As relações entre Cuba e Estados Unidos atravessam um leve aquecimento, mas 50 anos após a invasão fracassada à Baía dos Porcos por exilados cubanos treinados pela CIA, Havana e Washington parecem ainda irreconciliáveis.
A chegada de Barack Obama à Casa Branca tinha aumentado as esperanças de um novo capítulo nas relações entre ambos os lados do Estreito da Flórida.
Mas, em pouco mais de dois anos, houve pouco progresso e a desconfiança recíproca reinante após o episódio da Baía dos Porcos, no dia 17 de abril de 1961, não se dissipou.
Pior ainda, a condenação do americano Alan Gross a 15 anos de prisão pela justiça cubana por "espionagem" no mês passado reavivou as tensões.
O aquecimento, se é que haverá um aquecimento, "ocorrerá apenas de forma lenta. Cubanos e americanos embarcaram em uma valsa sem que, nenhum dos dois dance verdadeiramente", comenta Christopher Sabatini, analista do centro de reflexão Americas Society. "O caso Alan Gross é claramente um ponto de atrito e vai permanecer assim", acrescentou.
Para Sabatini, os onze presidentes americanos que se sucederam depois de Eisenhower tiveram todos uma tendência a "serem tomados como reféns". A cada vez que Fidel e Raul Castro endureciam a sua postura na ilha, Washington era obrigado a reagir, impulsionado pelo ultraconservadorismo dos exilados cubanos.
"Os Castro não querem uma grande abertura. Eles estão conscientes que se seus compatriotas tiverem um acesso maior à informação e aos meios de comunicação, seu governo totalitário será questionado", acrescentou.
Os Estados Unidos mantêm sempre o mesmo discurso: o embargo há 50 anos não será levantado sem uma abertura democrática, indo além da simples libertação de prisioneiros políticos.
No entanto, o governo americano deu alguns pequenos passos.
Rompendo com seu antecessor George W. Bush, o presidente Obama levantou as restrições sobre as viagens dos cubano-americanos para a ilha e facilitou as transferências de dinheiro para Cuba.
Já Cuba não autorizou a abertura política e iniciou mudanças econômicas muito pequenas.
O processo é "muito lento e muito difícil", "há complicações políticas, tanto aqui como em Cuba", ressaltou Michael Shifter, diretor do Inter-American Dialogue, um centro de reflexão de Washington.
Por outro lado, com mais republicanos no Congresso depois das eleições de novembro, disse, é muito pouco provável que a anulação do embargo, a facilitação das trocas comerciais ou, ainda, a retirada da proibição imposta aos americanos de visitar Cuba estarão de volta à mesa em breve.
A "grave crise econômica" atravessada por Cuba obriga seus dirigentes a "realizar mudanças econômicas aos poucos e acho que isso poderá causar um pouco de abertura", considerou Shifter.
Em Cuba, o Congresso do Partido Comunista (PCC) coincidirá com as celebrações dos 50 anos da invasão fracassada à Baía dos Porcos.
"Serão feitas várias referências ao intervencionismo ianque e à necessidade de impedir abusos como esse no futuro", uma retórica "ainda eficaz para inserir o medo no coração dos cubanos", disse Sabatini.
A Universidade de Miami, na Flórida, onde vivem um milhão de americanos de origem cubana, vai lembrar o episódio da Baía dos Porcos convidando os veteranos. "A luta continua (virtualmente) dos dois lados do Estreito da Flórida, isso dá uma ideia da inércia em que estamos presos", constatou Sabatini.
Fonte: AFP
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