Em 30 de janeiro de 1933, o então presidente Hindenburg nomeou Adolf
Hitler como chanceler da Alemanha. Poucos tinham ideia da dimensão desse
fato. Propaganda nazista encenou o acontecimento como uma "tomada de
poder".
Cenas sombrias ocorreram no Portão de Brandemburgo em 30 de janeiro de
1933, em Berlim. Já há horas, o chefe da Propaganda nazista, Joseph
Goebbels, vinha posicionando homens da tropa de assalto de Hitler
próximo ao local. Mais de 20 mil membros da chamada SA (Sturmabteilung), a tropa de choque do Partido Nazista, haviam chegado durante a noite.
O início estava marcado para as 19h. Tochas foram acesas, batalhões da
SA desfilavam pelo Portão de Brandemburgo. Poucas horas antes, Adolf
Hitler havia alcançado seu grande objetivo: ser nomeado chanceler pelo
então presidente alemão Paul von Hindenburg.
Um grande baile a fantasia
O recém-empossado chanceler alemão foi festejado por seus seguidores. De
uma janela da então Chancelaria, Hilter cumprimentou os espectadores
presentes. Goebbels havia planejado um gigantesco espetáculo. Ele
pretendia encenar de forma dramática esse novo capítulo da Alemanha:
aquela deveria ser "a noite do grande milagre". Ele havia planejado algo
especial. Uma espécie de fita de fogo formada por portadores de tochas
devia atravessar a cidade.
Goebbels queria criar imagens monumentais, ideais para impressionar os
espectadores no cinema, já que era ali que os noticiários eram
transmitidos na época. Mas os transeuntes passeavam distraídos para lá e
para cá entre as formações da SA e impediram as gravações desejadas.
Goebbels ficou desapontado e reencenou as imagens mais tarde. O famoso
pintor alemão de origem judaica, Max Liebermann, já tinha visto o
bastante. Para o desfile de tochas dos homens da SA na frente de sua
casa, o pintor escolheu palavras dramáticas: "Eu nunca conseguiria comer
tanto para tudo o que gostaria de vomitar."
A história da ascensão de Adolf Hitler (ao Lado) está intimamente ligada ao
declínio da República de Weimar. Desde o surgimento em 1918, ela sofria
de defeitos congênitos irreparáveis – era uma democracia sem democratas.
Boa parte da população rejeitava a jovem República, sobretudo a elite
econômica, funcionários públicos e até mesmo políticos.
Tentativas de golpe pela direita e pela esquerda sacudiram o país. Nos
primeiros cinco anos da República de Weimar, assassinatos espetaculares
chocaram o país. Entre outros, as mortes dos comunistas Rosa Luxemburg e
Karl Liebknecht, bem como o assassinato do ministro do Exterior Walther
Rathenau, de origem judaica. Os criminosos provinham da ala de extrema
direita.
A política da República de Weimar foi marcada pela total instabilidade.
Nos 14 anos de sua existência, ela presenciou 21 diferentes governos.
Entre os 17 partidos do Parlamento, encontrava-se uma série de inimigos
declarados da Constituição. Com cada nova crise política e econômica, os
eleitores perdiam mais e mais a confiança nos partidos democráticos.
Enquanto isso, o extremismo político vivenciava um grande crescimento.
Os nazistas, pelo lado da direita, e os comunistas, pela esquerda,
ganhavam cada vez mais adeptos. Por volta de 1930, a Alemanha estava à
beira de uma guerra civil. Nazistas e comunistas travavam batalhas de
rua. A crise econômica de 1929 piorou ainda mais a situação. Em junho de
1932, o número oficial de desempregados no país somava 5,6 milhões de
pessoas.
Em tal situação, muitos alemães ansiavam por um nome forte à frente
do governo, alguém que pudesse tirar o país da crise. O presidente Paul
von Hindenburg (ao lado) era uma dessas pessoas, para muitos, ele era uma espécie
de substituto do imperador. De fato, segundo a Constituição de Weimar, o
presidente do país era a instância política central. O cargo detinha
uma imensa esfera de poder.
O presidente podia dissolver o Parlamento e outorgar leis por decretos
emergenciais, algo que cabe normalmente a qualquer Parlamento.
Hindenburg fez uso, diversas vezes, da possibilidade de governar
contornando o Legislativo. No entanto, Hindenburg não tinha como cumprir
o papel de salvar a Alemanha da miséria, pois já estava com 85 anos no
início de 1933.
Após diversas trocas de governo, Hindenburg pretendia, na ocasião,
instalar um governo estável chefiado pelos conservadores nacionalistas
de direita. A princípio, ele era cético quanto à nomeação de Adolf
Hitler para chefe de governo. Durante muito tempo, Hindenburg ironizou
Hitler, chamando-o de "soldado raso da Boêmia" – uma alusão ao fato de
que ele, Hindenburg, era um condecorado marechal de campo da Primeira
Guerra Mundial, e Hitler, apenas um soldado comum.
Mas Hindenburg mudou de opinião. Pessoas próximas a ele lhe asseguraram
que manteriam Hitler sob controle. Alfred Hugenberg, líder do Partido
Popular Nacional Alemão, declarou: "Nós iremos enquadrar Hitler."
Tinha-se um grande senso de segurança, também porque somente dois
ministérios foram oferecidos aos nazistas no novo gabinete de governo.
Por outro lado, Hitler e seus seguidores passaram a se apresentar
propositalmente de forma moderada e a evitar alaridos.
Princípio do fim
De fato, no dia 30 de
janeiro de 1933, um sonho se tornou realidade para Hitler e sua
comitiva. Com alegria, Goebbels confidenciou ao seu diário: "Hitler é
chanceler. Como um conto de fadas!" Na mais completa ignorância sobre
Hitler e suas intenções, nomeou-se o "coveiro" da República para
chanceler. Mas Hitler já havia apresentado seus planos no livro Mein Kampf. Ele escreveu que os judeus seriam "removidos" e um novo "habitat" seria conquistado "pela espada".
O dia 30 de janeiro de 1933 entrou para a história como o dia da "tomada
de poder", conceito na verdade inventado pela propaganda nazista, pois a
nomeação de Hitler – e essa é a verdadeira ironia da história –
aconteceu de forma constitucional. Após a tomada de posse, Hindenburg
falou as seguintes palavras: "E agora, meus senhores, para frente com a
ajuda de Deus!"
Hindenburg não teve de presenciar que o caminho de Hitler levaria na
verdade ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1934. E
logo Hitler mostrava quão ingênua foi a crença de que ele poderia ser
controlado e neutralizado. Pouco depois de ser empossado como chefe de
governo, começou em todo o país o terror das tropas de assalto da SA.
Comunistas, social-democratas e sindicalistas foram perseguidos. Em
pouco tempo os primeiros campos de concentração foram instalados. Ali,
os membros da SA torturavam suas vítimas, que iriam incluir, pouco tempo
depois, judeus e outras pessoas consideradas indesejáveis pelos
nazistas. Hitler precisou somente de poucos meses para embaralhar a
República de Weimar e instalar sua ditadura.
Autor: Marc von Lübke (ca)
Revisão: Francis França
Revisão: Francis França
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