Fonte: BBC

Mapa da Geórgia
A Ossétia do Sul quer se juntar à Federação Russa

As tropas da Geórgia cercaram a capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, nesta sexta-feira, depois de uma noite de intensos conflitos e ofensivas aéreas na região.

Os combates começaram poucas horas depois de acertado um cessar-fogo em conversações mediadas pela Rússia. Cada lado culpa o outro pela quebra do cessar-fogo.

Pelo menos 15 civis teriam sido mortos e há relatos de que os moradores estariam se escondendo em porões durante os conflitos.

O governo da Geórgia afirma que pretende encerrar o que chama de “um regime criminoso” e restabelecer a ordem na região.

Segundo o premiê georgiano, Lado Gurgenzide, as operações militares na Ossétia do Sul irão continuar até que seja estabelecida a “paz estável”.

“Assim que a paz estável for conquistada, iremos seguir adiante com o diálogo e com as negociações pacíficas”, afirmou.

A violência despertou temores de uma nova guerra na volátil região do Cáucaso.

A ONU convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para discutir a escalada da tensão na região, mas o encontro fracassou em emitir um comunicado pedindo a renúncia do uso da força dos dois lados.

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Conflito

O embaixador russo da ONU, Vitaliy Churkin, descreveu a ofensiva da Geórgia como uma “traição”.

De acordo com a emissora de televisão russa Vesti TV, ele teria afirmado durante a reunião emergencial do Conselho de Segurança que a situação na zona de conflito teria atingido um “ponto dramático”.

Moscou, que apóia os separatistas da Ossétia do Sul, pediu que a comunidade internacional trabalhe em conjunto para “evitar o derramamento de sangue maciço e novas vítimas”.

O premiê russo, Vladimir Putin, que está na China para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, afirmou que a Rússia irá reagir às “ações agressivas” da Geórgia.

Soldados russos na Ossétia do Sul
Soldados russos na Ossétia do Sul

O Kremlin afirmou ainda que irá defender os cidadãos russos que moram na região do conflito.

Há relatos de que centenas de combatentes da Rússia e da outra região separatista da Geórgia, a Abkházia, estariam se dirigindo à Ossétia do Sul para ajudar as forças separatistas.

A Geórgia acusa a Rússia de armar os rebeldes da Ossétia do Sul, que tentam a separação desde a guerra civil da década de 90, quando a região declarou sua independência. Moscou nega essas acusações.

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A Rússia está insatisfeita com a ambição da Geórgia de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança de defesa ocidental), e acusou o país de concentrar suas forças em torno das regiões separatistas, onde tropas de paz russas estão estacionadas.

Conflito

Depois da queda da União Soviética, em 1991, a Geórgia votou pela restauração da independência que havia brevemente experimentado durante a Revolução Bolchevique.

No entanto, a postura nacionalista refletiu em problemas com a região norte da fronteira da Geórgia, habitada pelos ossetas – um grupo étnico distinto natural das planícies russas, ao sul do rio Don.

A Ossétia do Sul fica do lado georgiano da fronteira, enquanto a Ossétia do Norte fica em território russo. Apesar disso, os laços entre as duas regiões permaneceram fortes e o movimento pela independência osseta foi estimulado pelas dificuldades enfrentadas na época dos czares, no período comunista até atualmente.

Quando a Geórgia se separou da União Soviética, o governo nacionalista proibiu o partido político da Ossétia do Sul, o que levou os ossetas a boicotarem a política georgiana e realizarem suas próprias eleições – pleito que foi considerado ilegal pela Geórgia.

Os conflitos entre os separatistas e as forças georgianas começaram nesta época, mas o Exército da Geórgia não exterminou os rebeldes ossetas por medo de uma intervenção russa.

A Ossétia do Sul proclamou sua independência em 1992, mas sua autonomia não foi reconhecida pela comunidade internacional. A região quer ser agregada à Federação Russa, assim como a Ossétia do Norte.

A situação está frágil desde 1990 e se agravou ainda mais há quatro anos, quando os georgianos começaram a realizar operações policiais e de combate ao contrabando na região.


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Entenda as tensões entre Rússia e Geórgia

Fonte: BBC

Mapa

As relações entre a Rússia e a Geórgia são complicadas desde o colapso da União Soviética, em 1991.

Os piores problemas estão normalmente associados a conflitos regionais - os conflitos na Ossétia do Sul e na Abecásia e a guerrilha na Chechênia.

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De maneira geral, muitos georgianos acusam a Rússia de imperialismo, enquanto a Rússia critica a Geórgia por nacionalismo e por adotar uma política externa anti-Rússia.

A Rússia tem sido muito crítica de "revoluções" populares como a da Geórgia, que foi bem-sucedida graças ao apoio que os ativistas receberam do Ocidente.

Quaisquer que sejam as diferenças entre os dois países, a Rússia abriga uma comunidade de pelo menos 1 milhão de georgianos, e muitas famílias na Geórgia, uma nação com 5 milhões de habitantes, dependem do dinheiro que os parentes enviam para casa.

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Como têm sido as relações entre os dois países recentemente?

