Crescimento dos Brics já atrai investidores de todo o mundo, diz "Financial Times"
Da Redação do UOL - Em São Paulo
O crescimento dos países que compõem o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) estimado para o final de 2010 é de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, mas a economia chinesa, em especial, deverá ultrapassar a norte-americana em 2027. Estas projeções otimistas feitas por bancos de investimentos têm sido responsáveis por atrair boa parte dos investimentos estrangeiros para os Brics, afirma reportagem publicada nesta terça-feira no jornal "Financial Times". Segundo a publicação, é justamente a oportunidade de crescimento do capital de longo prazo desses países que os gerentes financeiros e seus clientes não devem ignorar. A expansão dos Brics, que no ano passado responderam por 30% da economia global e por 47% do crescimento mundial, tem sido alimentada, de acordo com o "FT", pela demanda internacional e doméstica. De 1970 para 2006, a fatia das exportações globais referente aos mercados emergentes passou de 20% em 1970 para 42% em 2006, em função do bom desempenho dos Brics. Para o futuro, o Brasil está entre as melhores apostas dos economistas pelo mundo. Neste ano, a previsão é de que o crescimento da economia supere o da China. Este fato deve apoiar o mercado de ações brasileiro, tornando o Brasil menos vulnerável ao que vier a acontecer na economia mundial em 2009. Por outro lado, o "FT" afirma que os gestores de investimentos precisam ficar atentos sobre a real capacidade de expansão que estes países emergentes possuem, para dirigir corretamente os investimentos de seus clientes.
Matthew Vincent
Fonte: UOL
Foi em novembro de 2001 que Jim O'Neill, um economista do Goldman Sachs, cunhou o termo atualmente usado para descrever o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, países emergentes de rápido crescimento, no artigo econômico "Buiding Better Global Economic Brics" (algo como "Construindo Melhores Tijolos Econômicos Globais". Na criação do termo "Brics", o autor jogou com o homófono "bricks", ou tijolos). Ele argumentou que, até o final da década, estas quatro economias poderiam representar mais de 10% do produto global bruto. Em apenas seis anos, o banco de investimento reformulou drasticamente aquela previsão. Em novembro passado ele previu que a economia chinesa ultrapassaria a dos Estados Unidos por volta de 2027, que a Índia alcançaria a economia norte-americana até 2050 e que as quatro nações, como um grupo, superariam o G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) em 2032. Assim, apesar de todo o recente debate a respeito da "desconexão" entre os mercados Bric e o Ocidente e a subseqüente "reconexão" durante a retração de crédito, estas são oportunidades de crescimento de capital de longo prazo que os gerentes financeiros - e os seus clientes - não podem ignorar. A história do crescimento dos Brics já está circulando por todo o mundo. No ano passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculou que os Brics e os mercados emergentes que eles estão ajudando a alimentar respondiam por 30% da economia global, e por 47% de todo o crescimento mundial - sendo a China o maior contribuidor, com o Brasil, a Rússia e a Índia não muito atrás. Mas não são só as commodities e a produção industrial de baixo custo que estão impulsionando este crescimento. Segundo a Reuters, é na Índia e nas economias asiáticas emergentes que está instalado quase 26% do mercado global de serviços de tecnologia da informação, e esta percentagem está aumentando em um ritmo anual mais rápido do que os dos serviços de tecnologia da informação nos mercados desenvolvidos. Esse crescimento é alimentado tanto pela demanda internacional quanto pela doméstica. As economias Bric ajudaram a expandir a fatia das exportações globais referente aos mercados emergentes de 20% em 1970 para 42% em 2006, de acordo com a revista "Professional Wealth Management". Ao mesmo tempo, os fluxos de capital para os Brics e os mercados emergentes atingiram níveis recordes, e o Instituto de Finanças Internacionais anunciou que os investimentos estrangeiros diretos nestes países saltou de US$ 167,4 bilhões em 2006 para US$ 255,6 bilhões em 2007, em uma expansão de mais de 50%.
