Transferência tecnológica definirá concorrência
Fonte: Gazeta Mercantil - Caderno A - Pág.5 - Bruno De Vizia - O jornalista viajou a convite do Saab Group
Em época de vacas magras na economia mundial uma venda de 2,2 bilhões de euros não pode ser desprezada. Essa é a quantia envolvida no projeto F-X2, das Forças Armadas brasileiras, para a compra de 36 caças multiemprego. Três empresas - a norte-americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab - foram selecionadas pela Força Aérea Brasileira (FAB), todas prometendo transferência tecnológica e fornecimento do código-fonte de seus softwares, condições exigidas pela FAB. A expectativa é que a escolha definitiva seja feita no segundo semestre, e os caças deverão ser entregues a partir de 2014, com estimativa de vida útil de, no mínimo, 30 anos.
Esta semana a FAB iniciou uma série de reuniões de esclarecimentos com as três fabricantes, para detalhamento das propostas recebidas no dia 2 de fevereiro deste ano. De acordo com informações do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, as reuniões devem se estender pelas próximas duas semanas, e na ausência de novos questionamentos, será iniciada a fase de visitas técnicas às fábricas e vôos de ensaio de cada uma das três aeronaves (o Boeing F18 E/F Super Hornet; o Dassault Rafale; e o Saab Gripen NG).
A transferência de tecnologia, que tem implicações militares e civis, é garantida por todas as empresas participantes do certame. A questão é considerada fundamental pelo governo brasileiro, que intenciona desenvolver a indústria bélica nacional, e também a indústria civil e empresas de tecnologia. Com o intuito de se aproximar de empresários brasileiros, a francesa Dassault promoveu ontem, em conjunto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um seminário sobre tecnologia de defesa da França, que contou com a participação de cerca de 90 empresas, dentre francesas e brasileiras.
Santos Dumont
Os franceses contam a seu favor com uma longa tradição de parceria militar entre os dois países, e chegaram a lembrar que o primeiro voo de avião do mundo foi feito por um brasileiro, Santos Dumont, filho de pai francês e mãe brasileira, e aconteceu na cidade francesa de Bagatelle, em 1906. No final de janeiro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês Nicolas Sarkozy assinaram um acordo de associação estratégica na área de defesa, que envolve a transferência de tecnologia francesa para a fabricação de 50 helicópteros e a montagem de quatro submarinos convencionais e um nuclear.
Segundo Jean Marc Merialdo, representante da Rafale Internacional no Brasil, no intuito de desenvolver a indústria brasileira, está sendo considerada no projeto o estabelecimento de uma linha de montagem do avião aqui no Brasil. Ele destaca que "o processo de exportação de armamentos na França é diferente [do processo] dos outros países, pois há uma autorização prévia do governo, e com isso a exportação não precisa de sanção do parlamento".
O forte apoio governamental também é citado pelos suecos do Gripen NG. Segundo Ake Svensson, presidente mundial da Saab, o governo sueco já se comprometeu a transformar o Gripen NG na espinha dorsal da defesa sueca, e manterá as compras mesmo se o caça não vencer outras licitações internacionais. Com isso o executivo pretende garantir a continuidade do projeto, e com isso demonstrar a possibilidade de desenvolvimentos futuros em conjunto com o Brasil. "Nunca vimos tanto interesse no Gripen como estamos vendo agora. A meta é vender 200 aviões nos mercados remanescentes", citando a licitação brasileira e a indiana, que envolve a compra de 156 aeronaves, como as duas de maior possibilidade para a empresa.
Pedidos mantidos
O executivo avaliou que após o agravamento da crise financeira internacional houve uma queda imediata na produção de aviões civis, mas na área militar estes efeitos ainda não foram tão rápidos. "Fomos afetados no fluxo de caixa, mas temos 80% dos pedidos para este ano garantidos", afirma Svensson. Ele cita ainda que o investimento em alta tecnologia durante a crise pode beneficiar as indústrias brasileiras quando a economia mundial se recuperar, e fortalecer as possibilidades de mais transferência tecnológica entre as indústrias dos dois países.
A Boeing também está entrando pesado na disputa, e usa como moeda de troca o acesso brasileiro ao maior mercado de defesa do mundo, o norte-americano. O vice-presidente da Boeing Integrated Defense Systems, Bob Gower, disse recentemente à Gazeta Mercantil que a proposta entregue à FAB tem o completo "aval de boa fé" do governo americano.
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