Forças de segurança do ditador líbio Muammar Kadhafi se confrontaram com rebeldes armados nesta terça-feira (1º) para tentar retomar o controle de cidades próximas à capital Trípoli e criar uma zona tampão ao redor de sua sede de poder. Os confrontos cada vez mais violentos ameaçam transformar a rebelião popular que já dura 15 dias na Líbia em uma prolongada guerra civil.

Líderes militares que tentam criar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia admitiram nesta terça que esta pode ser uma tarefa complexa, que exige neutralizar a defesa de Kadhafi.

O filho do ditador líbio, Seif al-Islam, alertou as forças ocidentais de que uma ação militar contra a Líbia será respondida e disse que o país está preparado para defender-se contra a intervenção estrangeira.

"Se eles nos atacarem, estamos prontos", disse à Sky News, acrescentando que o regime de Kadhafi está pronto para implementar as reformas.

Manifestantes anti-Kadhafi participam de protesto na cidade de Zawiyah, a 50 km de Trípoli, nesta terça (1º) (Foto: Ahmed Jadallah / Reuters)Manifestantes anti-Kadhafi participam de protesto na cidade de Zawiyah, a 50 km de Trípoli, nesta terça (1º) (Foto: Ahmed Jadallah / Reuters)

A repressão aos rebeldes que tentam derrubar Kadhafi -no poder desde 1969- gerou caos no país, com centenas de mortes, muitos feridos e colapso na fronteira com a Tunísia por conta da fuga de moradores em pânico.

Kadhafi enviou forças para uma zona de fronteira no oeste do país, enquanto seu filho Saif al Islam repetiu que o veterano governante não renunciará nem partirá para o exílio.

O coronel já perdeu o controle sobre grande parte do país, após duas semanas de revolta, a mais sangrenta na atual onda de levantes no mundo árabe.

Em Moscou, uma fonte do Kremlin sugeriu que Kadhafi deveria renunciar, pois se trata de "um cadáver político vivo".

EUA
Os EUA estão analisando uma "série de opções" para lidar com a crise na Líbia, disseram nesta terça-feira autoridades do Departamento de Defesa, mas nenhuma decisão foi tomada ainda.

O secretário de Defesa, Robert Gates, disse que o Pentágono estava movendo dois navios anfíbios de guerra e centenas de fuzileiros para próximo à costa da Líbia, no Mar Mediterrâneo, onde eles ajudariam na retirada de civis e na entrega de ajuda humanitária, se necessário.

O almirante Mike Muller, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, disse que a administração Obama está estudando "uma grande série de opções" para lidar com o pressionado regime do coronel Muammar Kadhafi, pressionado por uma crescente revolta popular. Mas nenhuma decisão foi tomada, segundo ele.

Autoridades egípcias afirmaram que os navios seriam o USS Kearsarge, que pode levar 2.000 tropas, e o USS Ponce. Eles passaram pelo canal de Suez na manhã desta quarta, pelo horário local, na direção do Mediterrâneo.

Comandantes militares americanos informaram nesta terça que não havia consenso até o momento, na Otan, para uma intervenção militar na Líbia e que a colocação em prática de uma zona de exclusão aérea seria "extraordinariamente" complicada.

O navio de guerra USS Kearsarge é visto no Mar Vermelho em 16 de fevereiro (Foto: AFP PHOTO / US NAVY)
O navio de guerra USS Kearsarge é visto no Mar Vermelho em 16 de fevereiro (Foto: AFP PHOTO / US NAVY)

"Minha opinião militar é que isso seria desafiador", disse o general James Mattis, chefe do Comando Central dos EUA, durante uma audiência no Senado.

"Você teria que remover a capacidade de defesa aérea para estabelecer uma zona de exclusão, então não devemos nos iludir. Seria uma operação militar -não seria apenas dizer às pessoas para não voar em aviões."

Já o novo ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, assegurou nesta terça-feira ante a Assembleia Nacional (câmara de Deputados) que não haverá uma intervenção militar na Líbia sem um mandato claro das Nações Unidas.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerou inaceitável que o "coronel Gaddafi esteja assassinando sua própria gente, usando aviões e helicópteros armados".

Em depoimento lido a parlamentares norte-americanos, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmou que "a Líbia pode se tornar uma democracia pacífica, ou pode enfrentar uma prolongada guerra civil".

A embaixadora norte-americana na Organização das Nações Unidas (ONU), Susan Rice, disse que os EUA continuarão a aplicar pressão sobre Kadhafi até que ele caia, trabalhando para estabilizar os preços do petróleo e evitar uma crise humanitária.

Analistas dizem que os líderes ocidentais não têm nenhum apetite por um conflito na Líbia, depois dos exaustivos e complicados envolvimentos militares no Afeganistão e no Iraque.

"Eles ficarão desesperados para não se colocarem nessa situação, a não ser que do contrário isso resulte em massacres ainda piores", disse Shashank Joshi, do Real Instituto de Serviços Unidos, de Londres.

Mapa com dados Líbia VALE ESTE 2 (Foto: Editoria de Arte / G1)

ONU faz apelo
A agência de refugiados da ONU e um grupo internacional de migração fizeram nesta terça um apelo urgente para a retirada em massa de milhares de pessoas que se dirigem à Tunísia fugindo da revolta na Líbia.

"A Organização Internacional para a Migração e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados fazem um apelo urgente aos governos para uma ajuda à retirada humanitária em massa de milhares de egípcios e de cidadãos de outros países que fogem para a Tunísia da Líbia", afirmaram as duas agências em um comunicado.

Mais de 75 mil pessoas cruzaram a fronteira com a Tunísia desde 19 de fevereiro, e mais 40 mil aguardam do lado líbio para entrar na Tunísia.

"As duas organizações consideram esta operação essencial, num momento em que a superlotação da fronteira piora a cada hora", afirmaram.

Fonte: G1