Elas atingiram seu pior momento em 2006, quando a Rússia proibiu a importação dos principais produtos da Geórgia - vinho, água mineral e laranjas - alegando questões de saúde.

Para piorar, o ministro da Defesa da Geórgia, Irakli Okruashvili, disse na televisão que "na Rússia pode-se vender até fezes" - um comentário que deixou os russos enraivecidos.

Naquele outono, a Geórgia prendeu quatro oficiais do Exército russo baseados em Tbilisi sob acusação de espionagem e expulsou-os do país.

A Rússia retirou seu embaixador da Geórgia e depois deportou pelo menos 130 georgianos alegando questões de imigração.

As relações pareciam estar melhorando no final do ano, quando os países resolveram a questão delicada de quanto a Geórgia devia pagar por seus suprimentos de gás e a Rússia esvaziou seu quartel general em Tbilisi.

O embaixador de Moscou voltou para Tbilisi em janeiro de 2007.

Mas Moscou manteve uma suspensão no tráfego aéreo entre os dois países, acusando Tbilisi de estar em dívida no pagamento de serviços de tráfego. A Rússia também manteve a proibição à importação de vinhos da Geórgia.

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Quão antigas são as tensões entre os dois países?

Elas começaram antes mesmo do colapso da União Soviética, quando o nacionalismo na Geórgia começou a se tornar uma poderosa força política.

Houve um momento crucial em abril de 1989, quando os militares soviéticos usaram a força para reprimir manifestações pró-independência, matando 19 pessoas.

Desde então, Moscou - seja como capital da União Soviética ou da Rússia - tem sido vista por muitos georgianos como inimiga da independência da Geórgia.

É verdade que a Rússia tem um histórico de tentar enfraquecer a independência da Geórgia?

Durante o conflito na região separatista da Abecásia, que começou em 1992, ano seguinte à independência da Geórgia, foram divulgados vários relatos confiáveis de que as forças russas ajudaram os separatistas. No entanto, é mais provável que esta política tenha sido coordenada por comandantes militares em terreno do que pelo Kremlin.

Muitos georgianos suspeitam que os pacifistas russos enviados à Abecásia e à outra região separatista da Geórgia, a Ossétia do Sul, são ferramentas para preservar a influência russa na região. Mas, se eles parecem ameaçadores para os georgianos, da perspectiva dos habitantes da Abecásia e da Ossétia do Sul, eles são uma garantia essencial contra uma possível agressão por parte da Geórgia.

Os georgianos culpam o ex-chefe de segurança da Geórgia Igor Giorgadze por pelo menos duas tentativas de assassinato contra o ex-presidente Eduard Shevardnadze (1992-2003).

Giorgadze foi para a Rússia em meados da década de 1990 e fundou um partido político georgiano pró-Rússia em 2003. Vários militantes do partido foram presos em setembro de 2006, acusados de planejar um golpe contra o presidente Mikhail Saakashvili.

Quando um oleoduto que levava gás russo à Geórgia explodiu em janeiro de 2006, o presidente Saakashvili acusou a Rússia de “sabotagem”. A Rússia classificou essa acusação de “histeria”.

A Geórgia tentou estabelecer boas relações com a Rússia?

Houve períodos durante a década de 1990, sob a liderança de Eduard Shevardnadze, em que as relações eram relativamente amistosas.

No entanto, a Geórgia sempre manteve a Rússia à distância. Por outro lado, também cortejava a Otan, os Estados Unidos e outras potências ocidentais.

A Geórgia foi uma das fundadoras do grupo des países GUAM (Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldávia), criado como parte dos esforços para contrapor a influência da Rússia na região.

Também participou dos esforços apoiados pelo ocidente para criar um “corredor” de energia do Cáucaso ao Mar Cáspio, contornando o território russo.

Desde a Revolução Rosa, em 2003, que levou Saakashvili ao poder, as relações ficaram mais tensas ainda.

A Rússia ainda tem tropas na Geórgia?

A última base russa, no porto de Batumi, deve ser fechada até o fim de 2008.

Quando jornalistas da Rádio Liberdade a visitaram em outubro de 2006, eles disseram que a base se resumia a “duas famílias e cinco soldados”.

Os soldados russos permaneceram na Geórgia depois do colapso da União Soviética, quando as bases militares soviéticas foram transferidas para a Rússia.

Qual foi o papel da Geórgia no conflito da Chechênia?

A Rússia acusou algumas vezes a Geórgia de apoiar os rebeldes chechenos, e sabe-se que os rebeldes recebiam suprimentos e reforços pelo território da Geórgia.

Sabe-se também que os rebeldes se refugiaram no desfiladeiro de Pankisi, do lado georgiano da fronteira, onde há uma comunidade étnica chechena.

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O auge das tensões foi em 2002, com a Rússia ameaçando lançar ataques contra os rebeldes. A Geórgia, então, tomou medidas para estabelecer a ordem em Pankisi e concordou em unir as patrulhas da fronteira.

O Exército russo continua a conduzir operações contra os rebeldes chechenos, incluindo ataques aéreos na região montanhosa da fronteira, e o governo de Moscou ainda é freqüentemente acusado de violar o espaço aéreo georgiano.