Brasil impediu ação americana no Suriname

Em uma tarde de abril de 1983, o então presidente João Figueiredo recebeu o embaixador dos Estados Unidos, Anthony Motley, para uma visita fora da agenda do Palácio do Planalto. Más notícias. Motley, acompanhado de um assessor da Casa Branca, levava ao conhecimento do governo brasileiro a intenção do presidente Ronald Reagan de determinar uma intervenção militar no Suriname. O diplomata sustentava sua argumentação com fotos aéreas e informações da inteligência americana comprovando a presença crescente de soldados de Cuba no país. Seriam cerca de 400 deles - o equivalente a um terço do contingente das Forças Armadas surinamesas - em instalações próprias, fechadas e com características de centros de treinamento.



A presença de um núcleo multiplicador da revolução socialista cubana no continente era inaceitável. Figueiredo reagiu depressa. Despachou para Paramaribo, no avião presidencial, o general Danilo Venturini, secretário do Conselho de Segurança Nacional. A missão de Venturini era oferecer ao líder surinamês, Desi Bouterse, suporte técnico em setores estratégicos, linhas de crédito e parceria em programas de infraestrutura - com o compromisso de afastamento rápido e inequívoco de Havana. Deu certo. No dia 26 de outubro o embaixador cubano, Oscar Cardenas, deixou o país. Seis dias mais tarde só o zelador permanecia na representação diplomática.

O episódio implicou uma certa tutela brasileira sobre o Suriname nos 20 anos seguintes. Foi aberta uma linha de crédito de emergência de US$ 10 milhões e entregues seis blindados Cascavel, armados com canhão de 90 milímetros.

Essa frota foi seguida de outra, composta por 15 blindados Urutu para transporte de tropas. Oficiais passaram a ser preparados nas escolas de comando brasileiras. Do pessoal das três forças do

Suriname, 1.840 militares, aproximadamente 300 falam português, aprendido na escola criada por uma equipe do extinto Serviço

Nacional de Informações, o SNI, em 1984, e ainda em funcionamento. O general Octávio Medeiros, chefe do SNI em 1983, morto em 2005, lembrou, em depoimento para sua biografia profissional, que o Exército do Brasil auxiliou, "muito diretamente", o esforço de Desi Bouterse para conter mercenários "pagos e equipados por empresários europeus" que, segundo ele, pretendiam derrubar o governo. O sistema de comunicações e telefonia do Suriname foi projetado, financiado e instalado por empresas brasileiras. O governo do atual presidente, Ronald

Venetiaan, mantém ativos todos os compromissos de cooperação bilateral.

Fonte: O Estado de São Paulo - Por: Roberto Godoy.