Justiça russa reabilita último czar e sua família
Após 90 anos, Suprema Corte reconhece os Romanovs como vítimas de repressão política dos bolcheviques
Após 90 anos, Suprema Corte reconhece os Romanovs como vítimas de repressão política dos bolcheviques
Michael Schwirtz, The New York Times - Estadão
A Suprema Corte da Rússia decidiu ontem a favor da plena reabilitação do último czar russo, Nicolau II, e de sua família, reconhecendo oficialmente os Romanovs como vítimas de "repressão infundada" 90 anos após sua execução.
A decisão é o mais recente passo na reinterpretação pós-soviética da história da Rússia, que tem assistido a uma nova aceitação de uma monarquia que já foi recriminada por brutalidade e atraso, acompanhada tanto por nostalgia como por reconsiderações condenatórias de sete décadas de regime soviético.
Os historiadores soviéticos construíram relatos que enfatizavam a culpa de Nicolau II, ou "Nicolau Sanguinário", por fomes, guerras e colapso social. Mas com o fortalecimento do nacionalismo russo após a queda da União Soviética, o czar tem sido descrito cada vez mais como um visionário contrariado e um farol da fé ortodoxa russa. A igreja, que canonizou os Romanovs como mártires em 2000 e também foi perseguida na era soviética, saudou a decisão do tribunal. Em sua decisão de ontem, o tribunal reverteu um veredicto de novembro quando decidiu que os Romanovs não estavam qualificados à reabilitação porque sua execução foi um ato criminoso, e não de repressão política.
Em julho de 1918, por ordem de Lenin, o czar, sua mulher, Alecsandra, e seus filhos, Olga, Tatiana, Maria, Anastásia e o herdeiro do trono de 13 anos, Alexei, foram executados a tiros no porão de uma casa em Yekaterinburgo, centro da Rússia. Vários membros da criadagem da família também foram mortos. A matança pelo nascente governo bolchevista pretendia consolidar seu controle do poder em meio à intensificação da guerra civil.
Os corpos dos Romanovs provavelmente foram mergulhados em ácido para ocultar suas identidades antes de ser enterrados. Os restos de Nicolau, Alecsandra e de três dos cinco filhos foram descobertos em 1991 nos últimos dias da União Soviética e enterrados em 1998 em São Petersburgo. Os restos dos dois outros filhos continuaram desaparecidos até agosto de 2007, quando um arqueólogo em Yekaterinburgo desenterrou fragmentos de ossos de um local perto da região onde os outros Romanovs haviam sido enterrados. As autoridades anunciaram no começo deste ano que testes de DNA haviam confirmado que os restos pertenciam a Alexei e Maria.
"Essa decisão mostra o primado da lei e a vitória da Justiça sobre o mal e a tirania", disse German Lukyanov, o advogado da grã-duquesa Maria Vladimirovna, uma descendente dos Romanovs que três anos atrás iniciou a ação judicial pedindo a reabilitação de sua família.
Ainda não está claro por que o governo russo demorou tanto tempo para reabilitar o czar. Alguns sugeriram que os atuais líderes da Rússia temiam que os descendentes dos Romanovs tentassem reclamar as propriedades confiscadas pelos bolchevistas, enquanto outros especulam que o motivo seriam as recentes mudanças na liderança do país.
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