O vice-premiê britânico, Nick Clegg, defendeu nesta terça-feira em Brasília que o Conselho de Segurança da ONU seja reformado e que o Brasil ganhe um assento permanente no órgão.

“Grandes passos foram dados para estabelecer a cooperação multilateral nos últimos 60 anos, mas a realidade é que, a menos que novos atores sejam trazidos inteiramente para o sistema multilateral, eles crescentemente procurarão por outras formas de operar”, declarou Clegg, em discurso para diplomatas brasileiros no Instituto Rio Branco.

“É por isso que ativamente apoiamos uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU.”

A vaga permanente, atualmente de posse apenas de Grã-Bretanha, Rússia, China, EUA e França, é uma antiga aspiração do Brasil, e a declaração de Clegg tem cunho majoritariamente simbólico, já que mudanças no Conselho de Segurança dependeriam de uma reforma da ONU.

O vice-premiê, número dois na hierarquia do governo britânico, esteve acompanhado em sua visita por representantes de universidades e de ministros das áreas de Esporte, Cultura, Comércio e Educação, além de 40 empresários de setores como infraestrutura, petróleo, gás, serviços, biotecnologia, construção e energia.

Clegg, que em Brasília encontrou o chanceler Antonio Patriota e o vice-presidente Michel Temer, disse que o principal objetivo de sua viagem ao Brasil era fazer negócios: “Para a Grã-Bretanha, esta visita é, sobretudo, uma missão comercial. Se isso parece pragmático, é porque é. Comércio significa empregos, e isso é o que o povo da Grã-Bretanha quer”.

Horas antes, em São Paulo, onde o vice-premiê se reuniu com o governador Geraldo Alckmin e visitou uma indústria de etanol, o ministro-adjunto britânico de Comércio e Investimento, Lorde Green, anunciou a meta de dobrar as exportações para o Brasil até 2015.

Em 2010, o intercâmbio comercial entre os dois países chegou a US$ 7,7 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 1,4 bilhões, ainda que as exportações britânicas tenham crescido 29% naquele ano.

A visita de Clegg é vista como uma “ofensiva” do governo britânico em países que considera as estrelas das próximas décadas, como delineou o ministro do Exterior britânico, William Hague, em um discurso feito no centro de estudos Canning House, no ano passado.

Olimpíadas

Em seu discurso, Clegg disse ainda oferecer ao Brasil, em troca de abertura aos empresários britânicos, ajuda nos setores de educação e na organização das Olimpíadas de 2016 no Rio e da Copa do Mundo de 2014, já que Londres sediará os Jogos Olímpicos de 2012.

Segundo ele, “o grande desafio para todas as economias avançadas do século 21 é permanecer espertas: para sair na frente em tecnologia, educação, eficiência energética, regulação efetiva e serviços públicos”.

Antes do discurso, ambos os países assinaram acordo entre o Grupo BG e o Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, por meio do qual o Grupo BG financiará até 450 novas bolsas de estudos para estudantes brasileiros na Grã-Bretanha ao longo dos próximos 5 a 8 anos.

Também foram assinados memorandos de entendimento sobre intercâmbio e cooperação cultural e sobre segurança e crime – os dois países se comprometeram a cooperar para combater o crime organizado, o tráfico ilegal de drogas e as ameaças à segurança cibernética internacional.

Malvinas

Após encontrar-se com Patriota, Clegg disse a jornalistas ter conversado com o chanceler sobre as ilhas Malvinas (Falklands) – território britânico no Atlântico reivindicado pela Argentina.

“Enfatizei que o governo britânico aprecia que se mantenha a temperatura retórica o mais baixo possível.” Ele afirmou que a Grã-Bretanha tem a “determinação contínua e duradoura de proteger o status soberano” das ilhas.

Clegg embarcou na noite de terça para o Rio de Janeiro, onde participará, na quarta-feira, de uma conferência dedicada a discutir o legado e a sustentabilidade em Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.

Ele encerra sua visita ao Brasil no Copacabana Palace, onde comparecerá a uma festa de comemoração do aniversário da rainha Elizabeth 2ª.

Fonte: BBC