Na verdade, desde que o termo Brics surgiu pela primeira vez no léxico do setor de wealth management (administração de patrimônio e riqueza), os fluxos de investimentos têm alimentado os mercados de ações desses países emergentes. De novembro de 2001 e novembro de 2007, o mercado de ações do Brasil cresceu 369%, o da Índia 499%, o da Rússia 630% e o da China 201%, caso se use como parâmetro o mercado de "A-shares", ou 817% pelo Hang Seng China Enterprise Index.
Com mercados de ações tão robustos, não é de se surpreender que os países Bric tenham respondido por 39% das ofertas públicas iniciais (IPOs) mundiais no ano passado, o que representa um aumento de 32% em relação a 2006. Assim, para os investidores privados, a maneira mais óbvia de obter exposição a esses mercados é por meio dos fundos de ações ativamente administrados. Michael Konstatinov, gerente de fundos da empresa alemã de seguros e serviços financeiros Allianz, afirma que os países do Bric estão exibindo sinais de desaceleração em 2008. Ele argumenta que esses países continuarão sendo cruciais para o crescimento econômico global, com o Brasil alcançando o mais intenso crescimento econômico e a maior expansão das exportações, a Rússia compensando os menores fluxos de capitais com os elevados preços do petróleo, a Índia alavancada pelo maior consumo interno e a China mantendo índices de crescimento do produto interno bruto acima de 10%, graças aos preços flutuantes das suas commodities domésticas e os custos baratos de frete. "Acredita-se que o Brasil terá melhor desempenho do que a China em 2008", afirma Konstantinov. "Acreditamos que isto deverá apoiar os preços dos ativos e especialmente o mercado de ações no Brasil, tornando o país menos vulnerável ao que ocorrer na economia global no ano que vem". Mas alguns wealth managers, ou administradores de investimentos e riqueza, questionam o momento da entrada dos gerentes de retail funds os Brics. Graeme Currie, do Alan Steel Asset Management, diz: "A questão agora é saber qual é o vigor que estes países ainda possuem. Será que as taxas de expansão sem precedentes são sustentáveis? A indústria de serviços financeiros possui um histórico notável no que se refere a alçar os fundos de nichos rumo ao extremo superior da parábola - pensem no setor de tecnologia, de fundos de saúde e de propriedade comercial". Currie ainda concorda que os gerentes de retail funds mais experientes devam escolher bem as ações e capitalizar novos crescimentos desses países. Atualmente, porém, os bancos privados estão sugerindo formas de se obter uma exposição mais no estilo institucional e com gerenciamento de capital de risco. A UBS utiliza imóveis, private equity e produtos estruturados vinculados a commodities e moedas para proporcionar aos seus clientes a exposição aos Brics. "Sabemos para onde o navio está navegando, só que a rota pode ser meio tempestuosa" , explica Gavin Rankin, diretor de consultoria de produtos e serviços da UBS Wealth Management no Reino Unido. "Portanto, usamos uma perspectiva de longo prazo e pensamos em diferentes classes de ativos". Os investimentos em imóveis são feitos por meio de um fundo especializado que diversifica a exposição em um conjunto de gerenciadores de fundos. Este fundo pode fazer investimentos oportunistas na construção de propriedades residenciais e comerciais, nas áreas dos países Bric que se beneficiam da expansão da atividade econômica e da classe média. A exposição às equities privadas pode ser proporcionada em vários setores, do capital de risco ao capital de crescimento, das compras de direitos às companhias em apuros. Mas é no capital de crescimento que a UBS enxerga mais oportunidades - a empresa fechou no ano passado um fundo global que investia em "companhias que tentavam chegar ao próximo estágio" e conta com uma alocação de recursos de 25% na Índia. "Isto é outra coisa que os clientes adoram", afirma Rankin. "É algo que tem um horizonte de longo prazo, e que se baseia em um tema de longo prazo de fato atraente: a emergência de gigantes". Recursos cambiais e de commodities são investidos por meio de produtos estruturados a fim de garantir proteção de capital. Esses investimentos oferecem uma