A administração norte-americana avisou os seus cidadãos de que devem proteger cuidadosamente os seus números de Segurança Social. Mas é a própria administração dos EUA que tem falhado na protecção desses mesmos números no que diz respeito a milhões de membros das suas forças armadas: soldados, marinheiros, aviadores e fuzileiros.
Nas bases e nos quartéis, em solo americano e em todo o mundo, o pessoal militar continua a servir-se dos seus números de Segurança Social como identificação pessoal em dezenas de situações do quotidiano, desde o preenchimento de formulários de saúde até à requisição de bolas de basquetebol no ginásio que frequentam. Milhares de soldados colocados no Iraque chegam a imprimir os últimos quatro algarismos do seu número nos sacos da roupa para lavar.
Tudo isso está a expor os militares a grandes riscos de roubo de identidade, segundo concluiu um novo e duro relatório preparado por um oficial dos serviços secretos do Exército que agora é professor na Academia de West Point, o tenente-coronel Gregory Conti. O relatório conclui que os militares precisam de abandonar esta prática, apesar de ter sido generalizada desde a década de 1960.
"Os militares e as suas família vivem num ambiente profissional que revela pouca consideração pelos seus dados pessoais", explica o relatório, que acrescenta que "as unidades dos militares, a sua prontidão militar e a eficácia como combatentes vão pagar um preço alto por esta prática durante décadas."
Os representantes dos militares dizem que estão cientes do problema e a tomar medidas para o resolver. A Marinha e os fuzileiros têm-se esforçado nesse sentido nos últimos meses e o departamento da Defesa diz que, em 2008, estava a tomar medidas para alterar o prazo limite para a utilização dos números de Segurança Social e, em comunicado, declarou que esses números iam deixar de figurar nos novos cartões de identidade, que vão ser usados a partir de Maio.
Mas Gregory Conti já afirmou que a prática ainda não se alterou: "Quanto mais nos afastamos do mastro de bandeira do quartel-base, tanto mais fácil é que essas regras sejam anuladas pela realidade operacional."
O valor dos números Os números de Segurança Social são valiosos para ladrões, porque servem frequentemente de principal elemento de identificação quando se lida com bancos e empresas emissoras de cartões de crédito. Em mãos erradas, podem causar uma cascata de problemas, como a recusa de crédito e podem levar a situações que dificultem aos militares a obtenção de credenciais de segurança ou promoções.
Segundo a Javelin Strategy and Research, entidade que investiga roubos de identidade, só em 2009 os números de Segurança Social foram a causa de 32% dos roubos de identidade em que as vítimas sabiam de que maneira os seus dados tinham sido obtidos.
A mais recente investigação da Javelin sobre roubos de identidade no meio militar foi em 2006. Os resultados mostram que 3,3% dos militares no activo tinham sido vítimas desse tipo de fraude, um valor ligeiramente mais baixo do que o referente à população em geral (3,7%). Mas, em termos gerais, o roubo de identidade está a aumentar nos Estados Unidos: em 2009, a percentagem a nível nacional subiu para os 4,8%, com prejuízos médios por pessoa de 373 dólares, calcula a Javelin.
A maioria de tais incidentes afecta indivíduos e agregados familiares e não chega aos cabeçalhos das notícias. Em Junho, a procuradoria de Nova Iorque anunciou que tinha sido acusado um gangue de ladrões de identidade que, de entre outras pessoas, tinha feito vítimas 20 soldados de Fort Hood, no Texas.
Segundo o gabinete do procurador regional, os números de segurança social dos soldados tinham sido roubados da base por um antigo elemento do Exército que se tinha mudado para Nova Iorque. Os ladrões de identidade fizeram 2.515 tentativas de violarem identidades de soldados, obtendo livros de cheques e cartões de crédito em nome dos militares.
Os responsáveis dizem que alguns dos soldados tinham sido escolhidos como vítimas por estarem colocados no Iraque ou no Afeganistão, o que ia levar a que demorassem mais tempo para perceber a fraude. É precisamente esse o receio dos responsáveis militares relativamente à vulnerabilidade dos soldados: ''Um operacional destacado para paragens longínquas nada pode fazer contra os danos de que está a ser vítima nos Estados Unidos", diz Steve Muck, chefe dos serviços de informações da Marinha, responsável pelas políticas de privacidade respeitantes aos militares da Marinha e do corpo de fuzileiros. "É uma questão importante."
Como primeira grande medida para proteger os números de Segurança Social dos militares, o departamento da Marinha espera ter, ainda este mês, resultados de um estudo exaustivo, ao abrigo do qual cada departamento terá de justificar a utilização desses números em vários processos burocráticos ou de removê-los. Steve Muck espera que se prove que 50% das utilizações são injustificadas.
O estudo cita práticas, já eliminadas, que, segundo Steve Muck, não faziam sentido nenhum, como utilizar um número de Segurança Social para requisitar uma raqueta ou uma toalha num ginásio, obter uma injecção contra a gripe ou comprar um par de calças no economato de um navio. Os filhos dos militares, às vezes com apenas dez anos, andam com o número de Segurança Social, tal como os pais.
