Míssil X-51: ataca qualquer alvo no planeta em menos de uma hora

No dia 20 de Agosto de 1998 as agências secretas americanas localizaram Osama Bin Laden num campo de treino da Al-Qaeda no Afeganistão. Aos comandos políticos e militares abria-se uma oportunidade praticamente irrepetível para eliminar aquele que, muito antes do 11 de Setembro, era já um dos principais inimigos da América. Estacionado no mar Arábico, o USS Abraham Lincoln recebe ordens para lançar mísseis cruzeiro Tomahawk. A viagem (mesmo à velocidade de 880 quilómetros hora) demorou duas horas e quando os Tomahawk começaram a roncar nos céus afegãos já Bin Laden se tinha evaporado (ver infografia).

É verdade que as forças americanas têm no seu arsenal mísseis balísticos capazes de destruir qualquer alvo numa questão de minutos. Mas o problema destas armas é que a sua capacidade destrutiva é de tal modo excessiva que o seu uso é mais que improvável. Falamos, claro, das armas nucleares. "No ambiente estratégico actual, só temos zeros e uns. Podemos decidir usar armas nucleares ou não", confessa o capitão Terry Benedict, da marinha norte-americana.

Nos Estados Unidos nenhum estratego militar esquece o episódio de 1998. Por isto, e também por estar comprometida com um mundo livre do nuclear militar, a administração Obama está a trabalhar numa nova classe de armas convencionais capazes de atingir qualquer ponto do globo em menos de 60 minutos - ao mesmo tempo que mantém o poder de dissuasão americano.


No âmbito do programa Prompt Global Strike (Ataque Global Imediato), liderado pelo Departamento da Defesa, está a ser desenvolvido um novo míssil: o X-51. Utilizando tecnologia espacial da NASA, esta será a única arma não nuclear capaz de atingir velocidades Mach-5 (5793 quilómetros por hora) e que transforma em vantagens os efeitos brutais da velocidade hipersónica, destruindo os alvos aliando a força cinética a uma ogiva convencional.

"No papel estamos perante uma evolução tecnológica brutal. Mas os 'ses' só começam a aparecer na vertente operacional", explica ao i Francisco Galamas, investigador na área do armamento. De acordo com o Pentágono, este sistema nunca estará operacional antes de 2015 e o mais provável é que o seu desenvolvimento se prolongue até 2020. A nova arma pode ser lançada de um bombardeiro B-52 e é capaz de estilhaçar uma central nuclear iraniana ou norte-coreana, destruir um navio carregado de armamento no Médio Oriente ou ainda rebentar com o esconderijo de Bin Laden. Tudo com precisão extrema, em poucos minutos e com uma potência localizada equiparada à de uma bomba nuclear - sem a chacina inerente a uma bomba radiológica.

"A grande novidade deste sistema é combinar uma precisão quase cirúrgica com potência e uma capacidade quase instantânea de reacção", sustenta Galamas, alertando contudo para os problemas estratégicos que a implementação de um sistema deste tipo pode apresentar às potências rivais. "A Rússia já deu sinais de que pode vir a desenvolver o seu próprio sistema antimíssil."

Na força aérea americana espera-se que o X-51 seja mesmo uma realidade. "Tenho imensa confiança que vai funcionar", diz Mark Lewis, o cientista chefe da força aérea.

Apoio político, à partida, não faltará. Robert Gates, o secretário da Defesa, expressou na ABC o "acolhimento" que a administração deu ao Prompt Global Strike. Prova disso são os 250 milhões de dólares que Obama pediu ao Congresso para explorar esta alternativa, que combina tecnologia militar e aeroespacial de topo. John McCain, candidato presidencial republicano em 2008, também já manifestou o seu apoio a um programa que tem tanto de "caro como de essencial".

As reservas relativas à nova geração dos mísseis Trident, inicialmente pensados para incorporar o "Prompt Global Strike", fez com que muita gente no Departamento de Defesa se virasse para alternativas. A resposta deverá ser o X-51: uma arma que nos radares de Pequim ou Moscovo não é confundida com um míssil nuclear. Por isso, e como sustenta um oficial americano de topo, "ninguém se vai ter de preocupar em começar uma terceira guerra mundial."

por Gonçalo Venâncio e Joana Azevedo Viana - Do IONLINE