O Ministério de Energia de Israel concedeu licença
para que uma empresa privada conduza escavações em busca de petróleo no
sul das Colinas do Golã – território sírio ocupado durante a Guerra dos
Seis Dias, em 1967.
Para analistas consultados pela BBC Brasil, a
polêmica medida do governo israelense desafia a lei internacional e tem
relação direta com a atual crise do Estado sírio.
A licença foi concedida à empresa Genie Energy, dirigida pelo
conhecido político de extrema-direita Effie Eitam, que mora na
comunidade agrícola Moshav Nob, no Golã.
"A decisão do governo, de justamente iniciar
agora a exploração de petróleo, pode decorrer do caos que vigora na
Síria", afirma à BBC Brasil o ex-diretor do Ministério das Relações
Exteriores de Israel, Alon Liel. "Nestas circunstâncias, em que a Síria
se encontra em plena guerra civil, não há quem fale em nome do Estado."
A porta-voz do ministério da Energia, Maya Etzioni, confirmou à BBC Brasil a concessão da licença à empresa Genie.
De acordo com Etzioni, "esta é a primeira vez que o governo israelense concede uma licença para exploração de petróleo no Golã".
"Se isso tivesse acontecido há alguns anos,
haveria protestos da comunidade internacional e do próprio governo
sírio, mas agora, em meio à desintegração da Síria, ninguém menciona
esse assunto", opina Liel.
Lei internacional
Segundo o especialista em direito internacional
Guy Harpaz, da Universidade Hebraica de Jerusalém, "a lei internacional
proíbe a extração de riquezas naturais de territórios ocupados".
"Para a comunidade internacional, Golã é um
território ocupado, embora Israel tenha promulgado a lei da anexação
dessa região em 1981", afirmou o jurista.
"A lei internacional só permite a exploração de
recursos naturais para fins de segurança ou para o bem da população
civil sob ocupação. Neste caso, é claro que os lucros com a exploração
do petróleo no Golã não irão beneficiar nem a segurança nem os
habitantes sírios que restaram nessa região", acrescentou.
Segundo o porta-voz do ministério das Relações
Exteriores, Yigal Palmor, "toda essa questão não é relevante neste
momento, pois não se trata ainda de exploração do petróleo no Golã, mas
sim de buscas preliminares, ainda nem sabemos se existe petróleo lá".
"As colinas do Golã estão, de fato, sob
soberania israelense, portanto do ponto de vista legal o governo de
Israel tem autoridade de atuar nessa região", disse Palmor à BBC Brasil,
"é claro que, no futuro, a questão da soberania terá que ser acertada
com o lado sírio, mas todos sabem que neste momento não existe um
parceiro com o qual seja possível negociar do lado sírio".
A empresa Genie Energy tem acionistas estrangeiros como o banqueiro Jacob Rothshild e o magnata da mídia Rupert Murdoch.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney é um dos consultores da Genie.
Potencial
De acordo com testes preliminares executados
pela empresa, existe um potencial de descoberta de grandes quantidades
de petróleo na região sul das colinas do Golã.
Esta não é a primeira vez que Israel explora petróleo em territórios ocupados.
No passado, empresas israelenses extraíram
petróleo na Península do Sinai, território egípcio também tomado durante
a guerra de 1967 e devolvido após acordo de paz em 1979.
Até hoje existe um processo pendente do Egito contra Israel, exigindo indenização pelas extração dos recursos do território.
"Considero a decisão de explorar petróleo no
Golã um erro", opina o ex-diplomata Alon Liel. "Mesmo se agora não há
quem fale em nome da Síria, no futuro teremos que fazer um acordo de paz
com esse país."
Fonte: BBC
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