Aviação Militar Chinesa uma breve análise
A força aérea chinesa alinha actualmente com perto de 2300 aviões de combate de vários tipos, ou seja, a China tem hoje aquela que é numéricamente a segunda maior força aérea do mundo, logo, atrás da USAF americana, com os seus impressionantes 6013 aviões (ver AQUI). Contudo, apesar de um esforço considerável nos últimos anos esta segunda posição deixa-a ainda a uma imensa distância da USAF… Na própria estrutura de forças militares chinesas, a PLAAF está relegada a um papel secundário em relação ao Exército. De facto, até 1995, o chefe máximo da PLAAF nem sequer era um aviador, mas um oficial do Exército nomeado para a gerir a PLAAF e isto somente explica muita da dificuldade que a PLAAF tem tido em cativar recursos e meios ao longo da sua História, uma dificuldade que só foi atenuada nos últimos anos…
Actualmente, o grande problema da PLAAF continua a ser o treino e o número de horas de vôo por piloto. Depois da Revolução Cultural, esse número caiu abruptamente para menos de 24 horas de vôo anuais por piloto, e o número só tornou a subir no final da década de 70, sendo o valor actual ainda pouco superior ao que era em 1968, voando apenas 100 horas anuais, ou seja, cerca de metade dos pilotos japoneses ou dos EUA, e ainda menos que as 150 horas dos pilotos da Marinha brasileira (ver AQUI). Como se não bastasse estes baixos níveis de preparação (que aliás podem ter estado na base deste incidente com o P-3 Orion dos EUA em Abril de 2001), a PLAAF sofre também dos males do uso de uma estratégia de emprego de forças ultrapassada que considera os meios aéreos como uma parcela secundária das operações terrestres. Os pilotos são intruídos para preservar o seu dispendioso aparelho a todo o custo e não levam as suas máquinas até aos seus limites, com receio das represálias que podem sofrer em caso de o perderem.
(J-6 (Mig-19 da PLAAF in http://www.aerospaceweb.org)
Por outro lado, o grosso dos aviões ao dispôr da PLAAF continua ser obsoleto e será ainda por muitos anos. Como se pode ver AQUI hoje em dia ainda existem centenas de aviões J-6 (MiG-19) em actividade, e 500 J-7 (MiG-21) e 650 J-8 (cópia local do Su-15) até 2015 (!). Destes, o J-8 parece ser um aparelho especialmente fraco… Desenvolvido em 1964 e consistindo numa expansão do desenho do J-7 (MiG-21), o caça procurou replicar muitas das características do Su-15 soviético, mas logo no começo da sua carreira foi flagelado por uma sucessão de avarias, entrando em uso operacional apenas 20 anos depois, nos começos da década de 80… Dada as patentes limitações do J-8, a PLAAF pressionou logo quase de seguida a favor do desenvolvimento de um novo aparelho, o J-8 II
(J-8 II in http://images.janes.com)
Esta versão do J-8 já seria um avião de combate minimamente decente e começaria a entrar em serviço em 1984, ainda não um avião multirole, como já começava a ser doutrina no Ocidente, mas um interceptor dedicado, não particulamente ágil (mas bastante mais do que o primeiro J-8) e incapazes das missões multirole exigidas actualmente a um avião de combate de primeira linha. Estas características, assim como as maleitas resultantes da aplicação da doutrina chinesa do emprego de meios aéreos resultaram de forma estrondosa na curta, mas tenaz, guerra fronteiriça que a China e o Vietname travaram em 1979 (ver AQUI ) e onde as divisões terrestres chinesas avançaram sem qualquer apoio aéreo, sem missões de reconhecimento, controlo do espaço aéreo, patrulhamento, nem bombardeamento táctico ou estratégico. Básicamente, os pilotos ficaram nas suas bases, esperando ordem para deslocar, se houvesse uma incursão da força aérea vietnamita. Como esta não ocorreu durante esses 29 dias, nenhum aparelho chinês entrou em acção…
A partir da década de 80, a China começou um programa sistemático de actualização dos seus meios aéreos, começando pela aquisição nebulosa de um MiG-23 egípcio que foi estudado em grande detalhe, seguindo os mesmos processos que mais tarde transformariam o Lavi israelita no J-10 (ver AQUI). Muitos destes ensinamentos seriam aplicados no J-9, cujo primeiro protótipo voou em 1975, mas sem continuidade já que o projecto seria abandonado em 1980… Contudo, muito dele, nomeadamente as asas em canard, seriam reutilizadas na adaptação local do Lavi, o J-10 acima mencionado.
