Enquanto acusam Ocidente de ingerência, russos preferem se
distanciar, pelo menos publicamente, da crise ucraniana. Mas por trás
dos panos, Kremlin está cada vez mais
presente na política da antiga república soviética.
Moscou culpa o Ocidente pela recente escalada de violência em Kiev.
Para os russos, a crise na antiga república soviética é uma consequência
direta da política ocidental de apoio à oposição e, como disse nesta
quarta-feira (19/02) um porta-voz do Kremlin, tem como responsáveis
"apenas os extremistas" que buscam um golpe de Estado.
Desde que a violência escalou em Kiev nos últimos dias, Moscou agiu
de forma comedida ao menos publicamente. O presidente Vladimir Putin e o
chefe de governo Dimitri Medvedev não acenaram com qualquer intervenção
na crise, e representantes russos não viajaram para Kiev. Em outras
palavras, a Rússia vem evitando fazer o que representantes da União
Europeia (UE) e dos Estados Unidos fazem.
Em Moscou, as viagens de políticos ocidentais a Kiev são observadas
de forma crítica. "Não me parece muito correto e educado o fato de
emissários serem enviados diariamente", disse o chanceler russo, Serguei
Lavrov, no recente encontro com o ministro do Exterior alemão,
Frank-Walter Steinmeier, na Rússia. Putin declarou em janeiro que o
Kremlin "nunca se intrometeria" na Ucrânia, numa referência à
intromissão ocidental.
Reunião em solo russo
Desde o fim da União Soviética, há mais de 20 anos, Moscou nunca
esteve tão presente na Ucrânia. Só que os russos demonstram ter menos
influência pública que os europeus. As atividades russas ocorrem em
vários níveis. As reuniões dos russos com os políticos ucranianos
acontecem, de preferência, em Moscou.
O presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, se encontrou com Putin na
abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno no início de fevereiro em
Sochi. Os resultados dessa conversa não foram divulgados. Em janeiro,
alguns ministros ucranianos visitaram Moscou. No final de fevereiro, o
ministro do Exterior ucraniano deverá voar para a Rússia.
Desde o final de janeiro, Andriy Klyuyev é o chefe da Casa Civil em
Kiev. Alguns órgãos da mídia ucraniana e especialistas ocidentais
acreditam que isso fez com que a influência russa na política ucraniana
ficasse ainda mais forte.
Segundo o sueco Anders Aslund, especialista em assuntos ucranianos, a
relação entre Klyuyev e o Kremlin é bastante próxima. O chefe da Casa
Civil ucraniano trabalha diretamente com Vladislav Surkov, disse o
analista em entrevista ao jornal online de Kiev Ukrainska Pravda. Surkov
é o assessor de Putin para as relações com os países da Comunidade de
Estados Independentes (CEI).
Além disso, Serguei Glazyev, outro assessor de Putin, tem sido
bastante ativo em relação à Ucrânia. Ele é o responsável pela integração
no espaço pós-soviético. Em entrevista, ele instou indiretamente a
liderança ucraniana a agir com violência contra os manifestantes
oposicionistas.
Oficialmente, nada se sabe sobre as relações de Klyuyev com o
Kremlin. No entanto, ele é amigo de Viktor Medvedchuk, que foi chefe da
Casa Civil durante o governo Leonid Kuchma. Medvedchuk é amigo pessoal
de Putin. Na Ucrânia, Medvedchuk dirige o movimento "Eleição ucraniana",
que se esforça por uma aproximação dos dois países.
"Supõe-se que seu grande projeto seja coordenado com o Kremlin e
possivelmente financiado pela Rússia", diz o cientista político alemão
Andreas Umland, que vive em Kiev, sobre Medvedchuk.
Interesse na Crimeia
É particularmente evidente o aumento da influência russa na autônoma
República da Crimeia, região do sul da Ucrânia. Ali, os russos são dois
terços da população. Além disso, a frota russa do Mar Negro está
estacionada em Sebastopol.
A ONG Comitê de Coordenação de Sebastopol emitiu há poucos dias um
comunicado sobre uma possível separação da Crimeia caso haja um "golpe
de Estado" em Kiev. O deputado russo e presidente do partido Pátria,
Aleksey Zhuravlev, viajou à Crimeia para ali fundar a Frente Antifacista
Eslava Em Kiev, entendem-se os manifestantes oposicionistas por
"fascistas".
O semanário de Kiev Dzerkalo Tyzhnia escreveu na sua mais recente
edição que a Rússia abriu a "Frente da Crimeia". O semanário disse temer
uma escalada do conflito como em 2008 na República da Geórgia.
No final, a Crimeia poderia se separar da Ucrânia, advertiu a
publicação, acrescentando que esse perigo nunca foi tão grande como em
muitos anos. Por esse motivo, políticos da Crimeia viajam cada vez mais
para conversas em Moscou. Nesta quinta-feira, por exemplo, o presidente
do Parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, deverá ir à Rússia.
O analista político alemão Christian Wipperfürth, que trabalha para
a Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP), em Berlim, considera
exagerado o medo de uma possível separação da Crimeia. "Ninguém
questiona a integridade territorial da Ucrânia", diz. Segundo ele, a
Rússia não estaria interessada numa possível divisão da Ucrânia, porque
isso poderia servir de exemplo para outros países pós-soviéticos.
Também na imprensa
Também na mídia, a Rússia desempenha um grande papel na Ucrânia. Um
estudo apontou que mais de 22% dos ucranianos assistem à TV russa para
saber sobre os acontecimentos no próprio país. As emissoras russas falam
de uma "tentativa de golpe de Estado" inspirada pelo Ocidente na
Ucrânia.
"Nunca a Rússia dedicou tanto tempo de transmissão à Ucrânia", diz
Diana Duzya, da revista especializada em mídia Telekrytyka. "Isso mostra
que manter a Ucrânia em sua esfera de interesse é estrategicamente
importante para a Rússia."
Nas próximas semanas, a influência russa na mídia ucraniana deverá
aumentar ainda mais. Uma nova rádio de notícias FM passará a transmitir
para Kiev e outras cidades. O diretor de programação vem da Rússia.
Do O Povo
Uma pequena e relativamente desconhecida empresa holandesa, a ASML, fabrica
talvez o dispositivo não militar...
O post ASML: A empresa holandesa por trás...
Há 3 horas
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