Há cerca de seis meses, o departamento da Marinha lançou uma campanha para alertar o pessoal colocado fora dos EUA para os riscos desta prática. Num cartaz em circulação no golfo Pérsico vê-se um fuzileiro sentado num Humvee, vestido com um camuflado e de metralhadora em punho, sobre as palavras "Quem anda a usar o meu cartão de crédito?" O cartaz diz ainda que "um militar em destacamento operacional não deve andar preocupado com roubos de identidade" e dá algumas sugestões para que os soldados possam detectar casos de fraude.
Steve Muck também tem um plano mais ambicioso: quer substituir internamente o número de Segurança Social por outro de dez algarismos já atribuído à maioria dos militares como senha de acesso informático. Diz que está à espera de aprovação do departamento da Defesa para dar início a essa mudança, um processo que poderá começar no princípio de 2011. Essa mudança, a dar--se, não afectaria o uso do número de Segurança Social em casos como o dos formulários de saúde, e poderia levar a uma menor burocracia.
O novo relatório de Gregory Conti, intitulado "The Military''s Cultural Disregard for Personal Information" (A cultura de desprezo pelos dados pessoais na instituição militar), foi publicado recentemente no site do "Small Wars Journal", sobre assuntos militares. Gary Tallman, porta-voz do Exército, diz que o relatório de Conti era "perfeitamente factual", acrescentando que a utilização dos números de Segurança Social "está-nos na massa do sangue". Mas diz também que a responsabilidade de chefiar as mudanças recai em grande medida sobre o departamento da Defesa, uma vez que esse órgão se serve desses números "para imensas coisas".
O departamento da Defesa está a efectuar um estudo próprio e planeia instruir o seu pessoal a justificar cada utilização desses números e eliminar as desnecessárias. Mas acrescenta que será "muitíssimo difícil" determinar em que medida o roubo de identidades pode ser imputado à utilização generalizada desses números.
Quanto a Gregory Conti, este diz que ficou especialmente perturbado com uma situação a que assistiu quando estava destacado no Iraque. "Francamente! No Iraque, eu escrevia uma parte do meu número de Segurança Social no meu saco de roupa para lavar, e isso era decorado por trabalhadores estrangeiros das lavandarias como maneira de melhorarem a qualidade do seu serviço. Eu entrava na lavandaria e eles diziam, ''Número 1234, aqui está a sua roupa'', e orgulhavam-se muito dessa habilidade."
Fonte: I On Line
Nas bases e nos quartéis, em solo americano e em todo o mundo, o pessoal militar continua a servir-se dos seus números de Segurança Social como identificação pessoal em dezenas de situações do quotidiano, desde o preenchimento de formulários de saúde até à requisição de bolas de basquetebol no ginásio que frequentam. Milhares de soldados colocados no Iraque chegam a imprimir os últimos quatro algarismos do seu número nos sacos da roupa para lavar.
Tudo isso está a expor os militares a grandes riscos de roubo de identidade, segundo concluiu um novo e duro relatório preparado por um oficial dos serviços secretos do Exército que agora é professor na Academia de West Point, o tenente-coronel Gregory Conti. O relatório conclui que os militares precisam de abandonar esta prática, apesar de ter sido generalizada desde a década de 1960.
"Os militares e as suas família vivem num ambiente profissional que revela pouca consideração pelos seus dados pessoais", explica o relatório, que acrescenta que "as unidades dos militares, a sua prontidão militar e a eficácia como combatentes vão pagar um preço alto por esta prática durante décadas."
Os representantes dos militares dizem que estão cientes do problema e a tomar medidas para o resolver. A Marinha e os fuzileiros têm-se esforçado nesse sentido nos últimos meses e o departamento da Defesa diz que, em 2008, estava a tomar medidas para alterar o prazo limite para a utilização dos números de Segurança Social e, em comunicado, declarou que esses números iam deixar de figurar nos novos cartões de identidade, que vão ser usados a partir de Maio.
Mas Gregory Conti já afirmou que a prática ainda não se alterou: "Quanto mais nos afastamos do mastro de bandeira do quartel-base, tanto mais fácil é que essas regras sejam anuladas pela realidade operacional."
O valor dos números Os números de Segurança Social são valiosos para ladrões, porque servem frequentemente de principal elemento de identificação quando se lida com bancos e empresas emissoras de cartões de crédito. Em mãos erradas, podem causar uma cascata de problemas, como a recusa de crédito e podem levar a situações que dificultem aos militares a obtenção de credenciais de segurança ou promoções.
Segundo a Javelin Strategy and Research, entidade que investiga roubos de identidade, só em 2009 os números de Segurança Social foram a causa de 32% dos roubos de identidade em que as vítimas sabiam de que maneira os seus dados tinham sido obtidos.