Existem algumas semelhantes nas doutrinas de emprego da força aérea entee a China actual e a extinta União Soviética, mas esta última alocava consideravelmente mais recursos à chamada “Aviação Frontal” do que alguma vez o Governo chinês. Isto embora houvessem algumas semelhanças notáveis, como a opção de emprego de aviões diferentes para missões diferentes, de ataque ao solo e intercepção, seguindo o modelo soviético e em contracorrente com a moderna doutrina ocidental que privilegia aparalhos multifunções. Em regra, a força aérea soviética dedicava 40% dos seus aviões de guerra a aparelhos de ataque ao solo, como o Su17 ou Su-25, a China, embora mantenha a doutrinha, dedica muito menos meios a esse papel, alocando pouco mais de 10% do inventário total a aviões de ataque ao solo.
Esta doutrina começou a mudar com a queda do Muro do Berlim, uma vez que a outrora poderosa indústria aeronáutica russa começou a ter dificuldades, já que a força aérea russa vegetava e cancelava todas as encomendas para os anos vindouros. Esta decadência concedeu à China a oportunidade perdida em 1959, com a quebra de relações entre a China Popular e a URSS de retomar os contactos e de recuperar o tempo perdido…
Logo em 1990, volvido apenas um ano, surgia a primeira encomenda chinesa para 72 caças Su-27 e a engenharia reversa tornava-se uma das principais actividades sobre estes caças… Pela primeira vez, desde a década de 50, a China tinha capacidade para se opôr aos melhores aviões dos seus vizinhos e esta tendência foi novamente reforçada em 1996 com a compra de mais 200 Su-27. Em 1999, começava a produção local – sob licença – do excelente Su-30MKK, num número que rápidamente chegaria aos 140 aparelhos em operação.
(Caça ligeiro sino-paquistanês FC-1 in http://www.chinatoday.com)
Entretanto, o desenvolvimento do programa sino-paquistansês Super-7 continuava, agora somando tecnologia americana da Gruman a nova tecnologia russa, nomeadamente motores. A força aérea chinesa perdera entretanto o seu interesse – renovada agora como estava pelos novos caças russos Sukhoi – mas o Paquistão manteve vivo o programa encomendo 150 unidades do FC-1. Usando uma variante do motor russo RD-33 do MiG-29.
Conclusão:
A força aérea chinesa (PLAAF) tem actualmente em inventário mais de 2300 aviões, em diferentes graus de operacionalidade e de diversos tipos. Destes, cerca de 450 são aviões de transporte e do todo, perto de 2/3 está estacionada nas regiões mais a este. O programa de actualização – recorrendo a tecnologia russa – em curso desde 1992 introduziu em serviço centenas de aparelhos Su-27 e Su-30, assim como a variante local do Su-27, o Su-27SJ e os novos J-10 – grosso modo equivalentes ao F-16 ameriano – começam também agora a surgir em números apreciáveis. Em suma, estima-se que actualmente perto de três centenas de aviões de primeira linha estejam em operação na PLAAF. É um número apreciável, mas ainda muito modesto para a extensão geográfica e demográfica da China e o facto de mais mil unidades de J-7 e J-8 se encontrarem ainda em serviço mostra bem o grau de abandono a que a PLAAF esteve abandonada até aos anos 90… Em termos de bombardeamento estratégico, a situação é patética… Sem importações russas, a PLAAF teve que requerer a reabertura das linhas de construção do ultrapassado H6 (Tu-16). Entre este panorama, persistem dúvidas quanto à verdadeira modernidade das doutrinas de emprego de forças em vigôr e, sobretudo, quanto ao treinamento e horas de vôo dos pilotos… Em sima, a PLAAF começa a ser uma adversário temível, especialmente nos números e tipos de aparelhos empregues, mas no todo… ainda não passa de um… “tigre de papel”.
(Bombardeiro H-6 (Tu-16) in http://www.chinatoday.com)
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