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Laboratório de verificação do sexo de atletas ainda gera críticas

The New York Times - Via IG - Por KATIE THOMAS

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Quando chegar a Pequim, a maioria dos atletas estará preparada para passar por uma bateria de exames que busca detectar o uso de substâncias proibidas, como esteróides anabolizantes e alguns xaropes para tosse.

Mas algumas mulheres podem descobrir que terão que passar por um exame completamente diferente, que irá testar se elas são, de fato, mulheres.

Os organizadores da Olimpíada de Pequim criaram um laboratório para a determinação do sexo que avaliará atletas "suspeitas", relatou a agência de notícias chinesa Xinhua. O laboratório é parecido aos que foram utilizados em jogos anteriores em Sidney, Austrália, e Atenas, Grécia, e usarão os recursos do Hospital Universitário Peking para avaliar a aparência externa, os hormônios e genes de uma atleta.

Alguns órgãos de ética médica dizem que a prática é muito intrusiva. "Pessoas reais irão se magoar com isso", disse Alice Dreger, professora de humanidades e bioética médica da Universidade de Northwestern. "Atletas olímpicos de verdade, que passaram a vida toda esperando por esse momento".

Relíquia

Ainda que apenas atletas cujo sexo tenha sido questionado serão examinadas em Pequim, o laboratório é uma relíquia da era olímpica antiga, onde todas as atletas tinham que passar uma exames de verificação do sexo antes de competir nos jogos. Os exames surgiram nos anos 1960, quando se suspeitou que a União Soviética e outros países comunistas inscreveram homens em jogos femininos para obter vantagens.

Primeiro, as mulheres tinham que desfilar nuas diante de um painel de médicos para a verificação. Na Olimpíada de 1968, na Cidade do México, os responsáveis mudaram a prática para um exame de cromossomos.

Os exames nunca revelaram um homem disfarçado de mulher, mas mostraram algumas atletas que nasceram com defeitos genéticos que faziam com que parecessem homens (pelo menos de acordo com os resultados laboratoriais).

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Em 1967, a polonesa Ewa Klobukowska foi proibida de disputar os jogos porque não passou nos testes de cromossomo, mesmo depois de ter passado no teste físico um ano antes. Nos anos 1980, a espanhola Maria José Martinez Patino foi desqualificada porque o exame revelou que ela, para sua surpresa, tinha nascido com um cromossomo Y. Ela foi restituída ao quadro olímpico em 1988 depois de uma disputa pública.

A prática foi criticada nos anos 1990 por médicos, cientistas e atletas que dizem que os exames não são apenas intrusivos, mas também representam uma ciência ruim. Durante os jogos de 1996 em Atlanta, oito atletas falharam no exame, mas todas foram liberadas depois que se determinou que elas tinham um defeito de nascença que não lhes dava vantagem alguma nos esportes.

"Essa é uma prática discriminatória, não ética ou científica", disse Arne Ljungqvist, presidente da comissão médica do Comitê Olímpico Internacional e uma das maiores opositoras dos exames.

Em 1999, Ljungqvist ajudou a abolir a examinação das mulheres, mas as competições internacionais continuaram a se apoiar em exames de verificação do sexo em instâncias isoladas.

"Precisamos estar preparados para os casos que surgirem", disse Ljungqvist. "Algumas vezes, alumas atletas são apontadas e para protegê-las temos que investigar e esclarecer os fatos".

Obstáculos
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Há dois anos, a corredora Santhi Soundarajan da Índia perdeu sua medalha de prata dos Jogos Asiáticos depois de falhar num exame de verificação. Ljungqvist disse que o responsável que observou Soundarajan durante o teste de urina obrigatório questionou seu sexo e ela depois se recusou a passar por um exame mais detalhado.

Apesar do exame de verificação ter mudando para adaptar novos conhecimentos científicos sobre o sexo (as atletas agora são avaliadas por uma endocrinologista, ginecologista e geneticista, além de um psicólogo) os críticos dizem que o exame se baseia sobre uma falsa idéia de que o sexo é uma questão preto e branca.

"Agora é muito difícil determinar o que é um homem e o que é uma mulher", disse Christine McGinn, cirurgiã plástica que se especializa em medicina transgênero.

Por causa de uma gama de condições genéticas, as pessoas que parecem mulheres podem ter um cromossomo Y, enquanto pessoas que parecem homens não tem, ela disse. Muitas vezes, as pessoas não sabem sobre esses defeitos até que chegam à idade adulta. "Isso se complica tudo", disse McGinn.

Apesar de décadas de rigorosos exames em atletas, há apenas um caso conhecido de fraude do sexo na história da Olimpíada moderna (e não foi descoberto por um exame de verificação do sexo).
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Em 1936, uma atleta alemã conhecida como Dora Ratjen ficou em quarto lugar no salto em altura. Quase 20 anos depois, Ratjen revelou que de fato era Hermann Ratjen e que os nazistas o forçaram a competir como uma mulher.