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A Ponte Aérea de Berlim


Fonte: DW-world.de

No dia 26 de junho de 1948, dois dias após o bloqueio completo de Berlim Ocidental pelas tropas soviéticas, foi iniciado o abastecimento aéreo da cidade encravada na então Alemanha Oriental.

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Após o fim da Segunda Guerra Mundial, da mesma forma como a Alemanha havia sido dividida em dois Estados – um administrado pelos Aliados ocidentais e o outro, pelos soviéticos – também a cidade de Berlim foi dividida em duas partes: a oriental e a ocidental. Por localizar-se no leste do país, Berlim Ocidental era um enclave da Alemanha Oriental.




Em represália à determinação dos Aliados em introduzir o marco alemão como unidade monetária também em Berlim Ocidental, de 23 para 24 de junho de 1948 o então chefe de estado soviético Josef Stalin ordenou o bloqueio de rodovias e ferrovias e do transporte fluvial.

Como a cidade de 2,2 milhões de habitantes ainda estivesse em ruínas, ela dependia completamente da ajuda externa. Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz e alimentos até 12 de maio de 1949, dia em que a União Soviética encerrou o bloqueio.


O administrador militar da zona americana, general Lucius Clay, sugeriu quebrar o bloqueio usando tanques, mas a idéia foi rejeitada por Harry Truman, presidente norte-americano à época, que temia os riscos de uma provocação aos soviéticos.



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Gêneros básicos e usina termelétrica completa

A resposta dos Aliados foi o abastecimento pelo ar – ou Operação Vittles, a maior e mais importante operação aérea de ajuda humanitária já realizada. Os três corredores aéreos de 32 quilômetros de largura ligando Berlim a Hamburgo, Frankfurt e Bückeburg haviam sido aprovados pelos Aliados já em 30 de novembro de 1945, para o transporte regular entre a Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental.


De 26 de junho de 1948 a 12 de maio do ano seguinte, foram realizados 277.278 vôos e transportadas 2.326.205 de toneladas de gêneros básicos – principalmente carvão e alimentos, mas também os componentes para a montagem de uma usina termelétrica completa. Os principais destinos em Berlim eram a base aérea britânica de Gatow e os aeroportos Tempelhof e Tegel.

Para as crianças, os vôos tinham um significado especial, pois também traziam chocolates e doces, muitas vezes jogados em pequenos pacotes pelo Rosinenbomber (bombardeiro das passas), em alusão aos enormes aviões que em vez de bombas jogavam doces.


Gail Halvorsen, aos 88 anos, distribui chocolates em maio de 2008 na Exposição Aeroespacial em Berlim

Gail Halvorsen é um dos pilotos que entrou para a história. Foi ele que teve a idéia de jogar pela janela, durante a aterrissagem, chocolates e gomas de mascar amarrados em lenços de pano que caíam ao chão como minúsculos pára-quedas.

Certo dia em julho de 1948, ao pousar em Tempelhof e ver um grupo de crianças, pensou em lhes dar um presente. O que tinha naquele momento eram apenas duas gomas de mascar, que partiu em vários pedaços e distribuiu entre a criançada.


A fascinação e satisfação foram tão grandes que Halvorsen prometeu que da próxima vez traria mais e jogaria do avião. Seus colegas se deixaram contagiar pela felicidade das crianças e o imitaram. Até o final da ponte aérea, em 1949, haviam sido distribuídas 20 toneladas de chocolates, gomas de mascar e outras guloseimas.


Uma aterrissagem a cada 63 segundos

Para a época, uma operação aérea desse porte foi um acontecimento ímpar, principalmente pela logística exigida. Em poucas semanas, haviam sido reunidos em Frankfurt mais de 200 aviões para a tarefa. Foram removidas poltronas e paredes para o acondicionamento de carne, farinha e carvão, enquanto tanques de combustível tiveram de ser ampliados para o transporte de combustível.


O primeiro grande problema logístico foi a organização do cronograma: os aviões mais lentos tinham uma hora para aterrissar, enquanto os mais rápidos dispunham de 45 minutos. O piloto que não conseguisse pousar no tempo previsto era obrigado a retornar com a carga a Frankfurt, para não atrasar os demais.



O monumento em Frankfurt, ao lado de um 'Rosinenbomber' do tipo DC-3 Dakota


O ponto alto da operação – e que levou a um registro no livro Guinness de Recordes – foi a parada de Páscoa de 16 de abril de 1949, quando num único dia foram transportadas 12.940 toneladas de carvão, combustível e alimentos. A cada 63 segundos pousava um avião sobre uma pista provisória de metal em Gatow e Tegel.

Mesmo a pista, construída há 60 anos por 19 mil berlinenses, principalmente mulheres, merece registro histórico: em apenas 85 dias, trabalhando dia e noite, eles conseguiram edificar em Tegel a pista de pouso e decolagem mais longa da Europa na época, com 2.400 metros de extensão.

Por envolver milhares de pessoas, o projeto também custou vidas. Nos 11 meses que durou a operação, dificuldades técnicas ou o mau tempo causaram a morte de 78 pessoas, das quais 31 norte-americanos, 39 ingleses e oito alemães.