A oposição líbia já está perto da capital. Mas a tomada do último reduto de Muammar Kadhafi promete ser difícil e as divisões entre o governo de transição e os combatentes na frente ameaçam o futuro pós-guerra.
O bairro está escuro, porque os cortes de electricidade são comuns, e a infra- -estrutura continua volúvel. Há fogo esporádico de metralhadora - entretenimento de alguns jovens que vigiam os checkpoints da cidade, disparando o seu aborrecimento para o ar ou celebrando as notícias dos avanços rebeldes a caminho de Trípoli.
Mazim Ramadan fuma hooka e bebe chá na esplanada sem luz, um pequeno intervalo antes de regressar ao trabalho durante o resto da noite. Este líbio residente nos Estados Unidos chegou a Benghazi um mês depois do início da revolução. "Pensei que o Kadhafi cairia mais rapidamente."
Como muita gente em Benghazi, este empreendedor começa a estar cansado do prolongamento da guerra. Ramadan fez a sua fortuna em Silicon Valley, criando start-ups e vendendo-as na altura certa. Foi chamado para ajudar na parte económica do governo provisório, trabalhando directamente com Ali Tarhouni, o ministro das Finanças e do Petróleo no governo de transição.
Mazim Ramadan tem orquestrado muita da ginástica financeira que tem permitido a sustentabilidade económica do que chamam a Líbia libertada: vendas de petróleo pagas a pronto, angariação de empréstimos utilizando os fundos líbios congelados no estrangeiro como garantia, envio de aviões cheios de dinheiro para as cidades conquistadas pelos rebeldes na região montanhosa de Nafouza, no Oeste do país.
Só recentemente é que o governo de transição conseguiu encontrar financiamento para começar a pagar aos funcionários públicos. "Vamos pagar agora os salários de Junho", explica Ramadan.
No meio da animação nocturna do Ramadão, Benghazi é uma cidade à espera do fim da guerra. Agora a preocupação é com a capital. Com a guerra a entrar no seu sétimo mês, a estagnação da ofensiva rebelde parece ter sido invertida com os avanços a Oeste. No entanto, isso também quer dizer que a guerra se aproxima da última etapa: a tomada de Trípoli.
Há vários cenários possíveis, desde uma capitulação relativamente pacífica do regime, a um violento embate urbano com um elevado números de vítimas civis. "As primeiras 48 horas serão essenciais", explica Ramadan. "Estamos a organizar petroleiros que ficarão ao largo e entregarão combustível à cidade imediatamente a seguir à tomada do controlo pelas forças da oposição. E queremos também ter a liquidez necessária para abrir o sistema bancário."
antes, é preciso ganhar a guerra Mas as primeiras questões são militares. Uma série de avanços por parte da oposição líbia no Oeste do país parece ter colocado os rebeldes na sua posição mais forte desde o início da insurreição. As forças opositoras ao regime de Muammar Kadhafi anunciaram ter tomado o controlo de Garyan, a sul da capital. Também na conquista de Zawya, 50 km a oeste de Trípoli, houve avanços, com os rebeldes a disputarem agora o centro da cidade com as forças governamentais, que a continuam a bombardear com mísseis Grad na frente Este, disse hoje uma fonte do Conselho Militar em Benghazi.
Se é certo que as várias vitórias dos rebeldes ao longo de toda a guerra foram sempre seguidas de contra-ataques por parte do exército líbio, a verdade é que se os rebeldes conseguirem assegurar o controlo completo de ambas cidades, a guerra entrará numa nova fase. Garyan e Zawya são a única ligação possível com a fronteira com a Tunísia, de onde as forças governamentais têm conseguido obter mantimentos e combustível.
Mesmo que os rebeldes consigam assegurar o controlo total destas duas cidades estratégicas nos próximos dias, a questão de como entrar na capital continua a ser uma incógnita. O governo de transição em Benghazi confirma que existem grupos de rebeldes já dentro da capital a aguardar o momento certo para entrar em acção, mas também é peremptório em afirmar que uma entrada das brigadas da oposição na capital terá de ser bem planeada.
A maior incógnita é perceber que tipo de resistência as forças de Kadhafi têm capacidade para montar. Brigadas do exército líbio ainda intactas, mercenários estrangeiros e o perigo real da existência de brigadas de civis armados, colocam um travão de pragmatismo nos avanços militares dos rebeldes.
