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Sud Aviation Caravelle: o primeiro jato comercial a operar no Brasil
Fonte: Cultura Aeronautica - por JONAS LIASCH
Fonte: Cultura Aeronautica - por JONAS LIASCH
Durante a década de 1950, a indústria aeronáutica começou a lançar os primeiros aviões de passageiros equipados com motores a reação. A Grã-Bretanha foi pioneira nesses desenolvimentos, e tanto o primeiro turbo-hélice quanto o primeiro jato comercial eram ingleses, respectivamente o Vickers Viscount e o De Havilland Comet I.
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O projeto do Caravelle foi resultado de uma concorrência promovida pelo Comité du Matériel Civil (Comitê de Aeronaves Civis) da França, a qual não especificou nem o tipo nem a quantidade de motores, mas sim uma capacidade de carregar entre 55 e 65 passageiros e 1.000 Kg de carga a uma distância de até 2.000 Km a 650 Km/h. Diversos quadrimotores, trimotores e aeronaves com motores auxiliares participaram dessa concorrência.
Em 1952, a Rolls-Royce apresentou um novo motor turbojato Avon, capaz de desenvolver 9.000 libras de empuxo. O Comitê solicitou então à Sud-Est que modificasse seu projeto X-210, que foi concebido para usar 3 motores Avon do modelo anterior, para bimotor, usando os Avon mais potentes então oferecidos pelo fabricante britânico. O resultado foi o SE-210 Caravelle, o jato europeu mais bem sucedido até o lançamento dos Airbus A300, nos anos 70.
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O primeiro protótipo foi concluído em 21 de abril de 1955, e voou pela primeira vez em 27 de maio. O segundo protótipo voou em 6 de maio de 1956. Os testes foram bem sucedidos e o Caravelle se mostrou muito promissor. Por essa época, a SNCASE fundiu-se com a SNCASO (Société nationale de constructions aéronautiques du sud-Ouest), formando a Sud-Aviation. A designação do Caravelle, entretando, continuou a ser SE-210.
Duas empresas aéreas encomendaram a aeronave, a Air France e a SAS - Scandinavian Air System, em 1956 e 1957, respectivamente. Mais clientes apareceram, impressionados pelo desempenho dos protótipos apresentados nas feiras aeronáuticas. O Caravelle conseguiu seu Certificado de Aeronavegabilidade em maio de 1959, entrando em serviço na Air France e na SAS logo em seguida. Ainda em 1959, o Caravelle tornou-se o primeiro avião a realizar um pouso totalmente automático.
Um dos primeiros clientes da Sud Aviation para o Caravelle foi a VARIG. A empresa já havia encomendado dois Boeing 707-441 para atender as linhas internacionais, em 1958, mas resolveu adquirir duas aeronaves Caravelle para atender rotas mais curtas. Como a linha de produção da Boeing estava congestionada, os Caravelles acabaram chegando primeiro e foram os primeiros jatos comerciais a operar no Brasil, estreando em uma rota totalmente inadequada para o tipo, Rio de Janeiro a Nova York, revezando com os Lockheed Super Constellation. A Varig, em uma decisão bastante controvertida, resolveu vender os Caravelles em 1963, ficando em clara desvantagem perante a Panair do Brasil, que também adquiriu uma frota de Caravelles para voos domésticos. Os Caravelle da Panair operaram posteriormente pela Cruzeiro.
A tecnologia da época avançava a passos largos. Durante o período de fabricação dos Caravelles, várias aeronaves foram modificadas ainda na linha de produção para utilizar motores mais potentes e aumentar a carga paga:
- Caravelle I: semelhante aos protótipos, com motores Avon, sem reversores de empuxo;
- Caravelle IA: 50 cm mais longos que o protótipo, com maior peso e motores maiores;
- Caravelle III: com o mesmo comprimento do IA mas com maior peso e motores maiores. Foi a série mais vendida, com 78 unidades produzidas. 32 Caravelle I foram aperfeiçoados e convertidos em Caravelle III;
- Caravelle VI-N: semelhante ao Caravelle III, mas com motores Avon ainda mais potentes. Alguns modelos III foram convertidos em VI-N;
- Caravelle VI-R: semelhante à série VI-N mas equipados com reversores de empuxo e spoilers;
- Caravelle VII: modificação da série III comprada pela General Eletric (GE) e equipada com motores GE CJ-805. Deveria ser comercializada nos EUA, mas perdeu a vez para os Douglas DC-9
- Caravelle 10A: baseado na série VII, com uma fuselagem um metro mais comprida, com as janelas mais elevadas em 20 cm, e equipado com uma APU instalado no cone de cauda e com flaps melhores nas asas. Destinava-se também ao mercado norte-americano, mas também foi preterido em favor do DC-9;
- Caravelle 10B (Super-Caravelle): baseado no Caravelle 10A, mas equipado com motores Pratt & Whitney JT8D em vez dos motores GE;
- Caravelle 10R: série resultante da combinação dos motores da série 10B com a fuselagem da série VI-R, criando um avião menor, mas bem mais potente;
- Caravelle 11R: variante do Caravelle 10R, mas incorporando porta de carga e podendo transportar carga e passageiros em configuração mista.
- Caravelle 12 (Super-Caravelle): desenvolvimento da série 10B com uma fuselagem mais longa em 3,2 m e uma versão mais potente dos motores P&W JT8D, destinada ao transporte de até 128 passageiros.
O Caravelle tinha uma excelente razão de planeio, de 22:1, o que permitiu a realização de um voo recordista, em 1959, de um voo inteiramente planado entre a vertical de Paris, a 43 mil pés, e a cidade de Dijon, com duração de 46 minutos.
A produção foi encerrada em 1972, com dois protótipos e 280 aeronaves de produção, para um break-even point (cobertura dos custos de desenvolvimento e produção) de 200 aeronaves. A experiência adquirida pela Sud-Aviation com o Caravelle foi essencial para o desenvolvimento de uma aeronave supersônica de passageiros, que iria terminar no projeto binacional (Grã-Bretanha - França) do Concorde.
Em 1º de dezembro de 2004, a EADS, sucessora da Sud Aviation, pediu o cancelamento do Certificado de Aeronavegabilidade dos SE-210 Caravelle, praticamente encerrando a carreira desse grande avião. Entretanto, na Suécia, um grupo de entusiastas, Le Caravelle Club, mantém uma célula de Caravelle III em boas condições, matriculada como SE-DAI e tem condições de colocá-la em voo, ainda que como aeronave experimental.
A produção foi encerrada em 1972, com dois protótipos e 280 aeronaves de produção, para um break-even point (cobertura dos custos de desenvolvimento e produção) de 200 aeronaves. A experiência adquirida pela Sud-Aviation com o Caravelle foi essencial para o desenvolvimento de uma aeronave supersônica de passageiros, que iria terminar no projeto binacional (Grã-Bretanha - França) do Concorde.
Em 1º de dezembro de 2004, a EADS, sucessora da Sud Aviation, pediu o cancelamento do Certificado de Aeronavegabilidade dos SE-210 Caravelle, praticamente encerrando a carreira desse grande avião. Entretanto, na Suécia, um grupo de entusiastas, Le Caravelle Club, mantém uma célula de Caravelle III em boas condições, matriculada como SE-DAI e tem condições de colocá-la em voo, ainda que como aeronave experimental.
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