatória e iniciaram as negociações com o governo Obama para um acordo que transformará o setor.
A associação setorial Global Automakers –que endossou o acordo porque dá ao setor uma certeza regulatória de longo prazo para realizar pesquisa e investir– chamou o plano de Obama de "uma abordagem nacional abrangente e harmônica para redução das emissões de gases do efeito estufa e melhoria da economia de combustível (...) ao mesmo tempo que fornece aos fabricantes a flexibilidade necessária e prazo para projetar e fabricar veículos de tecnologia avançada".
Dan Becker, diretor da Campanha pelo Clima Seguro do Centro para Segurança Automotiva, disse que o acordo de consumo de combustível "é o maior passo individual dado por qualquer país para redução da poluição causadora do aquecimento global", mas alertou que, como qualquer acordo de Washington, ele apresenta brechas que "dão às empresas automotivas oportunidades para se comportarem de modo irresponsável –se assim desejarem". Se o mix total de carros e caminhões da frota das empresas permanecer aproximadamente como projetado, elas atingiriam a meta de 23,1 quilômetros por litro até 2025. Mas, como o acordo permite um padrão de consumo menor para os caminhões, acrescentou Becker, "se a indústria como um todo decidir produzir mais caminhões do que o projetado atualmente, nós não atingiríamos a meta de 23,1 quilômetros por litro, apesar de que o consumo médio ainda assim melhoraria significativamente em comparação aos níveis atuais".
Naturalmente, aqueles que odeiam a EPA odeiam o acordo. Eles se concentram no aumento do custo dos veículos ao longo de 13 anos –e ignoram a economia líquida para os consumidores, mais os benefícios para a segurança nacional, inovação, empregos, clima e saúde. Esses críticos são os mesmos "conservadores pró-Opep" que, depois que o Congresso concordou em 1975 em um programa de 10 anos para aumentar o desempenho médio de consumo da frota de carros americanos de 6,3 quilômetros por litro para 11,7 quilômetros por litro, se uniram não apenas para impedir a melhoria no desempenho durante o governo Reagan, mas também para revertê-la. Isso ajudou a reduzir drasticamente a inovação no desempenho de consumo dos automóveis americanos e, no final, ajudou a falir a indústria automotiva americana e garantir que os Estados Unidos permanecessem viciados em petróleo.
É claro, o Partido Republicano atual, cuja política de energia foi melhor descrita por Lisa Jackson como "suja demais para falir" –isto é, nós não podemos fechar as usinas de força poluidoras ou impor regras para um ar mais limpo porque poderiam custar empregos- está fazendo um último esforço para sabotar o acordo. O deputado Darrell Issa, republicano da Califórnia e presidente do comitê supervisor da Câmara, está liderando o esforço para matá-lo. Que coisa para se orgulhar.

Fonte: UOL