A região sul de Bonn, antiga capital da Alemanha, é muito calma. O cantar dos pássaros só é abafado pelo ruído dos carros que transitam ocasionalmente. Casarões centenários ladeiam as ruas. Como um corpo estranho, ergue-se nesta paisagem idílica um prédio funcional dos anos 1970 rodeado por altas cercas.
O prédio pertence ao Departamento para Segurança na Tecnologia de Informação (BSI) da Alemanha. A partir desta sexta-feira (01/04), dez funcionários do recém-criado centro de defesa cibernética estarão sentados em frente a seus computadores em algum lugar do edifício.
Ciberataques não faltam
Ciberataques não faltam no país. Na 47ª Conferência de Segurança de Munique, no começo de fevereiro, a premiê alemã, Angela Merkel, afirmou que a ciberguerra seria tão perigosa quanto uma guerra convencional. Thomas de Maizière, então ministro alemão do Interior e responsável pela cibersegurança, descreveu a extensão da ameaça: "A cada dois segundos há um ataque à internet na Alemanha. Quatro ou cinco vezes ao dia acontecem ataques à rede do governo, os quais as nossas autoridades acreditam serem provenientes de serviços estrangeiros de inteligência".
Estratégia alemã de cibersegurança
A ameaça que vem do ciberespaço já é tema de discussão na opinião pública e entre políticos, também em nível internacional. No ano passado, o Cibercomando dos Estados Unidos iniciou seus trabalhos. Em sua nova estratégia aprovada em novembro, a Otan classifica os ciberataques como uma das três maiores ameaças de época atual, ao lado do terrorismo e das armas de destruição em massa.
E a sabotagem do programa de enriquecimento de urânio do Irã pelo worm Stuxnet mostrou ao mundo todo que sofisticados programas maliciosos podem penetrar na infraestrutura do adversário como mísseis digitais. Com sua estratégia de cibersegurança, o governo alemão começou a enfrentar essa ameaça.
O filósofo alemão de tecnologia Sandro Gaycken vê um novo nível nos ataques dos hackers. Afinal de contas, hoje os próprios governos mantêm agora tropas inteiras de hackers. "Naturalmente, esses são muito mais bem equipados e muito mais poderosos do que um hacker comum."
Invadido computador de premiê australiana
O quão correto o filósofo da tecnologia está com sua avaliação pôde ser demonstrado nesta terça-feira (29/3) na Austrália. Lá foi anunciado que o computador da primeira-ministra, Julia Gillard, havia sido invadido por hackers – da mesma forma que os computadores de dez ministros de seu governo. Pelo menos durante um mês, a correspondência eletrônica das lideranças governamentais australianas foi interceptada.
O ataque aconteceu às vésperas de um encontro de cúpula, no qual questões importantes foram debatidas, como a futura estrutura da União Europeia, o fundo de resgate do euro e a guerra na Líbia
Prejuízos econômicos
Como parte da estratégia de cibersegurança do governo alemão, a força-tarefa "Segurança em TI na economia" iniciou seus trabalhos nesta terça-feira. A preocupação do ministro alemão da Economia, Rainer Brüderle, não é somente com os segredos internos de grandes firmas. Ele também se preocupa com as pequenas e médias empresas.
Segundo o ministro, muitas delas não reconheceram ainda os perigos que podem vir da internet. Brüderle avalia que os prejuízos através da espionagem comercial por ciberataques podem chegar, devido à grande quantidade de casos não reportados, a uma quantia de dezenas de bilhões.
Do: DW-World - Autor: Matthias von Hein (ca) - Revisão: Alexandre Schossler
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