Nesta fotografia, descaradamente posada para fins de propaganda, juntam-se dois dos mais proeminentes Marechais-de-Campo alemães da Segunda Guerra Mundial, Gerd von Rundstedt (1875-1953), à esquerda, em representação dos seniores, e Erwin Rommel (1891-1944), em representação dos juniores. Há 16 anos a separá-los, assim como um desdém recíproco que é mais conhecido da parte de Rundstedt que junto dos homens do seu “staff” não se inibia de tratar o seu camarada desdenhosamente por bubi marschall (marechal bebé), por causa da sua ascensão fulgurante. Mais discreto, o desdém de Rommel exprime-se e esconde-se numa condecoração que ele usa por detrás das Cruzes de Ferro que ambos envergam: a Pour Le Mérite, a condecoração mais prestigiada da Alemanha imperial, conferida por excepcionais feitos de bravura em combate, e a que Rundstedt nunca poderia aspirar por ter passado a Primeira Guerra Mundial principalmente nos papéis, em funções de estado-maior. 

Mas, mais do que diferentes concepções de prestígio – aquilo que o primeiro consideraria arrivismo e o outro meritocracia – são as concepções tácticas que os separam em Dezembro de 1943, data da fotografia: como reagir ao mais do que provável desembarque dos Aliados que se espera na Frente Ocidental nos próximos meses (terá lugar a 6 de Junho de 1944). Rommel quererá travar os invasores ainda nas praias, antes que eles se consigam organizar; Rundstedt considera que o momento crucial será outro e é para esse que é preciso estar preparado: quando das ofensivas que os Aliados serão forçados a desencadear após os desembarques. Para o desenrolar da Campanha da Normandia terá prevalecido a concepção de Rundstedt, mas o desfecho não teria sido muito diferente nem muito menos sangrento da forma preferida por Rommel. Que se tome isso como uma lição para quem espera uma inflexão política significativa na Alemanha depois das próximas eleições deste próximo Outono.