Israel lançou dois ataques contra o território sírio em menos de três dias, alegando o objetivo de impedir o grupo radical Hezbollah de ter acesso a armas fornecidas pela Síria, enquanto Damasco alertou que as incursões aéreas abrem a porta para todas as opções.
Segundo Damasco, o Estado hebreu atacou na madrugada deste domingo três posições militares a noroeste de Damasco com mísseis disparados por aviões provenientes de Israel.
"Esta agressão deixou mortos e feridos e destruições graves", indicou o Ministério das Relações Exteriores sírio em uma carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU.
A TV estatal síria informou na noite deste domingo que "mísseis estão prontos para atacar alvos precisos" em caso de "uma nova violação".
Em Israel, baterias antimísseis foram posicionadas no norte do país, onde o espaço aéreo está fechado até o dia 9 de maio.
Uma autoridade israelense confirmou o ataque, que "teve como alvo mísseis iranianos destinados ao Hezbollah", movimento xiita aliado do regime de Bashar al-Assad.
O ataque visou um centro de pesquisas científicas em Jamraya, que já tinha sido bombardeado no final de janeiro por Israel, além de dois alvos militares - um grande depósito de munições e uma unidade da defesa antiaérea -, segundo um diplomata em Beirute que pediu para não ser identificado.
"Cada vez que Israel tiver informações sobre a transferência de mísseis ou armas da Síria para o Líbano (para o Hezbollah), serão atacados", disse a autoridade israelense.
A fonte israelense também confirmou o ataque executado na madrugada de sexta-feira contra a zona do aeroporto de Damasco, no sudeste da capital, para destruir armas destinadas, segundo ele, ao Hezbollah.
O Irã reagiu por meio do comandante do Exército, general Ahmad-Reza Pourdastan, que se disse disposto a "treinar" o Exército sírio.
Moradores do noroeste de Damasco, a alguns quilômetros de Jamraya, descreveram a série de ataques como "um tremor de terra", falando de "um céu vermelho e amarelo aterrorizante".
Um vídeo exibido na internet pelos ativistas, mas que não pôde ter sua autenticidade confirmada, mostra imensas chamas e explosões durante a noite, enquanto uma voz grita: "Allahu Akbar" (Deus é grande).
Para o governo sírio, esse ataque torna a situação regional mais perigosa e prova que os rebeldes são "ferramentas de Israel dentro" do país.
"A comunidade internacional deve saber que a situação complexa na região se tornou mais perigosa após esta agressão" declarou em Damasco o ministro da Informação Omran al-Zohbi.
"O governo da República Árabe Síria confirma que esta agressão abre a porta para todas as possibilidades, em particular porque ela não deixa mais dúvida a respeito da realidade das conexões que existem entre todos os componentes envolvidos na guerra contra a Síria", acrescentou Al-Zohbi, lendo um comunicado.
Na carta à ONU, Damasco acusou o Estado hebreu de apoiar os rebeldes, principalmente a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda.
O Exército Sírio Livre (ESL) indicou que suas operações não tinham ligação com os ataques israelenses, prometendo "continuar a lutar até a queda de Assad".
O presidente americano, Barack Obama, declarou no sábado que é justificável que os israelenses tentem se "proteger contra a transferência de armas sofisticadas para organizações terroristas como o Hezbollah".
O Egito e a Liga Árabe condenaram neste domingo os ataques efetuados por Israel na Síria, enquanto a organização pan-árabe pediu que o Conselho de Segurança da ONU "aja imediatamente" para impedi-los.
O chefe da diplomacia britânica, William Hague, considerou que o ataque ilustra o "perigo crescente para a paz" na região e ressaltou a necessidade de retirar o embargo europeu ao envio de armas para os rebeldes sírios.
Mas a Áustria discordou. "Não há ligação entre a questão do embargo sobre o fornecimento de armas e os ataques israelenses na Síria. Pelo contrário, isso mostra que há armamentos demais na Síria", indicou seu ministro das Relações Exteriores, Michael Spindelegger. As atrocidades se estenderam esta semana ao oeste sírio. O OSDH informou a respeito de dois massacres que causaram a morte de dezenas de pessoas em áreas de maioria sunita, corrente islâmica atingida pela repressão das forças de Assad.
Neste domingo, nessa região, novos bombardeios atingiram zonas sunitas ao sul de Banias, enquanto combates entre insurgentes e soldados sírios apoiados pelo Hezbollah eram travados em Qousseir (centro), perto da fronteira com o Líbano.

Fonte: Terra