A Ucrânia tenta diminuir a dependência do gás russo, ao lançar a exploração das jazidas de gás de xisto no país.
A concessão, por 50 anos, de duas áreas no país foi assinada ontem entre o presidente ucraniano e a holandesa Shell.
Um contrato de dez mil milhões de dólares, o maior do género até hoje na Europa, que suscita dúvidas sobre o impacto ambiental do projeto.
O ministro da energia ucraniano, Eduard Stavytski, afirma: “tenho a certeza de que este é um passo importante para a independência energética do nosso país. É por isso que abrimos as portas a uma empresa europeia com a assinatura deste contrato”.
Mas a exploração deste tipo de gás através do método de fraturação hidráulica, alvo de uma moratória em alguns países europeus, preocupa a oposição:
“Nós precisamos de um plano de extração deste gás que seja transparente para perceber quais são os riscos e quem vai pagar em caso de impacto ambiental adverso, ou se cabe apenas ao país gerir um eventual problema”, afirma o deputado do partido “Svoboda”, Andriy Mokhnyk.
Com o novo contrato, a Ucrânia espera poder evitar a repetição das crises do gás russo de 2006 e 2009.
O método de fracturação hidráulica, autorizado na Grã Bretanha desde o ano passado, é temido noutros países por poder contaminar a água, os solos e mesmo provocar sismos.
O governo ucraniano afirmou ter plena confiança na Shell para prevenir este tipo de consequências ambientais.

Fonte: EURONEWS
 
A Ucrânia prepara-se para iniciar um processo de industrialização das suas reservas de Xisto, de onde o país poderá começar a extrair gás natural.
Este processo, que teve já inicio com a colaboração da empresa Shell, destina-se a garantir algum grau de independência energética por parte da Ucrânia, que depende da Rússia para o fornecimento de gás natural, vital para a sobrevivência da população ucraniana nos invernos gelados da região.
Além da exploração comercial do xisto, a Ucrânia prepara-se também para converter as suas centrais de produção de eletricidade, de gás para carvão
A exploração das reservas de xisto, poderá permitir à Ucrânia reduzir em um terço a sua dependência do gás russo, mas não pode pura e simplesmente subsituir o gás russo na sua totalidade.
A Rússia continua a exigir um preço pelo gás que fornece à Ucrânia, que é ligeiramente inferior ao que cobra à Alemanha ou à Italia, mas ainda assim o custo é considerado demasiado elevado pelos ucranianos.
A questão da dependência ucraniana do gás russo assume uma importancia estratégica, porque essa dependência leva o governo russo a dispor de armas para pressionar Kiev a ceder em algumas das questões fulcrais que se colocam à defesa russa.
Os russos têm pressionado o governo da Ucrânia utilizando o preço do gás como arma política, exigindo em troca de uma redução do preço do gás, facilidades adicionais no porto de Sebastopol, garantia do aluguer do porto e controle sobre a rede ucraniana de gás. É especialmente esta última exigência que tem vindo a ser recusado pelo governo de Kiev.
Os ucranianos consideram que se a Rússia passar a controlar a rede ucraniana de gás natural, e as condutas que transportam o gás russo para a Europa Ocidental, os russos utilizem o argumento da defesa dos seus interesses, para colocar tropas dentro do território ucraniano.
A possibilidade de isto vir a acontecer é considerada como muito elevada e é por esta razão que mesmo um governo ucraniano inicialmente visto como pró-russo acaba por entrar também em rota de colisão com o Kremlin.
Toda a questão está diretamente relacionada com a frota russa do Mar Negro e a exigência russa de uma extensão da autorização para a permanência da frota russa no porto de Sebastopol na peninsula da Crimeia.
Aquela região ucraniana, chegou a ser administrada diretamente por Moscovo, após o império russo ter anexado a região em 1783. O território, que chegou a ser independente, transformou-se após 1921 transformou-se numa república soviética autónoma, até ser integrada na Ucrânia em 1954.
Dado a população original constituida por tártaros ter sido expulsa pelo regime comunista, a maioria da população da Crimeia (1,9 milhões) é maioritariamente (60%) russa.
Acordo e desacordo entre Rússia e Ucrânia
Os russos têm pressionado várias vezes o governo da Ucrânia para garantir de forma clara a continuação da presença russa em Sebastopol. Um acordo assinado em 2010 entre o atual presidente e o presidente russo Medvedev foi visto como uma forma de resolver o problema, já que abriu a porta para que a esquadra russa permaneça em Sebastopol depois de 2017 e até 2042.
Ocorre que pelo menos aparentemente nenhuma das partes cumpriu a sua parte do acordo, com os russos a não terem feito os investimentos previstos nos acordos assinados. A Rússia considera que ainda não estão reunidas as condições para baixar o preço do gás, porque pretende controlar também a rede ucraniana de condutas (os russos acusam os ucranianos de roubarem o gas), e porque os russos não baixaram o preço do gás, os ucranianos consideram que as facilidades negociadas não podem ser concedidas, porque os russos não cumpriram a parte deles, além de não aceitarem que os russos controlem a rede ucraniana.
Críticas
A produção de gás, pode ter razoes politicas mas não deixa de ser criticada pelos ecologistas. A extração de gás a partir do xisto é um processo caro e extremamente poluente, ao mesmo tempo que a utilização de carvão também é muito mais poluente que a utilização de gás para produzir energia. No entanto, esta diversificação permitirá a Kiev um grau de independência energética que presentemente não tem.