oportunidade baseada nas moedas dos Bric, que estão se fortalecendo em relação ao dólar. Os preços dos produtos agrícolas também estão fortes, algo que está vinculado à tendência dos países Bric de adotar dietas mais ocidentais. "Os clientes estão investindo em diversos produtos estruturados baseados em índices de alimentos", explica Rankin. "O interesse inicial foi dos clientes que enxergaram nisto um tema de investimento - talvez eles tivessem sido expostos a tal setor nos seus próprios negócios. Mas esta prática está também embasada em pesquisas sólidas". Os clientes da UBS podem até contar com a oportunidade de investir em um fundo destinado à compra de terras para atividade agropecuária na América Latina, investir na estrutura produtiva da propriedade e sair após sete anos por meio de venda ou ofertas públicas iniciais. "Nós usamos alguns fundos de ações", admite Rankin. "Mas é possível se expor a alguma volatilidade de curto prazo. Assim, a maioria dos clientes expõe-se aos mercados emergentes por meio de produtos estruturados. Eles apreciam a idéia, mas não estão preparados para perder tudo neste setor". O Barclays Wealth também adota uma abordagem mais institucional ao oferecer aos seus clientes oportunidades na América Latina, na Índia, na China e na Europa Oriental. Ele usa somente fundos de longo prazo cuja exposição está alinhada com o mercado, juntamente com investimentos de longo prazo em private equities, imóveis e infraestrutura. Barbara-Ann King, diretora de produtos alternativos do Barclays Wealth, explica: "Muitas vezes os clientes não são capazes de obter acesso a essas oportunidades por conta própria, e é preciso que os seus investimentos sejam profissionalmente gerenciados. O acesso a tais produtos de qualidade institucional é proporcionado aos clientes privados via 'feeder funds' com níveis de entrada mais baixos". No momento, o Baclays Wealth está de olho especialmente nos setores de infra-estrutura e de imóveis na Índia, e nos de agricultura e infra-estrutura na América Latina. A instituição também acredita que as cidades adjacentes na China parecem ser viáveis para investimentos no setor imobiliário e de infra-estrutura, e está monitorando as oportunidades. "Os produtos serão fornecidos em grande parte por uma estrutura clássica de private equity com investimento de dez anos", afirma King. O Credit Suisse sugere uma abordagem de menor custo. "Uma das maneiras mais fáceis e baratas, mas igualmente efetiva, de fazer tal coisa é por meio dos exchange traded funds (ETFs, ou fundos de investimento em índice com cotas negociadas em bolsa ou mercado de balcão organizado)" , argumenta Paul Sarosy, diretor de administração e de soluções de investimentos do banco. Ele observa que atualmente os investidores podem comprar imediatamente um ETF ou criar as suas próprias carteiras Bric de acompanhamento dos índices de países individuais. "Essas são algumas oportunidades de longo prazo extremamente empolgantes, de forma que estamos tentando fornecer soluções de investimentos a todos os investidores" , diz Nick Shellard, diretor de desenvolvimento de negócios do iShares no Reino Unido e na Suíça. O que o FTSE Bric 50 do iShares é capaz de fazer é acrescentar diversificação a qualquer carteira de investimento, evitando riscos de ações específicas, e permitindo aos investidores alocar os seus orçamentos de risco em outros mercados nos quais acreditem que sejam capazes de alcançar um 'retorno alfa'. Isto é algo que pode ser usado pelo maior fundo de pensões, por fundos de hedge de dinheiro rápido ou por investidores individuais". O iShares também fornece ETFs individuais referentes ao Brasil e à China, e mais um fundo recém-lançado que acompanha o JPMorgan Emerging Market Bond Index. No entanto, para obter uma exposição diversificada em todas as classes de investimentos dos Brics, os investidores ainda precisam recorrer a uma firma de wealth management. "O objetivo do wealth manager é, acima de tudo, proteger o investimento do cliente", afirma Sarosy. "Com a nossa estrutura aberta, podemos encontrar oportunidades que não estão disponíveis para os investidores individuais 'afluentes'" .
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