A solução ideal para os chefes da rebelião é que um cerco efectivo à capital encoraje um levantamento interno e a implosão dos resquícios do regime. O coronel Kadhafi pode decidir negociar a sua saída, mas poderá também combater até ao fim. Um sinal de que o regime está cada vez mais enfraquecido veio com a fuga do ministro líbio do interior, Nassr al-Mabrouk Abdullah, para o Cairo, na segunda-feira passada.
Os avanços na frente de combate surgem no seguimento de semanas de instabilidade política no seio da rebelião. Após o misterioso assassinato de Abdul Fattah Younes, o líder militar da oposição, a 28 de Julho passado, crescem os receios de que a coesão das forças rebeldes seja enfraquecida por disputas tribais.
diferenças entre os rebeldes Na semana passada, o comité executivo do Governo Nacional de Transição foi demitido, numa tentativa de apaziguar as tensões. Em Benghazi fala-se de um distanciamento entre os advogados, que compõem a facção política da rebelião, e os jovens armados que lutam na frente, organizados em katibas (brigadas). Muitas katibas surgiram localmente e de forma informal, mostrando-se por vezes reticentes a aceitar o comando das chefes rebeldes em Benghazi.
Num Hospital de Misrata, um rebelde ferido disse ao i que durante combates na frente de Zliten, no início de Agosto, soldados enviados de Begnahzi para ajudar no esforço de guerra haviam recuado face ao avanço das forças governamentais, deixando muitos dos rebeldes de Misrata vulneráveis.
Para evitar este tipo de descoordenação o governo de transição quer organizar todas as katibas sob o comando do exército comum. A imagem dos rebeldes foi também manchada pelos relatos de pilhagens e retribuições contra civis apoiantes do Coronel Kadhafi em localidades conquistadas no Oeste do país.
À medida que a guerra na Líbia se aproxima do que poderá ser a sua última fase, o Governo de Transição tem tido dificuldades em apresentar uma frente unida. Em Benghazi, como no resto do território, o mais difícil poderá vir com o final da guerra.
Fonte: Ionline
O bairro está escuro, porque os cortes de electricidade são comuns, e a infra- -estrutura continua volúvel. Há fogo esporádico de metralhadora - entretenimento de alguns jovens que vigiam os checkpoints da cidade, disparando o seu aborrecimento para o ar ou celebrando as notícias dos avanços rebeldes a caminho de Trípoli.
Mazim Ramadan fuma hooka e bebe chá na esplanada sem luz, um pequeno intervalo antes de regressar ao trabalho durante o resto da noite. Este líbio residente nos Estados Unidos chegou a Benghazi um mês depois do início da revolução. "Pensei que o Kadhafi cairia mais rapidamente."
Como muita gente em Benghazi, este empreendedor começa a estar cansado do prolongamento da guerra. Ramadan fez a sua fortuna em Silicon Valley, criando start-ups e vendendo-as na altura certa. Foi chamado para ajudar na parte económica do governo provisório, trabalhando directamente com Ali Tarhouni, o ministro das Finanças e do Petróleo no governo de transição.
Mazim Ramadan tem orquestrado muita da ginástica financeira que tem permitido a sustentabilidade económica do que chamam a Líbia libertada: vendas de petróleo pagas a pronto, angariação de empréstimos utilizando os fundos líbios congelados no estrangeiro como garantia, envio de aviões cheios de dinheiro para as cidades conquistadas pelos rebeldes na região montanhosa de Nafouza, no Oeste do país.
Só recentemente é que o governo de transição conseguiu encontrar financiamento para começar a pagar aos funcionários públicos. "Vamos pagar agora os salários de Junho", explica Ramadan.
No meio da animação nocturna do Ramadão, Benghazi é uma cidade à espera do fim da guerra. Agora a preocupação é com a capital. Com a guerra a entrar no seu sétimo mês, a estagnação da ofensiva rebelde parece ter sido invertida com os avanços a Oeste. No entanto, isso também quer dizer que a guerra se aproxima da última etapa: a tomada de Trípoli.
