O cardeal português D. José Policarpo fala sobre a cultura do segredo existente dentro da Igreja.


"Não sei até quando conseguiremos manter esta muralha de segredos", disse na quarta-feira passada, em Roma, o cardeal patriarca de Lisboa poucas horas depois de ter participado no Conclave, precisamente um dos mais secretos atos da Igreja.


Para D. José Policarpo, a Igreja tem de debater seriamente o assunto, referindo que não sabe se valem a pena tantos juramentos e tantos segredos.


"Quem faz a opinião pública são os media e não os cardeais. Nós temos que pensar muito bem se vale a pena andar a esconder para depois dar aso à publicação de inverdades".


"Será preciso tanto?", perguntou o patriarca, acrescentando que "é um aspeto cultural no qual toda a Igreja deve refletir.


D. José admitiu que este secretismo tão rígido faz com que as regras não sejam totalmente cumpridas. " Já nem os cardeais respeitam completamente o segredo", disse o patriarca numa alusão ao cardeal americano Timothy Dolan, que contou alguns pormenores do Conclave.


"O meu antecessor, D. Antonio Ribeiro, costumava dizer que o segredo pontifício era o que só o papa sabia. Mas agora, o segredo pontifício é aquilo que nem o papa sabe", acrescentou com humor o patriarca de Lisboa.