A mais recente investigação da Javelin sobre roubos de identidade no meio militar foi em 2006. Os resultados mostram que 3,3% dos militares no activo tinham sido vítimas desse tipo de fraude, um valor ligeiramente mais baixo do que o referente à população em geral (3,7%). Mas, em termos gerais, o roubo de identidade está a aumentar nos Estados Unidos: em 2009, a percentagem a nível nacional subiu para os 4,8%, com prejuízos médios por pessoa de 373 dólares, calcula a Javelin.
A maioria de tais incidentes afecta indivíduos e agregados familiares e não chega aos cabeçalhos das notícias. Em Junho, a procuradoria de Nova Iorque anunciou que tinha sido acusado um gangue de ladrões de identidade que, de entre outras pessoas, tinha feito vítimas 20 soldados de Fort Hood, no Texas.
Segundo o gabinete do procurador regional, os números de segurança social dos soldados tinham sido roubados da base por um antigo elemento do Exército que se tinha mudado para Nova Iorque. Os ladrões de identidade fizeram 2.515 tentativas de violarem identidades de soldados, obtendo livros de cheques e cartões de crédito em nome dos militares.
Os responsáveis dizem que alguns dos soldados tinham sido escolhidos como vítimas por estarem colocados no Iraque ou no Afeganistão, o que ia levar a que demorassem mais tempo para perceber a fraude. É precisamente esse o receio dos responsáveis militares relativamente à vulnerabilidade dos soldados: ''Um operacional destacado para paragens longínquas nada pode fazer contra os danos de que está a ser vítima nos Estados Unidos", diz Steve Muck, chefe dos serviços de informações da Marinha, responsável pelas políticas de privacidade respeitantes aos militares da Marinha e do corpo de fuzileiros. "É uma questão importante."
Como primeira grande medida para proteger os números de Segurança Social dos militares, o departamento da Marinha espera ter, ainda este mês, resultados de um estudo exaustivo, ao abrigo do qual cada departamento terá de justificar a utilização desses números em vários processos burocráticos ou de removê-los. Steve Muck espera que se prove que 50% das utilizações são injustificadas.
O estudo cita práticas, já eliminadas, que, segundo Steve Muck, não faziam sentido nenhum, como utilizar um número de Segurança Social para requisitar uma raqueta ou uma toalha num ginásio, obter uma injecção contra a gripe ou comprar um par de calças no economato de um navio. Os filhos dos militares, às vezes com apenas dez anos, andam com o número de Segurança Social, tal como os pais.
Há cerca de seis meses, o departamento da Marinha lançou uma campanha para alertar o pessoal colocado fora dos EUA para os riscos desta prática. Num cartaz em circulação no golfo Pérsico vê-se um fuzileiro sentado num Humvee, vestido com um camuflado e de metralhadora em punho, sobre as palavras "Quem anda a usar o meu cartão de crédito?" O cartaz diz ainda que "um militar em destacamento operacional não deve andar preocupado com roubos de identidade" e dá algumas sugestões para que os soldados possam detectar casos de fraude.
Steve Muck também tem um plano mais ambicioso: quer substituir internamente o número de Segurança Social por outro de dez algarismos já atribuído à maioria dos militares como senha de acesso informático. Diz que está à espera de aprovação do departamento da Defesa para dar início a essa mudança, um processo que poderá começar no princípio de 2011. Essa mudança, a dar--se, não afectaria o uso do número de Segurança Social em casos como o dos formulários de saúde, e poderia levar a uma menor burocracia.
O novo relatório de Gregory Conti, intitulado "The Military''s Cultural Disregard for Personal Information" (A cultura de desprezo pelos dados pessoais na instituição militar), foi publicado recentemente no site do "Small Wars Journal", sobre assuntos militares. Gary Tallman, porta-voz do Exército, diz que o relatório de Conti era "perfeitamente factual", acrescentando que a utilização dos números de Segurança Social "está-nos na massa do sangue". Mas diz também que a responsabilidade de chefiar as mudanças recai em grande medida sobre o departamento da Defesa, uma vez que esse órgão se serve desses números "para imensas coisas".
O departamento da Defesa está a efectuar um estudo próprio e planeia instruir o seu pessoal a justificar cada utilização desses números e eliminar as desnecessárias. Mas acrescenta que será "muitíssimo difícil" determinar em que medida o roubo de identidades pode ser imputado à utilização generalizada desses números.
Quanto a Gregory Conti, este diz que ficou especialmente perturbado com uma situação a que assistiu quando estava destacado no Iraque. "Francamente! No Iraque, eu escrevia uma parte do meu número de Segurança Social no meu saco de roupa para lavar, e isso era decorado por trabalhadores estrangeiros das lavandarias como maneira de melhorarem a qualidade do seu serviço. Eu entrava na lavandaria e eles diziam, ''Número 1234, aqui está a sua roupa'', e orgulhavam-se muito dessa habilidade."
Fonte: I On Line
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