A empresa alemã KMW, fabricante dos tanques Leopard, um dos modelos mais avançados do mundo, está se preparando para iniciar atividades em território brasileiro.

A empresa está criando um centro técnico e de manutenção da frota brasileira e chilena do tanque modelo Leopard 1 A5, na cidade gaúcha de Santa Maria, onde estão baseados os veículos brasileiros.

No ano passado foram adquiridas 270 unidades do carro, das quais 240 são aproveitáveis em campo e outros 30 são usados como veículos de suporte e assistência técnica.

"Nosso primeiro passo será oferecer uma interface local para o Exército Brasileiro, nossos clientes", afirma o presidente da companhia, Frank Haun. O valor do investimento ainda é desconhecido: a aquisição do terreno ainda não foi fechada uma vez que os valores seguem sob negociação.

"Ainda não tenho um número exato, mas o investimento deve custar algo com dois dígitos de milhões de euros", garante Haun. Em primeira instância, a unidade servirá como um centro técnico e de manutenção da frota brasileira e chilena do modelo Leopard 1 A5.

A empresa também pretende, em um segundo momento, criar um centro de desenvolvimento que possa promover pesquisas e desenvolver soluções em defesa, com foco nas necessidades do Exército Brasileiro. "Nós não pretendemos simplesmente exportar, mas criar um conteúdo verdadeiramente local para que possamos atender às demandas locais", explica o executivo.

A intenção de desenvolver estudos e pesquisas também pesou na escolha da cidade Santa Maria, no Rio Grande do Sul, como sede de sua unidade produtiva. "Para um investimento de longo prazo como o nosso, isso é de vital importância", destaca o executivo. No entanto, mais que a proximidade com os centros de estudo, pesou a proximidade com a sede das Forças Armadas.

Em maior prazo, a KMW deve utilizar a unidade de Santa Maria como fabricante de tanques completos, mirando tanto o próprio mercado brasileiro como o mercado externo. Nesse sentido, a proposta de Haun é de uma negociação com ganhos para ambas as partes. "Por um lado temos a demanda brasileira por investimentos estratégicos no setor militar e a possibilidade de usar Santa Maria como um polo distribuidor para o restando da América do Sul. Por outro, temos tecnologia para levar para o Brasil".

A empresa prevê a contratação de mais de mil pessoas entre a construção da unidade, a unidade fabril e o centro de pesquisas.

Ponto e contraponto

Para André Luis Woloszyn, analista de inteligência estratégica pela Escola Superior de Guerra, é nítido o interesse do Brasil em se aproximar da pauta de defesa tanto como forma de se posicionar melhor para ocupar a sonhada cadeira no Conselho de Segurança da ONU como para reforçar a soberania na América Latina.

Nesse sentido, a escolha dos tanques alemães pode ter sido acertada. "É o que há de mais moderno e tecnológico dentro da nossa necessidade", aponta o especialista. Cada um dos 270 importados no ano passado custou cerca de US$ 900 mil.

"Parcerias bem feitas entre brasileiras e estrangeiras é a nossa saída. Não conseguiríamos gerar esse tipo de tecnologia sozinhos", aponta o pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, Expedito Bastos, especializado em assuntos ligados a defesa.

Mesmo com a redução dos custos de manutenção na atual frota brasileira de Leopard 1 A5, para especialistas as chances do projeto alemão vingar são pequenas. "Nós não temos compras suficientes para manter uma indústria bélica no Brasil", explica o Pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, Expedito Bastos. "Nos outros países, os tanques são muito antigos e os países são pobres. Tirando a Argentina, todos os outros exércitos usam carros alemães."

No entanto, o corte de R$ 50 bilhões no orçamento - dos quais R$ 4 bi foram retirados do Ministério da Defesa - é a principal ameaça. "Esses estrangeiros estão acreditando na Estratégia Nacional de Defesa", avalia Bastos. "É o documento mais bem escrito desde 1500, só tem dois problemas: é uma carta de intenções e não diz de onde saem os investimentos."

Perfil

A Krauss-Maffei Wegmann aposta suas fichas no tanque Leopard 2, um colosso de 60 toneladas. Considerado como um dos veículos de combate mais modernos do mundo, é o carro-chefe das operações da KMW e ajudou a companhia a atingir a liderança no mercado europeu de veículos blindados. O tanque está longe de ser a única operação da companhia. Saem ainda de suas linhas de produção da Bavária blindados de transporte de tropa, peças de artilharia e lançadores de foguetes.

Outro grande filão é na modernização dos tanques modelo Leopard 1. Lançados na década de 1960, esses veneráveis combatentes são constantemente equipados com sistemas e tecnologias mais modernas como computadores, miras laser, motores mais econômicos e munição avançada. Com mais de 6 mil unidades produzidas, trata-se de um mercado nada desprezível, especialmente focando países que precisam modernizar sua frota de tanques mas não podem gastar fortunas em modelos topo de linha como o próprio Leopard 2 e seus concorrentes americanos e russo - exatamente o caso do Brasil.

A empresa foi fundada em Munique, em 1931, como resultado da fusão de duas companhias que atuavam na produção de locomotivas e de veículos de transporte pesado, além de equipamento industrial. A partir da década de 1960, com o início da fabricação do Leopard 1, o segmento de defesa começou a dominar os negócios da KMW e hoje constitui o núcleo de sua atuação. Além de tanques e blindados a empresa também explora o desenvolvimento de sistemas digitalizados para radares e canhões e fornece aço de alta resistência para a indústria aeronáutica. Hoje, a empresa é controlada totalmente pelo grupo Wegmann, após a venda da participação de 49% que a Siemens detinha na companhia, no final do ano passado.

Fonte: Brasil Econômico