Segundo fontes da Otan, no final de março passado, organização encaminhou, por "vias militares diplomáticas", ao Ministério da Defesa russo um pedido informal de acesso às informações sobre a retirada das tropas soviéticas do país em 1989.  
 
Diante da retirada da Isaf (Força Internacional de Assistência para a Segurança do Afeganistão), prevista para 2014, os líderes da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) manifestaram interesse em conhecer a experiência soviética de retirada de tropas do país.
 
Os representantes da organização pediram a Moscou materiais e resultados da análise da retirada das tropas soviéticas do Afeganistão em 1989. Fontes ouvidas pelo jornal “Kommersant” justificam a ausência de um pedido oficial por parte da Otan ao desejo de evitar comparações entre a campanha militar soviética no Afeganistão e a presente missão no país.
 
O fato de a Otan estar interessada em receber esses materiais foi confirmado por várias fontes da organização e por uma fonte do Estado-Maior Geral das Forças Armadas da Rússia.
 
Segundo ela, no final de março passado, a organização encaminhou, por "vias militares diplomáticas", ao Ministério da Defesa russo um pedido informal de acesso às informações sobre a retirada das tropas soviéticas do país em 1989.
 
A organização se manifestou interessada em conversar com participantes dos trabalhos na época e em analisar em conjunto com a parte russa os documentos do Ministério da Defesa da URSS relacionados àquele período da campanha afegã.
 
Além disso, a Otan deseja comparar as capacidades da URSS no final da campanha afegã com seu potencial atual para "ter uma noção clara e entender onde, quando e quais foram os erros".
 
A Otan pretenderia se nortear pela experiência soviética. O número de efetivos hoje no país é aproximadamente igual ao das tropas soviéticas presentes no Afeganistão em 1988.
 
"Na verdade, não há razões para negar o pedido. Esperamos que os materiais sejam úteis para eles e que isso venha a consolidar nosso diálogo", disse a fonte do Ministério da Defesa russo.
 
Ela também lembrou que a estabilização da situação no Afeganistão "é uma prioridade não só para a Otan, mas também para a Rússia e a para a Otsc (Organização do Tratado de Segurança Coletiva)".
 
Sem novidade
 
Segundo fontes russas próximas do Conselho Rússia-Otan, o interesse da organização por esse assunto não é novo. Os representantes da Otan já antes haviam demonstrado interesse pela experiência soviética no Afeganistão em encontros de trabalho.
 
No final de 2011, o tema foi abordado durante um encontro entre o então governador da região de Moscou, general Boris Gromov, que havia comandado a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, e uma missão da Otan chefiada pelo comandante-chefe na Europa, almirante James Stavridis.
 
Autoridades oficiais da Otan, no entanto, não anunciaram intenção de recorrer à experiência soviética para a missão.
 
O presidente do Comitê Militar da Otan, general Knud Bartels, declarou publicamente, durante visita a Moscou em dezembro de 2012, que a organização não havia usado a experiência soviética quando estava planejando a retirada de suas tropas do Afeganistão.
 
As fontes russas justificam essa posição da Otan pelo desejo de não provocar associações entre a presente missão da aliança no Afeganistão e a campanha soviética naquele país, denominada no Ocidente de "período de ocupação".
 
No final de março passado, a imprensa britânica publicou trechos do relatório "Lições da retirada das tropas soviéticas do Afeganistão", elaborado a pedido do Ministério da Defesa do Reino Unido. Segundo o documento, a Otan está repetindo os erros cometidos pela União Soviética durante sua missão no Afeganistão.
 
De acordo com o relatório, o objetivo de cada uma das duas campanhas foi impor ao Afeganistão uma ideologia estranha: a comunista, no caso da URSS, e a democrática, no caso da Otan. Em cada um dos dois casos, à frente do país estava um governo central "corrupto e impopular", apoiado por forças externas, enquanto os rebeldes tinham sempre o grande apoio da população.
 
De acordo com especialistas russos, o interesse da Otan pela experiência soviética é lógico.
 
"Essa vertente é muito promissora para a cooperação. Outra questão é saber em que medida essas atividades conjuntas serão públicas", disse o chefe do setor de segurança europeia do Instituto de Estudos sobre a Europa da Academia de Ciências da Rússia, Dmítri Danilov.
 
"A experiência soviética no Afeganistão é sobretudo um profundo conhecimento da situação interna, da relação de forças no cenário afegão e da especificidade das relações entre as tribos. Desde os tempos soviéticos, muita coisa mudou, mas a continuidade se mantém. Portanto, a experiência soviética é muito valiosa", disse o cientista.
 
De acordo com Natalia Khanova, especialista do Centro de Estudos sobre o Afeganistão Moderno, a "Otan quer conhecer a experiência da União Soviética porque receia que a situação no Afeganistão após sua saída seja semelhante à vivida no país após a retirada das tropas soviéticas".
 
Segundo informações disponíveis, negociações objetivas sobre o assunto poderão ser realizadas durante uma conferência internacional de segurança prevista pelo Ministério da Defesa para ser convocada em Moscou nos dias 23 e 24 de maio. 
 
Fonte: Kommersant - Via: GBN