Jatos russos lançaram um segundo dia de ataques aéreos na Síria nesta quinta-feira (1), bombardeando as áreas controladas por uma aliança de insurgentes que inclui um grupo ligado à Al Qaeda, mas não os militantes do Estado Islâmico, os quais a Rússia disse ter atingido.
A Rússia disse que havia lançado oito ataques aéreos com aviões de guerra Sukhoi durante a noite, acertando quatro alvos do Estado Islâmico. No entanto, as áreas onde afirmou ter agido não estão sob controle do Estado Islâmico.

O grupo rebelde Suqur al-Jabal, treinado pelos Estados Unidos na província de Idleb, disse ter sido alvo dos ataques russos desta quinta. Quatro caças lançaram 10 mísseis em um campo de treinamento por volta de 10h30 locais (04h30 de Brasília). Outros dois aviões russos atacaram a base ao meio-dia, mas nenhum rebelde ficou ferido, segundo a France Presse.

Os rebeldes deste grupo receberam treinamento e equipamentos como parte de um programa americano de 500 milhões de dólares para criar uma força que combata o grupo jihadista Estado Islâmico na Síria.
O canal de televisão Al-Mayadeen, pró-governo sírio, disse que jatos realizaram pelo menos 30 ataques contra uma aliança insurgente conhecida como Exército da Conquista. A aliança inclui a Frente Nusra, ramo sírio da Al Qaeda, mas não o Estado Islâmico, que declarou um califado em porções de território da Síria e do Iraque.

O Exército da Conquista tem avançando contra as forças do governo no noroeste da Síria nos últimos meses, e tem o apoio de países regionais que se opõem tanto o presidente Bashar al-Assad como ao Estado Islâmico.
Segundo o senador americano John McCain, os aviões russos atacaram na Síria grupos financiados e treinados pela CIA.
"Os ataques iniciais foram realizados contra indivíduos e grupos que foram financiados e treinados por nossa CIA", afirmou McCain à rede de TV CNN, assegurando que serviram para mostrar que a real prioridade do presidente russo Vladimir Putin é dar apoio ao líder sírio Bashar al Assad.
Kremlin
Nas oito incursões, os caças Sukhoi-24 e 25 do exército russo destruíram um "quartel-general dos grupos terroristas e um depósito de munições na região de Idleb", assim como uma oficina de montagem de carros-bomba ao norte de Homs.
O Kremlin também informou nesta quinta que os ataques aéreos russos na Síria têm como alvo uma lista de conhecidas organizações terroristas, e que ainda é cedo para dizer se o presidente Vladimir Putin está satisfeito com a campanha até o momento.
Falando um dia após o início da campanha de ataques russos contra o que o Kremlin chamou de alvos extremistas islâmicos na Síria, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse: "Essas organizações (na lista de alvos) são famosas e os alvos são escolhidos em coordenação com as Forças Armadas da Síria".
Áreas onde o grupo étnico turcomeno vive em Homs e Hama foram alvo de ataques na quarta-feira, informou a Assembleia Turcomena Síria, grupo baseado na Turquia, em comunicado. Somente no vilarejo de Telbiseah, próximo a Homs, 40 civis, incluindo turcomenos, foram mortos, acrescentou.

Damasco
Forças de segurança de Damasco afirmaram que a aviação russa bombardeou nesta quinta na Síria posições da Al-Qaeda e de outros rebeldes islamitas nas províncias de Idleb (noroeste) e Hama (centro).
"Quatro aviões de combate russos atacaram bases da Jaish al-Fatah em Jisr al-Shughur e em Jabal al-Jawiya (na província de Idleb) e também atacaram posições de grupos armados, bases e depósitos de armas em Hawash, na província de Hama", afirmou a fonte.
O Jaish al-Fatah ("exército da conquista", em árabe) reúne a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, e outros grupos islamitas como o Ahrar al-Sham.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, considerou "infundadas" as dúvidas dos países ocidentais sobre os bombardeios de Moscou contra o grupo Estado Islâmico (EI) em seus primeiros ataques na Síria.
"Os rumores de que o alvo dos ataques não era o EI carecem de qualquer fundamento", declarou o ministro, citado em um comunicado depois de uma reunião com o secretário do Departamento de Estado americano, John Kerry, em Nova York.
Conflito
A decisão da Rússia de se juntar à guerra com ataques aéreos em nome de Assad é um importante ponto de virada no envolvimento estrangeiro no conflito.
Os Estados Unidos estão liderando uma aliança separada, lançando ataques aéreos contra os combatentes do Estado Islâmico, o que significa que as superpotências inimigas da Guerra Fria agora estão empenhadas em combates aéreos num mesmo país pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
Ambos dizem ter como alvo um inimigo comum, o Estado Islâmico. Mas também têm diferentes amigos e visões opostas de como resolver uma guerra civil de quatro anos que já matou mais de 250.000 pessoas e levou mais de 10 milhões a abandonarem suas casas.
Washington e seus aliados se opõem tanto ao Estado Islâmico como a Assad, acreditando que ele tem de deixar o poder em qualquer acordo de paz. Moscou apoia o presidente sírio e acredita que o seu governo deveria ser a peça central dos esforços internacionais para combater os grupos extremistas.
A Rússia diz que seus ataques aéreos são mais legítimos do que os da aliança liderada pelos Estados Unidos porque têm o aval de Assad, e mais eficazes porque podem coordenar esforços com as forças do governo para localizar os alvos.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que aviões Sukhoi-24M e Sukhoi-25 fizeram oito saídas, atingindo um depósito de munição perto de Idlib, bem como um prédio de três andares do centro de comando do Estado Islâmico perto de Hama. Além disso, informou que um ataque destruiu uma instalação localizada no norte de Homs destinadas a equipar carros com explosivos para ataques suicidas.
O Estado Islâmico, que se baseia em grande parte no norte e no leste da Síria, não tem presença substancial em Hama ou Homs.
EUA
Nesta quinta-feira (1), um funcionário militar americano indicou à France Presse que a  coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos que combate o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na Sìria indicou que não reduziu seus ataques no país, apesar do envolvimento da Rússia no conflito.
"Não alteramos as operações na Síria para levar em conta novos atores no campo de batalha", indicou a jornalistas através de uma videoconferência o coronel Steve Warren, porta-voz do Exército americano em Bagdá.


Do G1