A decisão final sobre o destino de Cesare Battisti, motivo de um imbróglio jurídico entre Brasil e Itália desde 2007, não poderia chegar em pior momento para Silvio Berlusconi. Alvo de diversos processos judiciais, eleitoralmente enfraquecido e motivo de chacota na imprensa internacional, o premiê italiano agora tem que engolir a seco a decisão de um “país subdesenvolvido” de proteger um adversário simbólico que Berlusconi queria ver na cadeia.
A rigor, a questão Battisti não é uma disputa de Berlusconi; trata-se de um processo movido pelo Estado italiano e que se desenrolou mesmo nos períodos em que ele não estava no poder. Ainda assim, o esforço pessoal do político milanês e as mensagens duras enviadas por seu gabinete exigindo a extradição nos últimos anos reforçam a percepção de que essa foi – mais uma – derrota política para o Cavaliere.
Há cerca de dez dias, candidatos apoiados por Berlusconi foram derrotados em grandes centros políticos italianos como Nápoles, Bolonha, Turim e Trieste, além do berço político do premiê, Milão. “Perdemos, é evidente”, admitiu Berlusconi, na ocasião. “Não há outro caminho a não ser manter o equilíbrio e seguir adiante”.
Apesar do impacto reduzido do escândalo “bunga bunga” na popularidade de Berlusconi na Itália, o caso fez dele motivo de escárnio na imprensa internacional. Em sua última edição, a revista britânica “The Economist” foi direta ao qualificar o magnata como “o homem que ferrou um país inteiro”.
A economia italiana tampouco serve de alívio. Com uma taxa de crescimento média de 0,2% entre 2001 e 2010, a Itália aparece como a menos dinâmica economia da Europa. O resultado é que o PIB italiano foi superado pelo brasileiro, que em 2010 cresceu 7,5% e garantiu a posição de sétima economia mundial.
Esse é o contexto no qual chega a decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro, que por 6 votos a 3 considerou nesta quarta-feira (8) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha a competência e a fundamentação adequadas para decidir, em seu último dia de mandato, que Battisti não seria extraditado, contrariando toda a pressão italiana.
Berlusconi e seus aliados não esperavam que o Brasil se daria ao trabalho de levar o caso às últimas instâncias. Em 2009, após a decisão do então ministro da Justiça Tarso Genro de conceder abrigo a Battisti, o deputado Ettore Pirovano resumiu o sentimento da coalizão berlusconiana com a seguinte frase: “Não me parece que o Brasil seja reconhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas”.
Nos meses seguintes, comentários semelhantes vieram de altas figuras do gabinete do premiê, como seu chanceler, seu ministro da Defesa e seu ministro da Justiça. O próprio Berlusconi comprou a briga quando prometeu que a Itália “tentaria de tudo” pela extradição.
No entanto, exibir à opinião pública de Roma um “terrorista vermelho” dos anos 70 recapturado é um trunfo de popularidade que Berlusconi acabou de perder. Horas depois da decisão do STF, questionado por um jornalista italiano sobro como iria responder a essa “desfeita diplomática”, Berlusconi respondeu ironicamente: “O que fazer? Vamos declarar guerra ao Brasil?”
Fonte: UOL
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