Enquanto os EUA expandiam seu império mundialmente, até mais ou menos os
anos 1960, o faroeste os acompanhava: os filmes descreviam uma epopeia
de conquista territorial -o avanço ao Oeste, à custa dos índios, dos
mexicanos ou de quem mais aparecesse pela frente.
Essa epopeia, no entanto, foi bem mais do que isso. O faroeste lançou as
bases do homem americano e de seus valores.
Em parte, sugeria a
existência de uma luta perene entre bem e mal, pela conquista de nossa
alma. Os pistoleiros nos representavam nessa luta -os bons, claro.
Outros aspectos, mais discretos, nem por isso são secundários. Ali,
via-se um povo disposto ao sacrifício para colonizar a nação. Cada
agricultor era, a seu modo, um herói.
Havia também o homem que não suportava a vida urbana e seus
constrangimentos. Era o caubói, aquele que carrega o valor mais caro ao
ideário da América: liberdade. Tudo isso constituía um mito apto a
favorecer o amálgama de povos que formava essa nação de imigrantes.
Ao mesmo tempo, mostrava ao mundo o lado luminoso, digamos, desse povo.
Talvez isso explique a permanência do gênero que, para todos os efeitos,
surge em 1903, quando Edwin S. Porter apresentou ao mundo seu "O Grande
Assalto ao Trem".
Após ficar condenado aos seriados e pequenos filmes na Grande Depressão,
o faroeste reaparece com o perigo da guerra, em 1939. Mais tarde, o
gênero assume um tom mais amargo, permanecendo vivo até a Guerra do
Vietnã, quando todos os valores vão por água abaixo.
Os EUA que então se anunciavam -a América atual- talvez estejam mais bem
representados atualmente na América paranoica dos muitos apocalipses
anuais, das invasões alienígenas, dos perigos de fim que povoam a ficção
científica na era dos efeitos especiais.
E, mais realisticamente, nos duvidosos feitos da NSA ou nos horrores da prisão de Guantánamo.
Da Folha
Nota: enquanto isso a gente fica com a nossa mítica: Mulher, Futebol e cerveja...
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