Em uma operação tão cara e complexa quanto a aviação comercial, tempo faz toda a diferença. Turbinas de companhias aéreas dos Estados Unidos, da Arábia Saudita, da Coreia do Sul e de outros países viajam milhares de quilômetros em busca de qualidade e, especialmente, agilidade. Estamos falando de dias de diferença: na GE Celma a entrega dos motores é feita em até 65 dias, enquanto a média global pode ultrapassar os 80 (Veja o infográfico sobre a revisão). O prazo competitivo, no entanto, é apenas uma das qualidades que tornaram a empresa referência na aviação mundial.
Em média, a cada 15 mil ciclos – cada ciclo corresponde a uma decolagem e um pouso, independentemente da distância percorrida –, turbinas precisam fazer uma pausa para a revisão. A oficina brasileira é a responsável por essa operação: retira e entrega o motor na casa do cliente e cuida de toda a complicada logística de transporte porta a porta.
O relógio começa a correr no momento em que o motor deixa a asa do avião (confira no infográfico da próxima página as etapas do processo de manutenção). Após desembarcar em Viracopos, Campinas (SP), a turbina viaja de caminhão até o porto seco de Resende (RJ), onde é feito o desembaraço alfandegário. De lá, segue para Petrópolis.
Para cumprir o cronograma apertado, a fábrica trabalha em três turnos, com fluxo contínuo de produção. A verticalização é uma aliada importante: 90% dos reparos são feitos na própria oficina, o que ajuda a controlar a qualidade e otimizar o tempo. “Nosso processo interno é muito eficiente, o que torna a empresa mais ágil. E agilidade é fundamental, pois 95% do nosso volume de trabalho vem do exterior. A maioria das oficinas espalha as peças pelo mundo e espera voltar”, explica Julio Talon, presidente da GE Celma. “Um dos segredos do que a gente faz aqui é não deixar que o cliente, nos Estados Unidos, por exemplo, perceba que nossa oficina está a mais de oito mil quilômetros de distância.”
A logística apurada e a precisão na oficina são virtudes reconhecidas internacionalmente. A fila de turbinas à espera de manutenção é longa, e a empresa deve abrir 100 novos postos de trabalho nos próximos meses. A projeção para este ano é revisar 400 motores, 11% a mais que em 2014.
Ilha de excelência
Um motor aeronáutico chega a ter 12 mil peças. A tecnologia é uma ferramenta fundamental, mas revisão e manutenção exigem muito da habilidade manual de técnicos, mecânicos e engenheiros. O sucesso na oficina é um reflexo do investimento em mão de obra qualificada (um mecânico aeronáutico leva cerca de quatro anos para ser treinado) e na permanência desses profissionais na empresa. Na GE Celma, a média do tempo de casa gira em torno dos 13 anos.
“A GE Celma é uma das poucas empresas que realiza todas as atividades envolvidas no processo de revisão – e isso simplifica muito o processo para o cliente”, diz Alexandre Silva, presidente do Conselho de Administração da Embraer. “É o que chamamos de one stop shop, uma característica muito importante, mas que, claro, não explica tudo. A GE Celma tem um corpo de funcionários fantástico, composto por pessoas muito bem treinadas, que trabalham com orgulho e prazer”, completa.
Quem começa a trabalhar lá assiste a uma série de palestras. Uma delas é feita pelo presidente Julio Talon, na empresa há 29 anos, e discute o tripé da competitividade formado por qualidade, prazo e custo.
Mas não é só discurso. A ideia é dividir essas preocupações com todos os níveis hierárquicos. Um exemplo são os custos. Para preservar peças sensíveis, funcionários ajudaram a criar soluções internas que já começam a fazer a diferença. No ano passado, durante um transporte dentro da oficina, a queda de uma peça sobre outra resultou em um prejuízo da ordem de R$ 1 milhão. O problema virou solução: a equipe desenvolveu soluções de proteção para evitar novos choques.
A utilização de ferramentas de gestão como o Six Sigma (conjunto de práticas para aprimorar o processo de produção) e o Lean (com foco na diminuição do desperdício) faz parte desse esforço para tornar as células mais funcionais e diminuir atalhos na oficina.
Novos voos
Há quatro anos a empresa começou a montar os motores CF34 para equipar aviões da família 190 da Embraer. Segundo Talon, a experiência bem-sucedida com a Embraer foi determinante para atrair o contrato da estatal chinesa Comac, fechado no ano passado. O contrato prevê a montagem de 30 motores que irão equipar o avião ARJ21. Duas unidades já foram entregues. A expectativa é que esses motores façam o caminho inverso e voltem à serra fluminense para manutenção, daqui a alguns anos. “A GE Celma é a maior exportadora de serviço de alta tecnologia do país. Todo mundo só importa da China, mas nós exportamos até para lá”, diz Talon.
Para os próximos cinco anos, a meta é investir 100 milhões de dólares em projetos de expansão. O primeiro passo foi dado no ano passado com a inauguração de uma nova planta, a GE Celma II, destinada à montagem de novos motores e revisão dos motores GEnx. O motor GEnx é o mais moderno da GE Aviation, equipando o Boeing 787, e a fábrica petropolitana é a segunda oficina habilitada a trabalhar na revisão do modelo, além da GE Caledônia, na Escócia.
“Nossos grandes desafios para o futuro são manter o portfólio, trabalhar para o crescimento no volume de revisão da linha GEnx e assim consolidar a abertura do mercado europeu, asiático e do Oriente Médio.”

DE Epoca