https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLD99efgil6QussEtgL7ybqWrPpZtosvXfMBNbGbyP8WWebBwibICRwHcYjoLwYdj19Iy2EpOk88u3D0cz7pDy6JhJO7A4GjINhLIxku27V9TyeoICGl4z0w1pWFk1rqVv73AqmXUHqpJj/s1600/sem+nome34.pngNas discussões com líderes mundiais durante as conferências em Davos, na Suíça, e em Munique, no mês passado, ficou claro que o maior desafio enfrentado pelos EUA no Oriente Médio é controlar a reação da Arábia Saudita ao inesperado avanço das conversas sobre o programa nuclear do Irã.
Os sauditas estão enfurecidos. Temem que um acordo nuclear vá liberar os EUA no sentido de colocar o Oriente Médio em segundo plano e transferir toda sua atenção para a China e o restante da Ásia. O que deixaria o Irã, na ausência de sanções econômicas, livre para ampliar sua esfera de influência.
O secretário de Estado, John Kerry, disse enfaticamente, tanto no Fórum Econômico Mundial quanto na Conferência sobre Segurança, em Munique, que os EUA continuam totalmente envolvidos no Oriente Médio. Mas o público árabe está, pelo contrário, influenciado pelo comportamento do presidente Barack Obama, que não faz nenhum segredo do seu desejo de desvincular os EUA dos antagonismos do Oriente Médio. Esse objetivo pode ser incompreensível, mas uma nova frente mal cuidada pode tornar o imbróglio ainda pior. O desafio para os EUA, assim, é dividir de modo convincente sua atenção entre essas duas partes do mundo. De qualquer modo, a instabilidade pode ameaçar gravemente interesses americanos fundamentais.
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O Oriente Médio está cambaleando com a ressaca da Primavera Árabe. Em Davos e em Munique, iranianos e árabes manifestaram preocupação com a guerra civil na Síria, que pode extrapolar e arrasar a região. Mas isso despertou uma morna preocupação do lado americano e muitos árabes acham que esse afastamento é o culpado pela sobrevivência do regime do sírio Bashar Assad.
A situação aumentou o temor de que uma redução das tensões com o Irã represente a última atividade dos EUA na região, para depois voltar sua atenção inteiramente para a Ásia. Os sauditas, em particular, acham não ser mais inconcebível a possibilidade de que, depois do Iraque e do Afeganistão, a retirada total das forças no Golfo Pérsico será o novo lema dos EUA: a "opção zero". Mas essa ideia contém um paradoxo: se os EUA não acalmarem as preocupações sauditas, sua estratégia política com relação ao Irã poderá desestabilizar o Oriente Médio em vez de ser um golpe de mestre, que encerraria as tensões. Seria profundamente contraproducente. O risco de novas crises na região, rica em petróleo, tornará muito mais difícil para os EUA se concentrar na Ásia.
Arábia Saudita e Irã já estão envolvidos numa disputa mortal por esferas de influência. Ao transformar o conflito sírio numa guerra terceirizada, essa competição poderá provocar a mesma coisa no Líbano, Iraque, Iêmen e Bahrein. Somente no Bahrein, em 2011, os sauditas conseguiram de fato impedir um levante amplamente xiita. Diante disso, eles só podem temer que o seu problema com o Irã explodirá se Teerã se reaproximar do Ocidente.
Portanto, os sauditas vêm redobrando os esforços para avivar o sectarismo sunita como uma defesa contra o Irã. Nesta guerra terceirizada, já observamos um perigoso ressurgimento das milícias ligadas à Al-Qaeda na Síria e no Iraque.
O problema de Obama é que essas perspectivas traiçoeiras no Oriente Médio coincidem com as tensões igualmente preocupantes na Ásia, região para a qual o governo pretende dar total atenção.
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As intrigas dinásticas da Coreia do Norte criaram mais incertezas quanto a um regime já volátil e possuidor de armas nucleares. Ainda mais preocupantes, os sentimentos nacionalistas e as disputas territoriais ressurgiram ameaçando conflitos no Mar do Leste da China e também no Mar do Japão/Mar do Leste, que chega a China, Península Coreana e Rússia. A agressão crescente demonstrada por China e Japão vem desestabilizando o restante da região e prejudicando as perspectivas econômicas.
O objetivo original de uma maior atenção para a Ásia, como expressou Obama no seu primeiro mandato, foi proteger os interesses econômicos americanos. Hoje, a Ásia exige também o uso da diplomacia americana para abortar uma crise que pode colocar em risco a economia global e obrigar os EUA a partir em defesa do seu aliado, o Japão.
Um comentário irônico feito com frequência pelos observadores chineses é que toda vez que Pequim está com problemas, o Oriente Médio é deixado para trás.
Se as poucas referências de John Kerry à Ásia em seus discursos servem como indicação, os que não acreditam no estabelecimento de um pivô na região podem ter um argumento. Administrar o nervosismo árabe com relação a um acordo nuclear com o Irã, conter os efeitos colaterais da guerra civil na Síria e, simultaneamente, instigar israelenses e palestinos a refletir sobre a paz exige uma intensa atenção dos americanos. Desta vez os EUA não podem se permitir apostar no Oriente Médio, nem abandonar a região.
De fato, as duas áreas de preocupação estão interligadas. O potencial econômico ilimitado da Ásia necessita das reservas energéticas inesgotáveis do Oriente Médio. Na Ásia e no Oriente Médio, os EUA enfrentam crises assustadoras. A chave para o sucesso é enfatizar seu compromisso com ambas as regiões.
Os EUA precisam combinar a abertura com relação ao Irã e sua atenção para a Ásia com um envolvimento mais profundo em assuntos importantes para o mundo árabe. Os líderes árabes necessitam ver que o envolvimento americano com o Irã ajudará mais do que apenas remover a ameaça nuclear representada por Teerã - é preciso também traçar um caminho para mudar a política regional do Irã, de modo a permitir que o país se integre plenamente na região.
Uma boa medida seria trazer Arábia Saudita e Irã para a mesma mesa de negociações sobre a crise síria. Seria um procedimento recomendável também na administração da crise na Ásia.

Do Estadão - Por Vali R. Nasr - Reitor da John Hopkins School of Advanced International Studie. - TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO