Durante uma sequência do filme Além da Escuridão, o capitão Kirk dá a ordem de “levantar escudos” e a tripulação da Enterprise fica protegida contra qualquer hostilidade do espaço. Essa particularidade do universo de Jornada pode não ser mais ficção científica. Cientistas ingleses estão testando um sistema para proteger os astronautas a longas viagens.
Informações recentes da missão Curiosity da NASA ao planeta vermelho, revelaram que astronautas na viagem de ida e volta seriam expostos a altos níveis de raios cósmicos e partículas de alta energia do sol contidas em tempestades solares. Os astronautas iriam receber uma dose de radiação em torno de 100 vezes a exposição média anual na Terra.
Junto com todos os outros riscos de voo espacial, esta seria claramente a mais prejudicial à saúde – e uma solução até agora não foi encontrada.
Eddie Semones, especialista em saúde contra radiação do Johnson Space Flight Center, disse à CNN que a blindagem para bloquear completamente o perigo de radiação teria que ter “metros de espessura” e pesado demais para ser usado a bordo de uma nave espacial.
Mas os cientistas do Laboratório Rutherford Appleton (RAL) no Reino Unido podem estar encontrando um jeito de resolver isso.
Eles tem testado um sistema leve para proteger os astronautas e componentes espaciais da radiação nociva. Trabalhando com colegas americanos, os cientistas pretendem criar um conceito de nave espacial chamado Discovery que poderá levar astronautas à Lua ou Marte.
“Jornada tem grandes idéias – eles apenas não sabem como construir”, disse Ruth Bamford, pesquisadora-chefe do projeto escudo defletor.
“O problema da radiação é um potencial empecilho. Estou muito preocupada com a questão da radiação que não está sendo tratada muito séria e é absolutamente fundamental. Mesmo que os astronautas fiquem doentes por 3-4 dias, isso ainda poderia ameaçar a missão, porque toda a tripulação ficaria afetada. O vômito e diarréia no espaço não é brincadeira. Isso também poderia levar à falência de órgãos”, disse Bamford.
O plano dos cientistas é criar um ambiente em torno da nave espacial que imite o campo magnético da Terra e recrie a proteção que desfrutamos no chão – que eles chamam de uma mini-magnetosfera.
“Na Terra, principalmente nós estamos protegidos pela atmosfera, mas em última análise, o que o campo magnético da Terra está fazendo é formar uma primeira linha de proteção para a vida”, explicou Bamford.
“O conceito por trás do que estamos sugerindo é devido à evolução na nossa compreensão de plasmas. Nós descobrimos que se você colocar um campo magnético ao redor de um objeto em um plasma que flui, os elétrons, que são muito leves, seguirão o novo campo magnético que você colocou lá, mas os íons, os íons muito rápidos, vão ultrapassar – não vão seguir as linhas do campo magnético”.
“Você acaba com um campo elétrico constante, que pode ser o suficiente para que realmente refrate ou desvie o suficiente da radiação no interior da cavidade magnética que você formou para proteger os astronautas, o suficiente como a Terra, que podem sobreviver”.
O conceito de mini-magnetosfera também foi proposto por uma equipe da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, como forma de aproveitar o vento solar para criar um sistema de propulsão.
Outras idéias de proteção também estão sendo exploradas. A  The Inspiration Mars Foundation que tem o compromisso de enviar uma equipe a Marte propôs que revestisse as paredes da nave com água, comida e até mesmo dejetos humanos para ajudar a proteger os astronautas.
A revista New Scientist noticiou recentemente que os “hidrocarbonetos em excrementos e comida são bons candidatos para proteção contra radiações.”
E acrescentou Bamford: “O projeto de paredes de água da NASA usa um conceito similar, mas a inspiração deve fazê-lo funcionar de verdade.”
A cientista inglesa disse que foi inspirada a explorar uma carreira científica pelos desembarques lunares da Apollo e por ser uma fã da série original. Ela acredita que os conceitos explorados nos filmes de ficção científica são um atalho útil para os cientistas ao tentarem explicar seu trabalho.
O escudo defletor inglês que ela ajudou a desenvolver foi testado em um modelo dentro de um reator de fusão que produz um plasma como o do vento solar. Bamford disse que eles ficaram encantados com os resultados.
A equipe agora espera que o projeto possa ser ampliado e voar em uma nave real. “Primeiro precisamos de um demonstrador da tecnologia no espaço, para digamos, cinco anos”, disse Bamford. “Isso é bastante realista para uma pequena nave espacial não tripulada. Tenho certeza que a nossa ideia vai funcionar. Há uma série de melhorias para fazê-lo funcionar melhor ainda -… Talvez devêssemos ligar para Scotty”, brincou.
Fonte: CNN - Via: Trek Brasilis