A reportagem de capa da edição desta semana da revista britânica The Economist deve provocar uma reviravolta na cabeça de muitos economistas que tentam entender a expansão dos países emergentes. O avanço da China e da Índia – ou mesmo do Brasil, citado com menor destaque na revista – deixou de ser apoiado apenas na exploração de mão-de-obra barata e agora está fundado também na inovação.
Essa constatação “perturba” os países ricos, diz a revista. “Os campeões dos mercados emergentes não apenas provaram ser altamente competitivos em seus quintais, como também globalmente.”
O caso da Embraer é mencionado na reportagem como exemplo de empresas sediadas em países emergentes que montam seus produtos a partir de componentes fabricados em nações ricas. “A indiana Bharat Forge na área de fornos, a chinesa BYD em baterias e a brasileira Embraer em aviões a jato são melhores do que quaisquer outras [empresas] no mundo [em suas respectivas áreas]”, diz a Economist.
O avanço dos emergentes de hoje repete um processo ocorrido há 30 anos, na avaliação da reportagem. Quando o Japão destronou os Estados Unidos na produção de automóveis, as explicações preferidas dos economistas norte-americanos eram de que o país asiático tinha mão-de-obra barata e dava subsídios às empresas, segundo a Economist. Mais tarde, especialistas viram que o sucesso japonês deveu-se à inovação de novas formas de produção.
Uma diferença é que, desta vez, a ascensão dos emergentes está ocorrendo em ritmo mais veloz e em maior número de setores do que no caso do crescimento japonês. Além disso, os problemas históricos dos países pobres criam dificuldades que obrigam as empresas a serem ainda mais eficientes, na visão da Economist. “A combinação de desafios e oportunidades está produzindo um efervescente coquetel de criatividade [nos países emergentes].”
As economias ricas, no entanto, não deveriam se incomodar, segundo a reportagem. Em momento de crise, os produtos baratos vindos dos países pobres “serão uma bênção” para as nações ricas; podem, como exemplifica a revista, ajudar o sistema de saúde norte-americano a reduzir seus custos.
A revista ressalva que os países em desenvolvimento ainda estão “cercados de problemas”, como o caso do Google, que recentemente parou de operar na China devido à censura.
Além da mão-de-obra barata
Veja alguns dados citados pela Economist mostrando que o mundo emergente deixou de ser apenas um espaço para fornecer mão-de-obra barata a empresas de países ricos:
. O número de empresas dos Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China) no ranking Financial Times 500 (das 500 maiores companhias do mundo) mais do que quadruplicou de 2006 a 2009, passando de 15 para 62
. Empresas da Financial Times 500 têm hoje 98 polos de pesquisa e desenvolvimento instalados na China e 63 na Índia
. As 20 maiores multinacionais brasileiras mais que dobraram seus ativos no exterior em apenas um ano (2006)
. Multinacionais esperam que 70% do seu crescimento nos próximos anos venha de países emergentes
Leia a reportagem especial da Economist (em inglês)
Veja o comentário resumido no site da Economist (em inglês)
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