Tem um besouro gigante no Palácio do Planalto.
A imagem foi publicada pelo site de vazamento de informações sigilosas WikiLeaks e faz referência a escutas clandestinas da Agência de Nacional de Segurança dos EUA no governo brasileiro ('bug', em inglês, palavra que pode ser traduzida como grampo telefônico e como besouro). O WikiLeaks publicou neste sábado (4) uma lista de brasileiros que se tornaram alvo de espionagem e tiveram seus telefones grampeados . Segundo o WikiLeaks, 29 telefones de membros do governo foram monitorados pela espionagem americana.
A revelação não é exatamente nova, mas traz detalhes sobre os nomes dos alvos de espionagem e aconteceu poucos dias depois de a presidente Dilma Rousseff se encontrar com o líder norte-americano Barack Obama na última semana, em Washington, DC. e dizer que confiava nos EUA.
Veio também poucos dias depois de Obama declarar em entrevista que os EUA veem o Brasil como uma “potência global'', e não como um país apenas com influência regional. Apesar de a declaração ter sido em ampla medida interpretada como um mero aceno de simpatia do presidente americano pelo Brasil (inclusive por este blog Brasilianismo), a revelação das informações sobre espionagem de lideranças brasileiras pelos Estados Unidos reforçam a teoria: os EUA realmente devem considerar o Brasil importante a ponto de precisar espionar o governo do país de quem sempre se declara parceiro e amigo.
Se o Brasil fosse uma “potência regional'' sem importância, talvez os americanos não tivessem se dado o trabalho de espionar o governo. Mas com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e grandes preocupações internacionais. Se o Brasil realmente aspira a ser uma verdadeira potência internacional, ele vai ser sempre visto com suspeitas até mesmo pelo amigo que é a maior potência global, para que nunca possa se tornar uma ameaça.
É difícil imaginar que a atual revelação vá criar novos problemas para a relação entre o Brasil e os EUA. As atuais crises financeira e política do país fazem com que o governo Dilma dependa de apoio dos norte-americanos, tanto que ela deixou de lado a briga anterior durante a viagem recente.
É de se esperar também que os dois presidentes tenham tocado nesse assunto em conversa sigilosa. Mesmo que seja impossível saber o que foi acertado entre eles, é possível que os americanos tenham deixado claro que vão ajudar o Brasil, que querem que o país seja a tal “potência'', mas que está de olho, e que o Brasil precisa continuar alinhado a seus interesses – tudo especulação, claro, mas que pode fazer sentido.
A imagem do Brasil na diplomacia americana é de um amigo de longa data, mas que às vezes passa um certo tempo distante, e que pode assumir temporariamente ideias que contrastam com a dos EUA. A atual espionagem parece uma forma de os americanos perceberem que o “amigo'' tem vontade de ser uma potência e que tem potencial para crescer. Assim, eles preferem criar uma maior aproximação, mas manter os olhos (e os ouvidos espiões) bem abertos para o que este “amigo'' anda fazendo, mesmo que seja uma abordagem um tanto ilegal.
Por mais absurdo que seja saber que o país está sendo espionado, esta espionagem ajuda a confirmar que os americanos realmente reconhecem que o Brasil pelo menos tem potencial de se tornar uma grande força global.  E, se o Brasil realmente tem tanta vontade de ser uma “potência global'', tem que estar preparado para todo o jogo sujo que há por trás dos diplomáticos apertos de mão.