Em 1864, três anos após o início da famosa Guerra Civil Americana, uma então nova ferramenta de combate navegou pelas águas escuras do porto de Charleston e acabou entrando para a história.


Mas só agora é que os pesquisadores e historiadores estão finalmente a ponto de juntar os fatos e descobrir o que realmente aconteceu com o submarino HL Hunley, em uma fatídica noite de fevereiro. 
 
 
O que está faltando para eles começarem os estudos de uma vez, como você pode ver pela foto acima, é um bom banho primeiro. 
 


O que foi o Hunley? 
 


O submarino Hunley provou ser uma verdadeira benção para a Confederação (unidade política formada por estados do sul dos Estados Unidos). 
 
 
Com cerca de 12 metros de comprimento e 7,5 toneladas, o semi-submersível foi o primeiro a afundar uma fragata (um tipo de navio de guerra) da adversária União (grupo político formado por estados do norte dos Estados Unidos). 
 

 
Esse feito comprovou a eficácia do projeto como arma de guerra. Com uma tripulação de apenas 8 homens, chegou a matar 21 adversários.


Mas nem tudo foram flores. O primeiro sucesso do Hunley foi também o seu ataque final. Porque assim que ele afundou o Housatonic, misteriosamente naufragou na costa de Charleston e seu paradeiro permaneceu desconhecido até 1995. 
 
 
Cinco anos depois de ter sido redescoberto não muito longe de uma rota marítima bastante movimentada, o Hunley foi ressuscitado do fundo do mar em um esforço amplamente divulgado em 2005, pelo grupo de conservação chamado Friends of Hunley (Amigos do Hunley, em tradução livre).


Como essa equipe de conservação explica muito bem em seu site, a preservação de um artefato como este é o objetivo maior e principal da instituição. 
 
 
No entanto, você deve estar fazendo as contas e se perguntando comigo: se o submarino ficou tanto tempo perdido, e ter encontrado ele foi assim tão emocionante, por que eles não lavam logo o bicho e descobrem de uma vez as respostas que tanto procuram?


Segundo a declaração desse mesmo grupo de conservação, apesar de toda a pressa em finalmente desvendar os mistérios que ali podem estar escondidos, eles não podem ir com tanta sede ao pote. 
 
 
Todo e qualquer objeto recuperado de um ambiente marinho deve ser colocado de volta na água o mais rápido possível antes que comece a secar ou reagir com o oxigênio do ar.


Sendo assim, o submarino HL Hunley foi imediatamente transportado do fundo do mar para o Centro de Conservação de Warren Lasch, nos Estados Unidos. Durante o caminho de oito horas, um mecanismo de aspersão o manteve sob umidade. 
 
 
Quando finalmente chegou ao laboratório, foi colocado em um tanque de metal, já cheio de água previamente refrigerada a uma temperatura de 10°C durante um período de 3 dias (tudo para retardar o crescimento de fungos e algas, bem como reduzir a taxa de corrosão). 
 
 
A qualidade da água no tanque é continuamente monitorada quanto ao seu pH, temperatura, cloretos, condutividade e nível de oxigênio.


Agora, o casco do submarino está sendo submetido a um sistema que inibe a corrosão, até que o interior seja totalmente escavado – trabalho que tem sido cuidadosamente desenvolvido ao longo dos últimos nove anos por conservacionistas e historiadores.


Eles têm juntado esforços para limpar os sedimentos acumulados ao longo de mais de um século e recuperar os corpos dos que morreram à bordo.
 




Primeiras descobertas


Durante esse trabalho, os pesquisadores foram capazes de descobrir no ano passado que o mastro responsável pelo afundamento do Houstonic tinham um comprimento de apenas aproximadamente 5 metros. 
 
 
Isso pode indicar que a distância teria sido muito curta para proteger a tripulação do Hunley da onda de choque resultando do impacto, e sugere que isso pode ter causado uma explosão. No entanto, um olhar mais atento ao casco será necessário para confirmar essa suspeita.


E é aí que nada menos que 76 mil litros de hidróxido de sódio entram na história.


O sal do mar, a areia, o cascalho e a vida marinha que infestaram o casco do Hunley ao longo dos últimos 100 anos não podem simplesmente ser raspados. Isso poderia danificar a estrutura antiga que está por baixo dessa grossa camada de “sujeira”. 
 
 
Então, ao invés de colocar tudo a perder, os conservacionistas planejam preencher o tanque de 76 mil litros de conservação da embarcação com uma mistura levemente corrosiva e deixar que o navio de molho por três meses. Isso deve ser suficiente para soltar sedimento sem comprometer o casco.


Após a escavação ser concluída, outros inibidores de corrosão serão usados no processo de conservação, para que o submarino (ou o que restou dele) fique estável para o desenvolvimento de estudos e análises. 
 
 

Próximos passos


Calcula-se que ainda serão necessários mais nove meses de lavagem e raspagem e mais quatro anos de conservação para retirar os sais do casco de modo que, eventualmente, ele possa ser colocado em exposição em um novo museu de North Charleston. 
 
 
Para o presidente da Comissão Hunley da Carolina do Sul (Estados Unidos), Glenn McConnell, esse processo nos permitirá viajar no tempo e poderá nos revelar o que aconteceu com o submarino no dia em que afundou.