Há vários cenários possíveis, desde uma capitulação relativamente pacífica do regime, a um violento embate urbano com um elevado números de vítimas civis. "As primeiras 48 horas serão essenciais", explica Ramadan. "Estamos a organizar petroleiros que ficarão ao largo e entregarão combustível à cidade imediatamente a seguir à tomada do controlo pelas forças da oposição. E queremos também ter a liquidez necessária para abrir o sistema bancário."
antes, é preciso ganhar a guerra Mas as primeiras questões são militares. Uma série de avanços por parte da oposição líbia no Oeste do país parece ter colocado os rebeldes na sua posição mais forte desde o início da insurreição. As forças opositoras ao regime de Muammar Kadhafi anunciaram ter tomado o controlo de Garyan, a sul da capital. Também na conquista de Zawya, 50 km a oeste de Trípoli, houve avanços, com os rebeldes a disputarem agora o centro da cidade com as forças governamentais, que a continuam a bombardear com mísseis Grad na frente Este, disse hoje uma fonte do Conselho Militar em Benghazi.
Se é certo que as várias vitórias dos rebeldes ao longo de toda a guerra foram sempre seguidas de contra-ataques por parte do exército líbio, a verdade é que se os rebeldes conseguirem assegurar o controlo completo de ambas cidades, a guerra entrará numa nova fase. Garyan e Zawya são a única ligação possível com a fronteira com a Tunísia, de onde as forças governamentais têm conseguido obter mantimentos e combustível.
Mesmo que os rebeldes consigam assegurar o controlo total destas duas cidades estratégicas nos próximos dias, a questão de como entrar na capital continua a ser uma incógnita. O governo de transição em Benghazi confirma que existem grupos de rebeldes já dentro da capital a aguardar o momento certo para entrar em acção, mas também é peremptório em afirmar que uma entrada das brigadas da oposição na capital terá de ser bem planeada.
A maior incógnita é perceber que tipo de resistência as forças de Kadhafi têm capacidade para montar. Brigadas do exército líbio ainda intactas, mercenários estrangeiros e o perigo real da existência de brigadas de civis armados, colocam um travão de pragmatismo nos avanços militares dos rebeldes.
A solução ideal para os chefes da rebelião é que um cerco efectivo à capital encoraje um levantamento interno e a implosão dos resquícios do regime. O coronel Kadhafi pode decidir negociar a sua saída, mas poderá também combater até ao fim. Um sinal de que o regime está cada vez mais enfraquecido veio com a fuga do ministro líbio do interior, Nassr al-Mabrouk Abdullah, para o Cairo, na segunda-feira passada.
Os avanços na frente de combate surgem no seguimento de semanas de instabilidade política no seio da rebelião. Após o misterioso assassinato de Abdul Fattah Younes, o líder militar da oposição, a 28 de Julho passado, crescem os receios de que a coesão das forças rebeldes seja enfraquecida por disputas tribais.
diferenças entre os rebeldes Na semana passada, o comité executivo do Governo Nacional de Transição foi demitido, numa tentativa de apaziguar as tensões. Em Benghazi fala-se de um distanciamento entre os advogados, que compõem a facção política da rebelião, e os jovens armados que lutam na frente, organizados em katibas (brigadas). Muitas katibas surgiram localmente e de forma informal, mostrando-se por vezes reticentes a aceitar o comando das chefes rebeldes em Benghazi.
Num Hospital de Misrata, um rebelde ferido disse ao i que durante combates na frente de Zliten, no início de Agosto, soldados enviados de Begnahzi para ajudar no esforço de guerra haviam recuado face ao avanço das forças governamentais, deixando muitos dos rebeldes de Misrata vulneráveis.
Para evitar este tipo de descoordenação o governo de transição quer organizar todas as katibas sob o comando do exército comum. A imagem dos rebeldes foi também manchada pelos relatos de pilhagens e retribuições contra civis apoiantes do Coronel Kadhafi em localidades conquistadas no Oeste do país.
À medida que a guerra na Líbia se aproxima do que poderá ser a sua última fase, o Governo de Transição tem tido dificuldades em apresentar uma frente unida. Em Benghazi, como no resto do território, o mais difícil poderá vir com o final da guerra.
Fonte: Ionline
1 Comentários
NAOMI KLEIN
Palestra/Documentário baseado no livro “The Shock Doctrine”
"Já tentou entender como o mundo chegou ao que hoje vivemos?"
Documentário dividido em 6 partes que mostram as causas e os efeitos do capitalismo neoliberal e imperialista na exploração fria e calculada em sua geopolítica de dominação.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/palestradocumentario-baseado-no-livro.html